A reunião foi realizada no sábado, 30 de maio de 2009, no centro gastronômico de arquitetura rústica, entrada de terra, com pedregulhos, árvores, quiosques, etc. denominado “Vila do Jardineiro”, localizada na Avenida Eliseu de Almeida 1077 – Caxingui – Butantã – São Paulo SP – tel 3726 2908, com a presença dos confrades Alexandre Furniel, Clóvis Pavan, Jeriel, Waldir Gandolfi, José Luiz, Lucas Garaldi e como convidado Jeriel T. Costa.

A degustação realizou-se dentro do espaço arborizado e ajardinado “Vila do Jardineiro”, espécie de mini-sítio ou vila campestre que reúne algumas variadas opções em restaurantes, mas com todo o conforto que o paulistano aprecia.

Merecem menção especial o atendimento e a recepção atenciosa do “Cabaña” , além do impecável serviço do vinho desempenhado pelo experiente garçom Pereira, eis que tudo transcorreu com tranquilidade, sem os habituais atropelos, confusões, serviço que pode ser considerado muitíssimo superior ao de algumas casas já habituadas em receber confrarias porque os vinhos foram servidos rigorosamente na ordem, na temperatura de serviço e sem necessidade de orientações constantes porque houve agilidade e o imprescindível cuidado no manuseio das taças e garrafas.

Sobre a casta escolhida: Syrah ou Shiraz?

É uma cepa clássica francesa que foi transplantada em vários lugares do mundo para rivalizar com seus vinhos de referência. É uma das grandes uvas que chegaram aos nossos dias. Controverte-se sobre a origem dessa uva. Aguinaldo Záckia Albert, com maestria nos ensina que: “alguns acreditavam que sua origem era siciliana, tendo tomado emprestado seu nome da cidade de Siracusa. Mais recentemente duas hipóteses disputam a maioria de seus adeptos. Há os que acreditam que esta cepa tenha sido trazida, por cavaleiros cruzados, da antiga Pérsia (Irã) para o sul da França, podendo seu nome ter se originado da cidade iraniana de Shiraz, termo utilizado hoje pelos australianos para designar a uva. Porém, a hipótese que vem ganhando maior corpo é a de que se trata de uma uva francesa autóctone do Ródano, descendente da Vitis allobrogica, produzindo vinhos finos na região desde os tempos da denominação romana, como menciona o historiador Plínio em suas obras”. Os crus mais reputados e importantes elaborados com ela são os Hermitage e Côte-Rôtie. Destaca-se também em Saint-Joseph, Crozes-Hermitage e Cornas. No sul do Ródano é cortada com Grenache, Mourvèdre, Marsanne e a Cinsault, entre outras. Igualmente, está presente no Gigondas e Châteauneuf-du-Pape e conforme menciona a Larousse do Vinho, pág. 145, 1ª edição, 2004, existem treze cepas autorizadas na composição desse último pela respectiva AOC e a Syrah pode entrar ou não no corte, vai depender do produtor.

Sua produção é regular e abundante e nos vinhos comuns a sua grande virtude é a de contribuir com notas picantes tornando interessante um corte sem personalidade. Caracteriza-se por apresentar notas defumadas e concentradas, tais como especiarias (pimenta do reino), frutas maduras escuras (framboesa, amora e groselha), alcaçuz, couro, caça e alcatrão, empireumáticos (tostados), notas florais como violeta e em algumas regiões discreto toque de hortelã.

No Novo Mundo, destacou-se enormemente na Austrália, Vale Barossa, onde são encontradas as maiores (é a uva mais plantada) e mais antigas plantações de Shiraz (aqui ela recebe esse nome). Sua mistura com a Cabernet Sauvignon proporciona um vinho macio, fácil de beber, maduro e aromático. Todavia, os Shiraz australianos não mesclados são potencialmente superiores. Nestes, por sua vez, o que prevalece é o caráter achocolatado, com sugestões de menta. Normalmente são suculentos, duráveis, como provam os Penfolds Grange. O mesmo se pode dizer dos Shiraz de Hunter Valley. Já nos Shiraz cultivados nas regiões mais frias (Victoria), aparecem toques condimentados que lembra a Syrah do norte do Ródano.

Na Argentina e no Chile essa uva tem ampla participação, principalmente na Argentina onde é mais plantada, porém, no Chile é que são alcançados os melhores resultados. Segundo Saul Galvão, “a Syrah está há muito tempo na Argentina, onde nos terrenos mais quentes até pouco tempo dava colheitas imensas e vinhos bem comuns. Só recentemente começou a aparecer nos rótulos de bons tintos argentinos”; mais adiante, falando sobre os Syrah chilenos Saul arremata: “na edição de 2002 do prestigioso GVC – Guia de Viños de Chile, havia apenas catorze vinhos com essa uva. Hoje, já são mais de 60, feitos em 2.468 hectares distribuídos em várias zonas, notadamente no Vale do Rapel e Colchágua”.

Na África do Sul e na Califórnia, essa uva tem produzido vinhos interessantes, tal como o Sul-africano Glen Carlou Paarl 2004, que esbanja tipicidade e que teve um ótimo desempenho na degustação abaixo comentada, que por sinal foi muito disputada e que exigiu muita atenção dos degustadores.

Assim sendo, vamos à classificação geral dos Syrah do Novo Mundo numa degustação que demonstrou o elevado nível de qualidade atingido por três Syrah chilenos, que enfrentaram com valentia três australianos, um argentino e um Sul-africano que se sagrou vice-campeão. Novamente os chilenos se sagraram vitoriosos, corroborando a feliz aposta de muitos vinhateiros nessa casta, cujo principal terroir é o Vale de Colchágua, com destaque para Apalta. Na segunda colocação um Syrah de Paarl,  África do Sul, que mais uma vez confirmou o prognóstico de que se constitui na principal casta tinta, desempenhando papel até mesmo superior à da onipresente Cabernet Sauvignon com inegável perda de espaço da uva nativa Pinotage, que ainda tem importância nos vinhos mais baratos e nos cortes.

O Pódio:

1º. lugar – Montes Alpha Syrah  2003 (un ano de barrica francesa)Vale de Colchagua – 14% álcool – Importador: Mistral – Preço de aquisição em 30.03.2006 : R$ 70,50 (preço atual para safra 2006: R$ 88,23) –  Rubi violáceo intenso e profundo sem halo de evolução. Nariz opulento, com especiarias, frutas vermelhas (groselha), madeira nobre, tostado, defumado e uma pontinha animal (caça). Mostrou ótima sustentação aromática e depois de algum tempo apresentou os mesmos aromas com uma ponta floral sem a tradicional nota de goiabada, pelo que, em nenhum momento denunciou a sua origem. Intenso, macio e profundo na boca, com taninos aveludados próximos de seu auge, acidez balanceada e perfeito equilíbrio dos elementos taninos, álcool e acidez. Vinho de perfil moderno, sem os habituais excessos de extração ou de madeira. Termina do mesmo jeito que começou: sem nenhuma aresta, esbanjando fruta, elegância e longa persistência. Seguramente um dos melhores exemplares chilenos dessa casta, quase imbatível na sua faixa de preço e com mais dois importantes atributos: sua consistência e regularidade. Estruturado, ainda tem de três a cinco anos de vida pela frente. Nota: 91/100 pts. +

2º. lugar – Glen Carlou Syrah 2004 – Paarl – 14,5% álcool  – Importador: Grand Cru – Preço: R$ 115,00 (safra 2005) – data de aquisição: 11.05.2006 – Rubi violáceo intenso e profundo sem halo de evolução. Nariz frutado com ameixas e framboesa secundadas por notas tostadas e de café.  Boca macia, potente, taninos polidos, vinho profundo com toque picante e de chocolate. De ótima tipicidade,é uma prova de que essa casta se adaptou bem ao terroir da África do Sul. Vinho de equilíbrio no tripé álcool, taninos e acidez. Boa fruta sobre um discreto fundo picante, como convém. Longo, termina suave e com boa persistência. Não tem a tradicional nota química ou de borracha sentida em alguns vinhos Sul Africanos. Beber nos próximos dois anos. Preço elevado. Nota: 89-90/100 pts. +

3º. lugar – Emiliana Syrah Reserva Especial (orgânico) 2001Vale de Colchagua  – 14% álcool – Importador: Magna Import – Preço: R$ 104,28 (safra atual 2003 por R$ 99,00) – Rubi violáceo intenso e profundo com halo de evolução. Nariz complexo com notas tostadas, defumadas, especiarias e algum herbáceo. Fruta e madeira em comunhão. Boca densa com taninos presentes de qualidade boa e leve rugosidade. Acidez adequada e média profundidade gustativa, com notas picantes da casta. Vinho estruturado e potente com ligeira aspereza no fim de boca a indicar que mais algum tempo de garrafa (somente mais um ano) lhe fará muito bem porque foi produzido com uvas de safra considerada exemplar no Chile. Vinho de boa tipicidade, porém, de preço um tanto elevado. Nota: 88/100 pts.

Os demais:

4º. lugar – Rutherglen Victoria Shiraz 2004 14,5 % álcool – Importador: Best Wine Ltda. – Preço: R$ 58,00  – data de aquisição: junho de 2008 – Rubi violáceo intenso e profundo sem halo de evolução. Nariz com predomínio de notas vegetais sobre um fundo tostado e de fruta em compota. Melhor na boca: amplo, de boa densidade, maciez aliada à potência, corpo bom, leve toque picante, taninos em profusão a lhe conferir muita força no palato, madeira com leve prevalência sobre a fruta e final longo e persistente. Esbanja tipicidade e tranquilamente agüenta no mínimo uns dois anos na garrafa. Foi o vinho de melhor relação preço-qualidade da degustação. Nota: 87/100 pts.  ++

5º. lugar – Mount Pleasant Single Vineyard Rosehill Shiraz 1998 14% álcool – Importador: Best Wine Ltda. – Preço: R$ 80,00 – data de aquisição: junho de 2008  – Rubi violáceo intenso, profundo com halo de evolução e reflexos granadas. Nariz unidimensional com leve vinagrinho que depois apresentou uma incrível evolução para frutas negras em compota, mentol e especiarias. Boca superior ao nariz com notas de frutas negras e taninos no melhor ponto de evolução, porque não deverá evoluir. Acidez ótima. Muito fino na boca com um toque de madeira e chocolate. Termina com suavidade e grande persistência. Beber já, porque já dá sinais de cansaço. Nota: 86-87/100 pts.

6º. lugar – Ventisquero Reserva Syrah Vale do Maipo 2003 – 14% álcool – Importador: Cantú  – Preço: R$ 39,80 (safra atual 2006) – Rubi violáceo de média profundidade com halo de evolução. Nariz vegetal típico de alguns vinhos do Maipo com notas de goiabada em compota. Média tipicidade.  Melhor na boca do que no nariz: macio, redondo, curto (falta-lhe estrutura e um pouco mais de fruta), taninos bem maduros, média concentração de sabor e acidez compatível. Termina suave e com alguma sobra de álcool.  Relação preço-qualidade correta. Beber já. Nota: 86/100 pts. 

7º. lugar –  Lindemans Bin 50 Shiraz  200513,5% álcool – Importador: Expand – Preço: R$ 59,00 (safra atual 2006) – data de aquisição: 14.03.2007  – Rubi violáceo intenso e profundo com halo de evolução e ligeira turbidez. Nariz de pouca expressão a indicar um vinho de baixo frescor com discretas sugestões de alcaçuz e canela. Boca com inequívocos sinais de cansaço, com leve prevalência da acidez, pouca fruta e sobra de madeira. Estruturado, de corpo bom e taninos duros em evidência. Termina com aspereza e ligeiro amargor, mas deve melhorar com comida. Tem tipicidade, mas deve ser bebido já porque não vai evoluir. Esperava mais desse vinho, porque não é tão velho assim e nas safras anteriores tinha bastante fruta. Nota: 85/100 pts. 

8º. Lugar – Delicato Califórnia Shiraz  2004  – 13,5% álcool – Importadora: World Wine  preço: R$ 48,00 – Rubi violáceo intenso com leve halo de evolução. Nariz unidimensional com notas vegetais e uma leve sugestão química. Boca semelhante ao nariz, sem complexidade, taninos macios, baixa acidez e de baixa persistência. O seu auge já passou. Apresentou poucas características da casta no olfato e na boca. Bebível, porém, de baixa tipicidade.
Nota: 84/100 pts.  

9º. Lugar – Bodega Eral Bravo – Urano Syrah Mendoza 14,8% álcool – Importadora: Best Wine – preço: R$ 48,00 – Rubi violáceo de média profundidade sem halo de evolução. Nariz quase defeituoso com pano molhado que depois cedeu nota vegetal. Boca inexpressiva, taninos rudes, franco desequilíbrio no tripé álcool (elevado), taninos (duros) e acidez (elevada). A madeira tripudiou sobre a fruta, num conjunto desequilibrado e pouco interessante, porque lhe faltou fruta, estrutura e tipicidade. Não pode ser considerado um vinho representativo da casta na Argentina, porém, bebível desde que acompanhado de uma carne bem suculenta. Nota: 80/100 pts.

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