A reunião foi realizada no sábado, 27.06.2009, no Restaurante “Santa Gula – Arte e Gastronomia”, Rua Fidalga, 340 fundos – Vila Madalena – São Paulo SP – tel 3812 7815 (inativo), com a presença deste redator, Clóvis Pavan, HK, Romeu,  José Luiz e Lucas.

  

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Para chegar ao restaurante, percorre-se um longo corredor ornamentado por bananeiras. As mesas distribuem-se pelas salas dessa antiga casa de fundos. Todo o mobiliário, assim como peças de decoração, lustres e até copos, está à venda. O cardápio segue a linha moderna. Foi preparado um menu especial denominado “Menu Confraria” constituído de couvert (pães, torradas, lascas crocantes e patês, tudo fresquinho), entradas (quatro opções: casquinha de siri, saladas de tomates marinados, folhas e lascas quebradas, bolinho crispy de batata e caldinho de feijão), prato principal (escondidinho de carne seca – uma das especialidades da casa) e sobremesa: cesta de frutas vermelhas com mousse de tapioca, frutas da estação e brownie com sorvete de canela.

 

Merecem menção especial o atendimento e a recepção atenciosa do Santa Gula na pessoa de sua sócia-proprietária, do Gerente  e o competente serviço do vinho desempenhado pelo garçom Sebastião Flaurindo, eis que tudo transcorreu com tranquilidade, sem os habituais atropelos, confusões, serviço que pode ser considerado superior ao de algumas casas já habituadas em receber confrarias porque os vinhos foram servidos rigorosamente na ordem, na temperatura de serviço e sem necessidade de orientações constantes.

 

Assim, a conclusão é de que o Santa Gula é uma opção viável para reunião de confrarias de vinhos, porque além do preço razoável (é só combinar com a Dani: dani.chamecki@uol.com.br ou Alan: alan.santagula@uol.com.br) para esse tipo de evento, não houve a cobrança de rolha, prática comum em diversos estabelecimentos e tanto o serviço do vinho como a comida são dignos de reconhecimento. 

 

Sem mais delongas, vamos à classificação geral dos malbecs numa degustação bastante equilibrada a demonstrar o elevado nível de qualidade atingido pelos vinhos chilenos, que enfrentaram com valentia os argentinos que se sagraram vitoriosos (pódio: 1º e 3º lugares), corroborando a assertiva de que a principal casta do país platino é mesmo a malbec. Já no país andino essa degustação é uma prova de que os vinhateiros que optaram por cultivá-la estão no caminho certo porque as amostras provadas superaram as expectativas dos presentes.  Na realidade, a conclusão a que chegamos está bem próxima da manifestação que segue: “engana-se quem pensa que os bons tintos sul americanos da uva malbec são exclusividade das adegas argentinas. Do outro lado da Cordilheira há também bons exemplares dessa casta tinta francesa, que tão bem se adaptou aos terrenos meridionais do continente” – Jorge Carrara, portal Basílico – 04.01.2005

 

O exemplar uruguaio escorregou na tipicidade e o nacional Don Laurindo Malbec 2005 confirmou o bom desempenho apresentado em outras degustações e se firma como ótima opção de malbec produzido no Brasil.

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O Pódio:

 

1º. lugar – Don Nicanor Malbec 2004 – 14,5% álcool – Lujan de Cuyo – Importador: Casa Flora – preço:  R$ 62,30 (Carrefour) – Rubi violáceo intenso e profundo sem halo de evolução.Nariz intenso, com violetas, madeira nobre, tostado, café torrado e frutas negras (ameixas). Mostrou boa sustentação e depois de algum tempo apresentou traço aromático típico dos malbecs argentinos, com leve chocolate. Intenso e profundo na boca, taninos já amaciados, acidez equilibrada, termina suave e elegante. Ótima tipicidade.  Vinho pronto e na sua melhor forma. Estruturado, ainda aguenta dois/três anos na garrafa. Seu contra-rótulo informa que: “Distinguido varietal de color rojo profundo, su característico aroma frutado, em equilíbrio com el ahumado que lê da su guarda em barricas roble francês, lê confieren elegância y personalidad. A la boca se presenta com armonía y buena estructura”.

Nota: 88,5/100 pts. +

 

 

2º. lugar – Viu Manent Reserva Malbec 2005 – 14,5% álcool – Vale de Colchágua – Importador: Hannover – preço: R$ 80,00 –  Rubi violáceo intenso e profundo sem halo de evolução. Nariz floral com violetas exprimindo boa tipicidade, frutado com ameixas e framboesa em evidência e um discreto toque de compota (goiabada). Boca macia, aveludada, taninos em profusão de qualidade muito boa. Tem boa fruta sobre um discreto fundo de chocolate, porém, a madeira ainda está perceptível. Longo, termina com pequena adstringência que não chega a incomodar. Retrogosto vegetal. Precisa de mais tempo na garrafa.  No contra-rótulo consta que: “Carvalho francês e americano por 14 meses. Nariz: cerejas maduras, ameixas e chocolate e café. Paladar: amoras, couro e alcatrão. Grande estrutura, taninos macios e bem incorporados que conduzem a um longo e persistente final. – Medalha de Ouro no Concours Mondial  Bruxelles 2007”. Nota: 88/100 pts. ++

 

 

3º. lugar – Santa Julia Malbec 2006 –  13,5% álcool – Mendoza –Importador: Expand – preço médio: R$ 29,90 (Carrefour) – Rubi violáceo intenso e profundo sem halo de evolução. Nariz complexo com notas balsâmicas, ameixas e leve chocolate. Boca espessa com leve rugosidade, madeira a dar espaço à fruta presença, acidez adequada e média profundidade gustativa. Os taninos ainda presentes e a ligeira aspereza no fim de boca indicam que mais algum tempo de garrafa lhe fará muito bem porque foi produzido com uvas de safra considerada exemplar na Argentina. Dividiu com o vinho seguinte o título de “best buy” da degustação. Boa relação preço-qualidade. Nota: 87/100 pts. +

 

 

Os demais:

 

4º. lugar – Carta Vieja Reserve Malbec 2005 – 13% álcool – Vale de Loncomilla – 13% álcool – importador: Malbec do Brasil – preço médio: R$ 29,50 (Sonda) – Rubi violáceo intenso sem halo de evolução. Nariz com predomínio de notas vegetais, discreto floral sobre um fundo de frutas negras. Boca surpreendente, macia, de boa densidade,  corpo bom, taninos presentes de qualidade muito boa e razoável equilíbrio entre madeira e fruta. Às cegas passou por argentino com folga. Faltou-lhe um pouquinho mais de complexidade gustativa. É um vinho de Loncomilla, que é uma sub-região do Vale do Maule, ao sul do Vale Central, região de grande extensão de vinhedos e apontado como possuidor de alguns dos parreirais mais antigos do Chile (cerca de trezentos anos), inclusive com o cultivo de cepas misturadas. Vinho detentor de interessante relação preço-qualidade. Nota: 86,5/100 pts.  

 

 

 

5º. lugar – Don Laurindo Reserva 2005 – 13,5% álcool –  Vale dos Vinhedos – Serra Gaúcha –  preço médio: R$ 45,00 – Rubi violáceo intenso e com discreto halo de evolução. Nariz doce, intenso com sugestões de geléia de frutas vermelhas e discreta nota de café. Boca macia, taninos prontos, bom equilíbrio gustativo e algum açúcar residual. Boa tipicidade da casta no Brasil, talvez não seja exagero afirmar que é o melhor malbec produzido nessas bandas. Levemente curto, termina sem arestas e não apresenta potencial de evolução na garrafa. Tem condições de sustentar o sabor frutado por mais um ou dois anos no máximo. Vale à pena ser provado. No contra-rótulo consta que: “20.000 garrafas produzidas – 008271  consumir em até seis anos”. Nota: 86/100 pts.  

 

 

6º. lugar – Santa Helena Premium Varietal 2005 – 14% álcool – Vale de ColcháguaImportado por: InterfoodPreço médio – R$ 39,80 – Rubi violáceo com alguma profundidade e leve halo de evolução. Nariz com frutas vermelhas, leve baunilha e fruta em compota (goiabada). Boca macia, curta (falta-lhe estrutura), média concentração de sabor e acidez baixa. Bom vinho, mas falta-lhe tipicidade porque tem caráter unidimensional. Termina com alguma adstringência. Nota: 85/100 pts. +

 

 

7º. lugar – Terrazas de Los Andes Reserva Malbec 200613,5% de álcoolMendozaImportador: Chandon do Brasil – Preço médio: R$ 80 – Rubi violáceo intenso e profundo com reflexos púrpuras. Nariz típico da casta com notas de frutas negras, especiarias e madeira de boa qualidade. Boca macia, taninos prontos, corpo magro, sobra de álcool e pouca concentração de fruta (discreta). Termina sem aspereza e sem amargor, todavia tem baixa persistência olfativa e gustativa. Amadurece 12 meses em barris de carvalho 80% francês e 20% americano. Nota: 84,5/100 pts. 

 

 

8º. lugar – Cot Rouge Lacrado Reserva Malbec  2006 – 11,2% álcool – Depto. La Cruz/Florida – Uruguai – engarrafado em 01/2008 –  Importador: Rede Zaffari – 11,2% álcool – Preço médio: R$ 11,50 – Clarete com halo de evolução, este malbec uruguaio não exibiu a cor normal da casta apontada como tintureira em Bordeaux. Nariz no mesmo diapasão, com toques terrosos e de “cantina”. Boca simples, leve, magra, taninos prontos, pouca complexidade, boa acidez, ausência de fruta e de tipicidade. Termina simples e seus maiores atributos são a apresentação esmerada e o preço. Não tem a tipicidade que se espera da casta. Por sua estrutura é um vinho para acompanhar pratos leves. Nota: 83/100 pts.  

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