Palestra de guilherme Corrêa durante a degustação: didática e objetividade
Palestra de Guilherme Corrêa durante a degustação: didática e objetividade

Na noite de 20 de outubro de 2009, o Sommelier Guilherme Corrêa, conduziu nas dependências da Enoteca Decanter em São Paulo, localizada na Rua Joaquim Floriano 838, Itaim Bibi, telefone 11 3073 0500, uma degustação de vinhos da região francesa do Rhône do festejado produtor Jean-Luc Colombo.

Sobre Guilherme Corrêa: natural de Belo Horizonte, recebeu o título de sommelier da Associazione Italiana de Sommeliers – AIS, na Toscana, Itália.  Em 2006, foi escolhido o melhor sommelier do Brasil e repetiu essa façanha em 2009.  Por isso, foi o representante do Brasil no concurso “Concurso Panamericano de Sommeliers”, realizado em maio ultimo na Argentina e chegou a ser finalista. Atualmente, é Diretor Técnico da Importadora Decanter, redige catálogos, “garimpa” novos produtores, organiza cursos, conduz degustações e jantares harmonizados. Tornou-se referência no tema enogastronomia.

Sobre o Vale do Rhône: É uma região produtora francesa de grande disparidade climática. Enquanto que o Norte é mais frio (clima temperado de influência continental com bruscas mudanças de temperaturas) e uma única cepa responde por sua produção (Syrah), o Sul é quente, fértil e nele pontificam diversas castas como a própria Syrah, Grenache, Mouvèrdre, etc. No Norte o solo é predominantemente rochoso e por conta do declive e da erosão, são necessários terraços de rocha e estacas de madeira para as treliças. A Syrah, como supramencionado, é a cepa protagonista e o seu cultivo se dá nos cinco “Crus”, a saber:  Côte-Rôtie, Hermitage, Cornas, St.-Joseph  e Crozes-Hermitage. Ela apresenta nuances específicas de acordo com a denominação. Na ala das brancas, as principais uvas são a Viognier, Marsanne e Roussanne.  Já o Sul do Rhône responde por 95% da produção e a principal apelação é Châteauneuf-du-Pape, seguida por Gigondas, Vacqueyras, Tavel, Lirac e em nível de produção Cotes-du-Rhône e Cotes-du-Rhône Villages se destacam, assim como Cotes-de-Ventoux. Os vinhos são marcados pelo estilo vigoroso, cálido e se assemelham aos do Languedoc-Roussilon e Provence do que propriamente aos elegantes vinhos do Norte. O clima é mediterrâneo e os verões são secos, quentes e os invernos chuvosos. A Grenache é a base dos tintos em parceria com diversas outras uvas (supracitadas). Os brancos tem menor participação e costumam ser cheios e frutados.

Sobre Jean-Luc Colombo.  É apontado, com justa razão, como produtor revolucionário do Rhône. Fixou-se em 1984 na região de Cornas e adotou, logo no início, técnicas modernas de vinificação contrariando o tradicionalismo da região. Usou leveduras cultivadas, desbaste de cachos, desengaço, fermentação curta com longa maceração, envelhecimentos em barricas novas, etc. Utiliza garrafas bordalesas e os seus vinhos possuem estilo mais acessível, portanto, não precisam envelhecer, mas ganham complexidade se isso acontecer. Seus opositores contestam seu estilo, mas na realidade os vinhos de Jean-Luc Colombo procuram expressar o que de melhor pode oferecer o terroir dessa importante região e possuem uma inequívoca proposta gastronômica.

Sobre a degustação. A qualidade e a tipicidade dos vinhos foram justificadas. Vinhos concentrados, minerais, com boa fruta e principalmente com muita força ligadas à elegância. A região notabilizou-se, no passado, por elaborar vinhos tânicos, mas os vinhos de Jean-Luc Colombo, de estilo moderno ainda carregam a tipicidade da região, com mais fruta madura do que o habitual. São caldos potentes e a maior presença de fruta serve para arredondar os taninos. Conservam a mineralidade transmitida pelos solos predominantemente graníticos, xistosos, etc. Não são baratos mas valem como opção para eventos especiais. Numa faixa de preço mais acessível, o Cotes-du-Rhône se mostrou correto, mas sob a ótica da relação preço-qualidade os destaques são os dois Crozes-Hermitages. Tanto o branco como o tinto esbanjam tipicidade e são superiores a seus congêneres.  Os demais confirmaram a supremacia e o Cornas o mais denso de todos.

Cabe salientar que a organização do evento foi impecável e o destaque ficou por conta da rica palestra do Sommelier Guilherme Corrêa e também do serviço do vinho muito elogiado pelos participantes. Aproveito a oportunidade para externar o meu sincero agradecimento aos Srs. Adolar Hermann, Cézar França e João Renato.

Nessa degustação, conduzida com singular maestria por Guilherme Corrêa, foram degustados os seguintes vinhos:

Viognier La Violette Languedoc VdP d’Oc 2007
Crozes-Hermitage Les Gravières 2007
Côtes du Rhône Les Abeilles Rouge 2006 –
  88/100 pontos e Best Buy na Wine Enthusiast
Crozes-Hermitage Les Fées Brunes 2006 –  89/100 pontos na Wine Spectator
Hermitage Le Rouet 2005 –  91/100 pontos na Wine Spectator
Côte-Rôtie La Divine 2005 –  91/100 pontos na Wine Spectator
Cornas Les Ruchets 2004 –  92/100 pontos na Wine Spectator e 92 pontos na Wine & Spirits

Consoante explicação de Guilherme a Syrah é uma uva redutiva e por isso os vinhos necessitam de decantação.
Consoante explicação de Guilherme a Syrah é uma uva redutiva e por isso os vinhos necessitam de decantação.

 

Abaixo a descrição e avaliação dos vinhos degustados:

Viognier La Violette Languedoc VdP d’Oc  – Jean-Luc Colombo – Origem: França – região: Rhône/Languedoc – safra: 2007 – álcool: 13,5% – uva: Viognier – preço: R$ 56,00 – Amarelo palha. Aromas com suaves notas florais (flores brancas) e frutadas com damasco e pêssego. Na boca apresentou corpo médio, madeira integrada (20% do mosto passa por barrica e fermenta “sur lie” por seis meses), alguma mineralidade e ligeira untuosidade. A acidez  baixa é um traço característico dessa casta. Tem caráter particular  com uma leve nota amêndoada, fruta madura e termina com um discreto amargor. Avaliação: 86/100 pts. 

Crozes-Hermitage Les Gravières  –  Jean-Luc Colombo – Origem: França – região: Rhône/Languedoc – safra: 2007 – álcool: 13% – uvas:  Marsanne (70%) e Roussanne (30%) – preço: R$ 95,00 – Palha esverdeado brilhante. Muito perfumado e sedoso no olfato com flores brancas em profusão e uma forte sugestão amendoada. O solo aluvial e pedregoso (seixos rolados) imprime um rico caráter  mineral que cede espaço para fruta madura (damasco, apricot). Sua acidez delicada lhe confere um bom frescor e um bom volume de boca. Termina com uma leve nota cítrica e um discretíssimo amargor que não incomoda. Segundo Guilherme, tem potencial de guarda de até cinco anos. Avaliação: 88/100 pts. +

Côtes-du-Rhône Les Abeilles Rouge – Jean-Luc Colombo – Origem: França – região: Rhône/Languedoc – safra: 2006 – álcool:  – uvas: Grenache, Syrah e Mourvédre – preço: R$ 56,00 – Vermelho-púrpura intenso. No olfato apresentou aromas com boa fruta (vermelha) e um leve frescor herbáceo. Na boca o corpo é médio, taninos delicados fundidos na estrutura sólida na qual a acidez se impõe, boa presença de fruta e madeira discreta (20% amadurece seis meses em barricas de carvalho) com média concentração de sabor  e uma pontinha de alcaçuz. Deve crescer com comida e apresentou boa tipicidade. Boa relação preço-qualidade.
Obteve  88/100 pts. e Best Buy na Wine Enthusiast. Avaliação: 87/100 pts.

Crozes-Hermitage Les Fées Brunes (As Fadas Negras) – Jean-Luc Colombo – Origem: França – região: Rhône/Languedoc – safra: 2006 – álcool: 13% – uva: Syrah – preço: R$ 95,00 – Rubi violáceo intenso. No olfato apresentou especiarias em profusão (pimento-do-reino, cardamomo), nuances vegetais e uma sugestão de alcaçuz. Boca no mesmo diapasão, tânica (qualidade acima da media), robusta e com acento mineral, acidez salivante a prometer um vinho gastronômico. Termina frutado com suavidade. Seguramente o melhor Crozes-Hermitage provado por este escritor e provavelmente um vinho de destaque na sua categoria. À conferir. Para ser bebido já como acompanhamento de carnes de caça, assados, queijos maduros e rabada. Obteve 89/100 pts. na Wine Spectator. Avaliação: 88/100 pts. +

Hermitage Le Rouet – Jean-Luc Colombo – Origem: França – região: Rhône/Languedoc – safra: 2005 – álcool: 13,5% – uva: Syrah (97%) e Marsanne (3%) – preço: R$ 379,00 – com produção de apenas 5.000 garrafas anuais e passagem por carvalho francês novo por dezoito meses, apresentou cor rubi intensa com reflexos violáceos sem evolução.  Paleta aromática com notas de caça, couro, defumado e alcaçuz. Na boca a sua entrada é quente e ao mesmo tempo exibe  taninos maciçamente sedosos que provocam intensa salivação com boa presença de fruta madura. Longo e intenso termina com leve adstringência. Tem no mínimo uma década de vida pela frente quando ganhará complexidade, todavia, já pode ser bebido e recomenda-se sua decantação por no mínimo uma hora, já que a Syrah é uma cepa redutiva consoante observação de Guilherme Corrêa. Obteve 91/100 pts. na Wine Spectator. Avaliação: 90/100 pts. ++

Côte-Rôtie La Divine Jean-Luc Colombo – Origem: França – região: Rhône/Languedoc – safra: 2005 – álcool: 13,5% – Variedades: Syrah (95%) e Viognier (5%) – preço: R$ 379,00 – Côte-Rôtie significa “encosta tostada ou assada”. A Viognier foi fermentada com a Syrah e o vinho clarificado com clara de ovo para separação dos colóides (que são gelatinosos) que não são depurados apenas com a filtração. Produção de 8000 garrafas. Intensos aromas defumados e florais (jasmim) aportados pela Viognier. Em seguida uma nota de frutas negras e especiarias (Syrah). Majestoso na boca com camadas de taninos densos e aveludados secundados por ótima acidez que lhe confere frescor. Acento mineral com longa persistência gustativa. Final de prova suave e interminável. Verdadeiro paradigma porque concilia de forma absolutamente harmônica potência e elegância. Vinho para ocasiões especiais. Estimativa de guarda 10/20 anos. Obteve  91/100 pts. na Wine Spectator. Avaliação: 91/100 pts.++ 

Cornas Les RuchetsJean-Luc Colombo – Origem: França – região: Rhône – safra: 2004 – álcool: 14,65% – uva: Syrah – preço: R$ 478,00 – Para alguns Cornas é a ovelha negra do norte do Rhône. Este vinho é a exceção que confirma a regra. É um verdadeiro  “primus inter pares”.  Segue sua descrição. Púrpura intransponível na cor que não apresenta halo de evolução. No olfato apresentou refinadas notas de zimbro, alecrim, jasmim e frutas secas. Álcool generoso. Boca quente, intensa e profunda com taninos mastigáveis e solidamente potentes. A fruta aparece na forma de cerejas e ameixas maduras.  Repetição do acento mineral percebido nos vinhos anteriores e deliciosa acidez gastronômica contrabalançada pelos taninos surpreendentemente  finos e refinadamente poderosos. Termina com alguma rigidez que se esmaecerá com o amadurecimento na garrafa nos próximos 10 anos.  Obteve 92/100 pts. na Wine Spectator e 92 pontos na Wine & Spirits. Avaliação: 92/100 pts. ++

(Visited 504 times, 504 visits today)

0 thoughts on “Degustação na Enoteca Decanter – SP conduzida por Guilherme Corrêa: vinhos de Jean-Luc Colombo, apontado como “Revolucionário do Rhône””

  1. Amigo Jeriel, tenho visitado o seu site algumas vezes, sempre admirando suas descrições que transitam com leveza entre o técnico e o apaixonado por vinhos! Mas no Hermitage que provamos lá, nesta noite soberba, a uva branca do corte era a Marsanne, somente o Côte-RÇotie leva Viognier. Um abraço!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *