priorato

Recentemente quem escreve essas linhas foi convidado de José Luiz Pagliari e Luiz Horta, para participar da degustação promovida pelo caderno “Paladar” do Estadão de “vinhos nacionais da safra 1999.” A degustação foi tão interessante que resultou na matéria de 8 de junho deste blog. Lá, o leitor verificará que houve empate na primeira colocação entre o Marson Gran Reserva Cabernet Sauvignon 1999 (91/100 pts.) e o Pizzato Merlot Reserva 1999 (91/100 pts.).

 

Na referida degustação, a conclusão foi de que os bons vinhos nacionais suportaram bem o decurso de uma década e o Pizzato Merlot 1999 confirmou o ótimo desempenho apresentado anteriormente, o que demonstra a aptidão dessa vinícola no manejo da Merlot, uma das uvas de melhor adaptação ao terroir da Serra Gaúcha.

 

 

Pois bem. A sugestão partiu do pessoal do Le Vin ao Blog (levinaublog.blogspot.com), porém, a resenha do 31º vinho provado para a Confraria Brasileira de Enoblogs só sai agora por conta da dificuldade de encontrar o Pizzato Merlot 2005 aqui na região oeste da Capital Bandeirante. O motivo é que por conta da figura jurídica denominada substituição tributária, em Minas Gerais, por exemplo, conforme informação do Confrade Gil Mesquita do excelente vinhoparatodos.blogspot.com,  o imposto  chega a 25,85% e o vinho pode ser comprado por cerca de R$ 35; aqui em São Paulo, chega próximo aos 42% e acredito que por isso aliada às margens de lucro elevadas, seu preço chegue a custar absurdos R$ 45,00 até R$ 49,00. Por isso alguns comerciantes mais idôneos não querem trabalhar com vinhos nacionais dessa categoria, isto é,  por conta do preço exagerado que terá de vendê-los.

 

  

Justificativa: a escolha da safra 2002 como vinho do mês, já que a safra atual é a 2005.

Durante muitos anos quem escreve essas linhas foi leitor da coluna de vinhos do Estadão e em 23.04.2004 foi elaborado por Saul Galvão um painel com quatro merlots nacionais. O melhor vinho foi o Pizzato Reserva Merlot 2002, que mereceu 86/100 pts, na época nota bem acima da atribuída a seus pares da Serra Gaúcha.

Estimulado pelo mencionado artigo, comprei na loja da amiga Jane Senna (abaixo mencionada)  uma garrafa que estava praticamente esquecida na minha adega e que só pode ser localizada porque tinha certeza de possuir um Pizzato Merlot, mas não me recordava bem da sua safra, que por sinal foi ótima na Serra Gaúcha.

 

   

Degustação do Pizzato Merlot Reserva 2002 –

Cor rubi de média intensidade com reflexo granada. Aroma inicial de forte sugestão mentolada e eucalipto encobrindo a fruta, que discretamente se fez presente através de uma leve nota de geléia de amoras. Álcool generoso (12,9%). Na boca, inicialmente apresentou taninos duros e acidez elevada, todavia, após quase trinta minutos o quadro evoluiu e mudou para melhor, a indicar a necessidade de decantação: taninos com leve adstringência (dentro do aceitável), acidez presente, corpo médio, madeira e fruta madura (compota de ameixas) com leve prevalência da primeira sobre a segunda. Curto e com doçura no meio de boca (álcool elevado), termina com alguma rugosidade e no retrogosto uma sugestão de chocolate amargo e mentol. Suportou bem o decurso de sete anos sem demonstrar sinais de cansaço e ainda agüenta mais tempo na garrafa, mas não ganhará complexidade porque está num bom momento para ser bebido. Por fim, saliento que tem tipicidade porque conseguiu expressar o caráter varietal da cepa.

Avaliação: 85/100 pts. 

Preço: R$ 30,50 (em 06/2004 na Toque de Vinho, tel 011 3083 2669) ou  www.pizzato.net

 

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0 thoughts on “Vinho do mês de julho de 2009: Pizzato Reserva Merlot”

  1. Jeriel, o cálculo do imposto aqui em Minas é feito assim: o lojista compra uma garrafa que custa $100, por exemplo. Para encontrar o valor do ICMS, aplica-se sobre esse valor uma alíquota de 51,4%, chamada IVA (índice de valor agregado), que é uma estimativa da “margem de lucro” que o comerciante terá, segundo o GOVERNO. Sobre o valor encontrado ($151,40), calcula-se 25% de ICMS, ou seja, $37,85. Desse valor, subtrai-se o “crédito tributário”, que é o valor que o remetente (vinícola ou importadora) já recolheu na origem. Por exemplo, se for do Rio Grande do Sul, recolhem 12% na origem. Como nossa garrafa custa $100, foram recolhidos $12 na origem, que diminuídos dos $37,85, sobram $25,85 para recolher. Assim, a Substituição Tributária chega a 25,85% do valor da garrafa, aqui em Minas. Abraço.

    1. Gil,

      De fato, com a aplicação do instituto da substituição tributária muitos comerciantes tem aumentado o preço de alguns produtos porque simplesmente não concordam com o arbitramento da margem de lucro
      pelo governo. É uma discussão muito ampla, porque se de um lado aqui no Estado de São Paulo a substituição tem sido eficaz no combate à sonegação de impostos, por outro tem criado algumas distorções nos preços. Veja o resultado da pesquisa feita hoje cedo no Carrefour do Shopping Butantã (SP), na qual comparo um bom e consistente merlot nacional com seus congêneres chilenos (nota: exclui propositadamente os argentinos, porque a merlot não tem a mesma importância naquele país na elaboração de vinhos varietais como no Chile e no Brasil; lá ela é utilizada principalmente nos cortes com cabernet e malbec) :

      Miolo Reserva Merlot 2006 – R$ 36,90
      Cousiño Macul Don Luis Merlot 2007 – R$ 36,90
      Trio Merlot 2006 – R$ 36,90
      Léon de Tarapacá Merlot 2007 – R$ 35,90
      Casilero Del Diablo Merlot 2007 – R$ 32,90
      Santa Rita 120 Merlot 2007 – R$ 28,90
      Santa Helena Siglo de Oro merlot 2007 – R$ 26,90
      Emiliana Merlot 2007 – R$ 22,90
      Gato Negro Merlot 2007 – R$ 16,90

      Da lista acima facilmente concluímos que o vinho nacional está numa faixa que o coloca no mesmo nível de alguns vinhos chilenos que são quase
      imbatíveis na relação qualidade-preço….não que o vinho nacional seja ruim; ao contrário, acredito que a vocação da Serra Gaúcha seja mesmo o cultivo da merlot, porque ela amadurece bem e normalmente sua colheita ocorre antes do período das chuvas. Talvez por isso já temos produtos que estão demonstrando boa consistência (Salton Desejo, Merlot Terroir, etc..) a cada nova safra e bom desempenho nos concursos que participam.

      Modestamente, também não podemos olvidar que além da tributação excessiva que cria distorções nos preços, muitos produtores nacionais trabalham com margens elevadas de lucro e disso não querem abrir mão (já vimos essa discussão em outros setores da atividade econômica), pregam apenas que o governo faça a sua parte e que depois o “mercado” se acomode…

      Bom, o assunto é bastante controvertido e a verdade é que enquanto não houver um debate amplo entre produtores, importadores e o governo, com concessões de todos interessados, os vinhos nacionais de boa procedência continuarão a ter pequena participação nas gôndolas dos supermercados.

      Abraço

      Jeriel

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