No último sábado (06.06.09), realizou-se no Hotel Grand Hyatt de São Paulo, o evento “Paladar do Brasil” que teve por objetivo “A cozinha brasileira e seus ingredientes, técnicas, tradições e perspectivas de futuro mostrada através de workshops e aulas ministradas por profissionais mundialmente renomados, além de série de almoços, jantares e degustações especiais”.

Gostamos do Chile, mas existe um país que gostamos mais que é o BRASIL, nossa terra natal.
Existe um país que gostamos que é o BRASIL, nossa terra natal.

Pois bem. Um desses eventos me chamou atenção por dois fatores: a degustação “a safra 1999 dos vinhos gaúchos dez anos depois” e o seu condutor, o Expert ex-diretor da SBAV-SP, degustador de diversas publicações e atualmente apontado como um dos maiores conhecedores dos vinhos nacionais.

Como é da sua característica, escolheu criteriosamente os vinhos para a degustação, muitos deles da sua própria adega particular e outros conseguidos junto aos respectivos produtores. Diante da importância do evento cedi duas garrafas: Aurora Millésime Cabernet Sauvignon 1999 e Casa Valduga Cabernet Sauvignon Reserva 1999. Todavia, diante do número expressivo de cabernets (5) e para não prejudicar a participação de vinhos de merlot na degustação, corretamente excluiu o cabernet Valduga e mesmo assim a degustação ainda contou com a expressiva quantidade de doze rótulos dentre eles cinco cabernets, três merlots, dois blends, um pinot noir e um tannat.

A degustação foi didática e completa porque meticulosamente preparou a sua apresentação, com fartos dados técnicos sobre as safras brasileiras desde 1999 até 2008 e importantes informações sobre a produção dos vinhos naquela época e que foram escolhidos para a degustação. Como jurados este redator, Ralph Schaffa, César Adames, Didú Russo, Márcio Marson (que se absteve de votar no próprio vinho), Luiz Horta, Álvaro Cézar Galvão entre outros.

Abaixo segue a avaliação dos vinhos ressaltando que são impressões pessoais:

1º. Marson Gran Reserva Cabernet Sauvignon 1999
Cor: granada com turbidez e sendimentos em suspensão.
Nariz: evoluído, levemente oxidado com notas terrosas e animais com média intensidade.
Boca: o seu ponto alto. Pleno no meio de boca, taninos aveludados e rigorosamente no seu melhor ponto de evolução. Ótima acidez, madeira perfeitamente integrada, notas de frutas secas, especiarias, perfeito equilíbrio do tripé álcool, taninos e acidez. Vinho prazeroso, intenso e profundo cujo estilo evoca um Bordeaux da margem esquerda. Às cegas dificilmente seria descoberta a sua procedência. Deve ser bebido já.
Nota: 91/100 pts.

1º. Pizzato Merlot 1999
Cor: granada brilhante com ligeira turbidez.
Nariz: o mais complexo e rico do painel com sugestões de geléia de frutas vermelhas secundadas por uvas passificadas. Excelente sustentação desses aromas na taça.  Depois de algum tempo cedeu espaço para notas terrosas, caramelo e leve balsâmico.  A sua paleta aromática chegou a lembrar um Valpolicella Ripasso.
Boca: subscrição integral do nariz com presença de frutas vermelhas maduras, equilíbrio na relação fruta e madeira e toda tipicidade da casta revelada na maciez de seus taninos e no prazer proporcionado no palato. Chega a ser guloso.  Termina sem arestas. Vinho que também se encontra no auge, mas que ainda tem alguma sobrevida porque ao amadurecer na garrafa simplesmente fez as pazes com o tempo porque evoluiu muito bem.
Nota: 91/100 pts.

2º. Miolo Lote 43 – 1999
Cor: rubi intenso com alguma profundidade e halo de evolução.
Nariz: fino, complexo, com notas animais (couro) e herbáceas.
Boca: na entrada já revela um vinho solidamente estruturado, com taninos em profusão de qualidade muito boa, leve prevalência da madeira sobre a fruta sem incomodar, equilíbrio no tripé álcool, acidez e taninos. Longo, intenso e profundo, ainda tem muitos anos de vida pela frente quando certamente ficará mais harmônico.
Nota: 90/100 pts. ++

3º. Don Laurindo Tannat 1999
Cor: rubi brilhante na transição para granada.
Nariz: evoluído com notas herbáceas e sugestões de framboesas.
Boca: estruturada, taninos potentes de ótima qualidade, carnudo, mastigável, de acidez salivante, fruta e madeira em comunhão, leve chocolate e ao final uma pequena ponta de adstringência que não chegar a incomodar. Um vinho que pede comida e que ainda tem potencial de amadurecimento na garrafa. Boa relação preço-qualidade.
Nota: 89/100 pts. +

4º. Lovara Grande Reserva Cabernet Sauvignon 1999
Cor: rubi violáceo de média intensidade e discreto halo de evolução.
Nariz: toques de madeira fina, balsâmico, licor de cassis, ameixas. Boa tipicidade.
Boca: estruturada, taninos presentes de boa qualidade, fruta ainda presente e madeira sem incomodar. Longo no palato termina sem desequilíbrio. Já está no auge e portanto deve ser bebido já. Vinho consistente e  bastante regular.
Nota: 88-89/100 pts.

5º. Salton Classic Reserva Especial Cabernet Sauvignon 1999
Cor: rubi violáceo límpido e brilhante com discreto halo de evolução.
Nariz: herbáceo com leves notas animais (caça).
Boca: limpa, ligeira e surpreendente, porque apresentou taninos de boa qualidade, sugestões frutadas como amoras e ameixas, madeira integrada (três meses em carvalho americano), ausência de amargor ou adstringência.  Não vai evoluir porém suporta mais um ou dois anos na garrafa.  Vinho bem feito de excelente relação preço-qualidade.
Nota: 87/100 pts.

6º.  Casa Valduga Excelence Merlot 1999
Cor: Rubi granada brilhante de média intensidade
Nariz: fruta madura, leve balsâmico e notas de caramelo (barrica).
Boca: macia, redonda, taninos evoluídos, notas de frutas secas, corpo adequado, boa acidez e final com discreto amargor que não chega a incomodar.
Nota: 86-87/100 pts.

7º. Aurora Millésime Cabernet Sauvignon 1999
Cor: rubi com leve turbidez e halo de evolução.
Nariz: destacou-se por sua complexidade com notas de caça, algum terroso e “sous bois”. Boa persistência.
Boca: potente com taninos presentes de média qualidade, sobra de álcool e madeira tripudiando sobre a fruta. Apesar disso é um vinho que tem tipicidade porque tem as notas de pimentão da casta e que agüentou bem esses 10 anos sem dar sinais de cansaço. Potente, tem estilo com amplo leque de seguidores. Termina com alguma rusticidade. Não vai evoluir, mas agüenta algum tempo na adega se bem conservado e deve crescer com um bom churrasco.
Nota: 86/100 pts.

8º. Dal Pizzol Merlot 1999
Cor: Granada com leve turbidez.
Nariz: Terroso e vegetal com leve nota de sous bois.
Boca: ainda em forma, com prevalência de notas vegetais, álcool na medida, corpo bom com leve sobra da acidez e quase sem fruta. Termina com alguma adstringência. Vinho que dividiu opiniões porque chegou a ser apontado por alguns dos presentes como um dos destaques da degustação.
Nota: 85-86/100 pts.

9º. Don Laurindo Gran Reserva 1999
Cor: rubi violáceo intenso e profundo com reflexos granada.
Nariz: o mais fechado do painel com discretas notas vegetais.
Boca: potente, densa, tânica (boa qualidade), madeira sobre a fruta, boa acidez. Depois de algum tempo evoluiu e apareceu fruta em compota. Termina com leve amargor mas tem condições de amadurecer mais algum tempo na garrafa porque é um vinho bem estruturado. Será que se encontra no período de dormência ?
Nota: 85/100 pts.

10º. Miolo Reserva Pinot Noir 1999
Cor: granada com turbidez
Nariz: discreto herbáceo, notas carameladas, chocolate e sous bois. Boa complexidade.
Boca: taninos resolvidos com prevalência da acidez a lhe conferir boa tipicidade. Na boca inequívocos sinais de cansaço a denunciar que o seu auge já passou, mas certamente já foi um grande vinho, porque na degustação realizada na SBAV-SP em 26.02.2008, estava bem melhor: “vinho elegante que mostrou toda tipicidade da casta no Novo Mundo e que por ter sido produzido na espetacular safra de 1999 arrebatou a primeira colocação com bastante folga, numa peleja que contou com a participação de exemplares alsacianos, argentinos, chilenos e até neozelandeses”. É preciso dizer mais alguma coisa?
Nota: 83/100 pts.

Desclassificado: Marco Luigi Cabernet Sauvignon Reserva de Família 1999 porque estava oxidado.

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0 thoughts on “Vinhos Nacionais da safra 1999”

  1. Jeriel, bom saber que o Pizzato Merlot e o Lote 43 1999 ainda estão com essa bola toda! Estou com uma garrafa de cada na adega e planejo abri-las ainda este ano. Abraço!

    1. Paulo,

      O Pizzato Merlot 99 já está no auge e não vai evoluir então vc já pode abrí-lo, quanto ao Lote 43 apresentou ótima estrutura e ainda aguenta uns 2 ou 3 anos ou até mais, vai depender da conservação e da integriade do líquido, porque como vc bem sabe cada garrafa é uma surpresa diferente….mas é um grande vinho nacional, bem feito, prazeroso e de longa guarda.

      abraço

      Jeriel

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