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Vertical de Marques da Casa Concha Chardonnay seguida de quatro Pinots Chilenos.

A reunião foi realizada no sábado, 21 de novembro de 2009, no Restaurante “Bem Virá” (tel. 11 3721-1124), restaurante de concepção arquitetônica rústica encravado no complexo gastronômico denominado “Vila do Jardineiro” (Av. Eliseu de Almeida, 1077 – Butantã – São Paulo SP – tel 3721 1124), com a presença dos confrades Clóvis Pavan,  Romeu Mattos Leite, José Luiz e Lucas Garaldi. O serviço do vinho transcorreu com serenidade, sem os habituais atropelos, confusões, superior ao de algumas casas já habituadas em receber confrarias porque os vinhos foram servidos rigorosamente na ordem pré-estabelecida, na temperatura de serviço e sem necessidade de orientações constantes.

Degustações Verticais: conceito.

A resposta vem da Revista Menu de julho de 2009: “O vinho é a bebida alcoólica que mais nuance de aromas, sabores e estilos apresenta a cada safra. Por mais que a tecnologia, principalmente dos países do chamado Novo Mundo vinícola, consiga reduzir, e muito, as variações entre as safras, nunca um ano é igual ao outro. O clima, em anos com mais chuva, em outros com mais sol, é o principal responsável por estas mudanças – em 2003, de verão quentíssimo na Europa por exemplo, resultou em brancos e tinos alcoólicos, mais prontos para beber quando jovens e muitos com menor capacidade de envelhecimento. Mas há outros fatores como o estilo que o enólogo quer dar à bebida naquela safra, o envelhecimento do vinhedo, cada vez mais velho e com uvas mais concentradas, e o amadurecimento do vinho, agora na garrafa. Todas estas questões se revelam numa degustação vertical – quando diversas safras de um mesmo vinho são provadas na seqüência”.

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Para tanto, os vinho escolhido foi um chardonnay bastante representativo da escola chilena anterior ao Vale de Casablanca: Marques de Casa Concha, das safras 2003, 2004, 2005 e 2006. Seu preço atual está na casa dos R$ 80,00 e a safra 2007 já está à venda. O 2008 já está sendo vendido no Chile e a diferença ficou por conta da origem das uvas: antes vinham do de um setor fresco do Vale do Maipo e à partir de 2008 do Vale de Limari.

100% do mosto do MCC Chardonnay fermenta em barricas francesas, sendo um terço novas e isso reflete o estilo do vinho que é elegante, fragrante com a baunilha evidente nas safras mais recentes e perfeitamente integrada nos mais antigos, com boa expressão de fruta. Todas as garrafas ostentavam o mesmo percentual de álcool: catorze por cento e nenhum exemplar se mostrou desequilibrado e os vinhos expressaram com fidelidade o terroir local e as influências climáticas de cada safra.

Vertical de Marques de Casa Concha Chardonnay: quanto mais velho melhor.

1º. Lugar – safra 2003 – 14% álcool – Cor amarelo dourado brilhante. Nariz intenso com predomínio de frutas tropicais maduras a lembrar abacaxi em calda, damascos e geléia de frutas. Girando a taça sugestões tostadas e de frutas cítricas sobre um fundo mineral. Apesar de elevado (14%), o álcool está bem entrosado com os demais elementos e o conjunto é equilibrado. Na boca a sua entrada revela um vinho pronto, de acidez delicada com a repetição das sensações olfativas. O corpo é médio e concentração de sabor revela boa fruta com um discreto acento mineral. De média persistência, termina como começou: sem arestas, sem amargor e sem ser enjoativo. Ao contrário, porque se mostrou untuoso e fresco, apesar dos seis anos de sua safra, considerada ótima no Chile. Agüenta mais um ou dois anos na garrafa com folga, mas não irá evoluir.
Nota: 90/100 – Importador: CyT do Brasil – Preço – R$ 80,00

2º. Lugar – safra 2005 – 14% álcool – Descrição semelhante à do vinho anterior, todavia, sua cor demonstrou menos evolução e na boca menos concentração de sabor do que o exemplar anterior. Seu auge está por se aproximar.
Nota: 88/100 pts. – Importador: CyT do Brasil – Preço – R$ 80,00

3º. Lugar – safra 2006 – 14% álcool – Amarelo palha na transição para o dourado. Boa expressão aromática com notas de baunilha, algum cítrico e abacaxi. Boca equilibrada, madura, acidez proporcionando bom frescor num corpo médio e intenso. Termina suave e ainda apresenta condições de evolução na garrafa porque a madeira ainda está presente, todavia, permite alguma expressão da fruta.
Nota: 87/100 pts. – Importador: CyT do Brasil – Preço – R$ 80,00

4º. Lugar – safra 2004 – 14% álcool – Amarelo dourado semelhante ao 2003. Muita fruta madura no olfato secundado por baunilha. Pesado na boca, com muita madeira e baixo frescor. Depois de algum tempo a fruta apareceu, na forma de compota de abacaxi. Termina denso e com boa persistência, mas seu estilo destoa dos demais. Nota 85/100 pts. – Importador: CyT do Brasil – Preço – R$ 80,00

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Segunda degustação: pinots chilenos

Para essa degustação os vinhos escolhidos estavam na faixa de preço abaixo dos R$ 50 e tivemos surpresas agradáveis. O guia chileno Descorchados 2009 informa que atualmente a uva que mais se planta nas terras chilenas é a Pinot Noir. A cada dia surge um novo vinho dessa casta, de casca fina e de difícil adaptação fora da Borgonha. Todavia, a diversidade de microclimas existentes nos diversos vales chilenos, tem ensinado que nas regiões costeiras os resultados, ainda que distantes do desejado tem sido positivos. A única exceção fica por conta da Undurraga que sempre fez pinots com uvas do Maipo (atualmente as uvas da linha TH são do Vale de Leyda) e sempre conseguiu resultados satisfatórios na região de Talagante, ao sul do vale citado e muito próximo do rio Maipo. Foi incluído como “intruso” : um Pinot Uruguaio, de um produtor de renome (Pisano), que decepcionou porque estava bouchonée.

Sem mais delongas seguem os resultados:

Desclassificado (rolha) – Pisano Pinot Noir 2005 – Uruguai – 14% álcool –preço: US$ 29,90 – importadora: Mistral

5º. Lugar – Paso Hondo 2004 Alta Selección – Bio Bio – 14% álcool – preço: R$ 65,00 – Intermares/Piracicaba – Rubi com halo granada. Nariz fechado com uma discreta nota vegetal. Boca pouco expressiva, sinalizando um vinho em declínio de pouca fruta, corpo adequado, acidez elevada, madeira tripudiando a fruta e descompasso do tripé álcool, acidez e taninos. Alguma tipicidade. Deve ser bebido já porque não apresenta condições de evolução na garrafa. Termina com alguma rusticidade. Nota: 82/100 pts.

4º. Lugar – Gracia de Chile Relativo 2005 – Bio Bio – 14% álcool – preço: R$ 57,51 – Grand Vin (importador atual Wal-Mart) – Rubi violáceo sem muita concentração e halo de evolução. Nariz mais aberto do que a amostra anterior, com sugestões de frutas vermelhas e um discreto herbáceo. Boca que subscreve o nariz com média concentração a evocar a casta. Taninos macios e acidez lhe conferindo algum frescor. Curto e leve a fruta tem algum espaço. Final franco e simples .Fácil de beber, já está pronto e já sinaliza cansaço. Nota: 84/100 pts.

3º. Lugar – Valdivieso Reserva 2005 – Vale de Casablanca – 13,5% álcool – preço: R$ 50,00 – Bruck – Sua cor não traduz a tipicidade da casta: rubi violáceo intenso com alguma de evolução. Nariz interessante com notas tostadas e de frutas negras a denunciar alguma complexidade. Boca macia, com taninos no ponto e boa concentração de sabor com tipicidade um pouco abaixo da esperada, porque a madeira vem na frente. Acidez adequada e final com leve adstringência. Não vai melhorar na garrafa, portanto, está num bom momento para ser bebido. Termina com ligeira aspereza. Nota: 85/100 pts.

2º. Lugar – Undurraga 2005 – Vale do Maipo – 13,5% álcool – preço R$ 14,90 – Wal-Mart Brasil Ltda. (adquirido no fim de 2007) – este vinho não me surpreendeu por que é um velho conhecido meu. Seus vinhedos são antigos e estão muito próximos do Rio Maipo e recebem boa insolação e brisas frescas. O solo aluvional é bem drenado, com pedras que possibilitam o correto escoamento da água em benefício da planta. A Undurraga é uma vinícola que sempre cultivou a Pinot Noir e no seu portfólio existe um interessante “Pinot/Cabernet” que vale à pena ser provado, sem se falar na novel linha TH, com uvas de regiões costeiras. Rubi violáceo com levíssimo halo de evolução. Nariz expressivo a indicar um vinho de bom frescor, frutado (morango/framboesa), leve sugestão tostada sobre um fundo mentolado com boa sustentação. Depois aromas de compota e mentol. Boca macia, taninos de qualidade muito boa e acidez gastronômica dando equilíbrio ao vinho. De boa tipicidade, termina sem aspereza e sem amargor. Está no auge, portanto, deve ser bebido já. Pelo preço pago, sua relação preço-qualidade é nota 10, com louvor. Nota: 87/100 pts.

1º. Lugar – Casilero Del Diablo 2006 – Vale de Casablanca – 14% álcoolPernord Ricard do Brasil – preço atual: R$ 29,90 (Makro – safra 2008) – o contra-rótulo informa que: “Un Pinot Noir complejo. sabores a frutilla, frambuesa con suaves notas de café y chocolate. De cuerpo medio, buena estructura y un final largo y persistente. Maridaje. Muy versátil, puede acompañar carnes, pollo, platos vegetarianos, queso camembert e incluso con pescados grasos como salmón o atún”. Acrescento as seguintes notas à descrição do vitorioso da degustação: cor rubi com reflexos violáceos e pequeno halo de evolução (inferior aos anteriores), nariz complexo com frutas vermelhas, coco, tostado e, leve balsâmico. Boca redonda, de acidez delicada, taninos presentes de boa qualidade, fruta em evidência sem excesso de madeira. Muito boa concentração de sabor com alguma profundidade e tipicidade. Retrogosto persistente com uma nota frutada. Ainda agüenta mais um ano na garrafa e sua relação preço-qualidade é um de seus destaques. O seu único problema é que apesar de ser um Casilero Del Diablo, não é tão fácil de ser encontrado. À conferir. Nota: 88/100 pts.+

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