A reunião foi realizada na segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011, com a presença dos blogueiros abaixo indicados:

Beto Duarte           papodevinho.blogspot.com

Daniel Perches      www.vinhosdecorte.com.br

Evandro Silva        confraria2panas.sosblog.com

 

Também participaram: Cavalcante, Eduardo Milan e Francisco Stredel. Para essa vertical os vinhos escolhidos são dois exemplares representativos da escola chilena, um Chardonnay do Vale do Maipo e um Syrah do mesmo vale: Marques de Casa Concha, safras 1997, 2003 e 2007 (Chardonnay) e 2004, 2005 e 2006 (Syrah). Seu preço atual está na casa dos de R$ 85.

 

O vinho Marques de Casa Concha foi lançado em 1976, safra 1972, Cabernet Sauvignon e logo se converteu no ícone da Concha y Toro. Só perdeu sua supremacia com o lançamento, em 1989, do Don Melchor. Ainda hoje, o MCC é um dos vinhos mais conhecidos da CyT mundialmente

Um pouco da histório do vinho Marquês de Casa Concha

Lançado em 1976,  imediatamente se posicionou no mercado como vinho nobre e tradicional da Concha y Toro. A linha começou com a primeira  variedade – Cabernet Sauvignon – safra 1972 – do reconhecido vinhedo de Puente Alto, situando imediatamente  Marques de Casa Concha como  emblema da Viña Concha y Toro desde então. No ano de 1989 incorporou-se um Chardonnay do vinhedo Santa Isabel de Pirque seguido um ano mais tarde por um Merlot do vinhedo de Peumo. Nos anos noventa, o uso de técnicas avançadas no manejo agrícola e enológico aumentou significativamente a qualidade dos vinhos Marques de Casa Concha, convertendo-lo num vinho altamente demandado em nível mundial. Em 1999, o reconhecido enólogo Marcelo Papa assume como enólogo-chefe da marca, cargo que ocupa até os nossos dias. Como parte da busca constante pela  inovação e vanguarda, Viña Concha y Toro decidiu incorporar a variedade Syrah na linha Marques de Casa Concha no ano 2005 (safra 2004) , proveniente do vinhedo de Rucahue, Vale de Rapel. No ano 2007 houve a transferência do fornecimento  das uvas do Syrah que passaram a vir do vinhedo Quinta de Maipo, em Buin. Essa mudança é um registro do desafio permanente da linha que procura entregar maior qualidade e elegância para a variedade, mantendo-se sempre o estilo, a tipicidade e os valores da marca.  No ano de 2008 foi incorporada a última variedade, a Carménère (safra 2007), proveniente do vinhedo de Peumo. Isso foi possível após um exaustivo trabalho de investigação e manejo dos vinhedos desenvolvidos por Viña Concha y Toro há muitos anos com essa emblemática cepa. Os vinhos Marques de Casa Concha vêm conseguindo  ano após ano importantes reconhecimentos em nível mundial, convertendo-se  na marca chilena mais reconhecida no seu segmento através do tempo.

Três safras do Marques da Casa Concha foram degustadas: 1997, 2003 e 2007

Vertical MCC Chardonnay: a boa tipicidade dos vinhos elaborados com uvas de Santa Isabel de Pirque, Vale do Maipo.

 

Safra 1997Vale do Maipo, Vinhedo Santa Isabel de Pirque – 14% álcool – 100% do mosto fermentou 11 meses em barricas francesas, 1/3 novas e 2/3 de 2? uso –  amarelo com reflexo dourado intenso. Delicado e complexo no nariz com aromas de fruta madura (abacaxi, pêssego e carambola) e nuances de mel e nozes. Na boca a acidez já dá sinais de cansaço refletida diretamente  no frescor. As sensações olfativas se confirmaram, vinho de perfil elegante e sedoso.  Um vinho de estilo clássico, que esbanja tipicidade e que termina suave. Redondo e de fruta bem aparente. Este vinho é prova de que alguns  brancos do Novo Mundo também são longevos, basta ser oriundo de um produtor confiável, ter sido produzido numa boa safra e sobretudo ter sido bem conservado como este exemplar, cujo estilo o remete diretamente ao Velho Continente. Por fim, saliento que a garrafa foi aberta no momento exato, porque sua rolha estava completamente umida e se precipitou no fundo da garrafa. Avaliação: 89/100 pts.

 

 

Safra 2003 – Vale do Maipo, Santa Isabel de Pirque – 14,5% álcool – 100% do mosto fermentou 11 meses em barricas francesas, 36% novas e 64% de 2° e 3° uso. – Aqui temos uma situação que obedece à lógica das safras chilenas. A safra 2003 foi “ímpar” e de fato tivemos um vinho de superior qualidade.  O vinho apresentou cor menos evoluída do que o 1997 (vide foto abaixo),  aromas menos intensos, porém, mais complexos com muita fruta tropical (abacaxi, pêssego) sobre um fundo cítrico com leve tostado. No palato um vinho exuberante, guloso, de intenso frescor num estilo que concilia a fruta intensa dos vinhos do Novo Mundo com a elegância francesa.  A madeira dá sinais de integração à fruta. Longo e intenso deixa uma nota cítrica no final. Seu auge está por se aproximar. Avaliação: 91,5/100 pts. 

 

Safra 2007 Vale do Maipo, Santa Isabel de Pirque – 14% álcool – 100% do mosto amadureceu 11 meses em barricas francesas, 36% novas e 64% de 2° e 3° uso – Palha com reflexo levemente esverdeado. No nariz seus aromas são muito semelhantes ao 2003, com abacaxi, pêssego e maracujá. Algum mineral. Na boca um vinho estruturado, com  a madeira a se integrar  à fruta tropical, corpo pleno e muito frescor aportado pela boa acidez. Intenso e profundo necessita de tempo para ganhar complexidade na garrafa, mas agradou por seu notável equilíbrio gustativo. Avaliação: 89,5/100 pts. +  

  

O MCC Chardonnay na taça: o dourado é o 1997, ainda vivo. O 2003 foi o segundo vinho servido e o primeiro escolhido por unanimidade e o último vinho servido foi o exemplar da safra 2007
Beto, Eduardo Milan e Daniel
Marques de Casa Concha da safra 1997: ainda palatável, com evidentes sinais de que já começou a declinar, enfrentou bem a peleja: não foi desclassificado por nenhum dos degustadores porque mostrou muita delicadeza na boca com sutil amargor.
A safra 2003 realmente foi boa para o Marques da Casa Concha Chardonnay: esta é a segunda vertical na qual se sagrou o vencedor!
O 2007 foi o mais jovem dessa vertical: ainda fechado, deu sinal que terá vinda longa pela frente, corroborando a assertiva de que o MCC é um vinho longevo.
A vertical continuou com três safras do Syrah: 2004, 2005 e 2006

        

Marques da Casa Concha Syrah

Safra 2004 – Vale de Rapel, Rucahue,  14,5% álcool – 100% do mosto amadureceu 18 meses em barricas francesas, 1/3 novas, 2/3 barricas de 2° uso e 3° uso – Rubi violáceo intenso com profundidade. Nariz fechado com notas herbáceas. Na boca um vinho sem expressão gustativa. O vinho estava com algum problema que não permitu sua avaliação, porém, não estava bouchonée.

Safra 2005 – Vale do Maipo, Buin, 14,5% álcool – 100% do mosto amadureceu 18 meses em barricas francesas, 36% novas, 64% de 2° uso e 3° uso – Vermelho-rubi intenso, profundo com discreto reflexo violeta. Aromas complexos com frutas maduras, especiarias sobre um fundo mentolado. Macio, sedoso confirmou a excelente tipicidade da casta no Vale do Maipo. Vinho gostoso, fino,  que vai continuir evoluindo na garrafa porque tem estrutura para tanto. Avaliação: 88/100 pts.+ 

 

Safra 2006 – Vale do Maipo, Buin, 15% álcool – 100% do mosto amadureceu 18 meses em barricas francesas, 36% novas, 64% de 2° uso e 3° uso – Este vinho de longe foi o campeão da vertical. Para quem escreve uma verdadeira incógnita, eis que produzido com uvas de safra “par”. Exibiu cor mais intensa com halo púrpura. Aberto no nariz com  aromas que lembram licor de cassis, especiarias (cravo, nóz moscada) sobre um fundo mentolado. Na boca a madeira não se sobrepõe à fruta  (ameixa, amora e framboesa) e o seu equilíbrio gustativo o habilita a enfrentar os grandes vinhos dessa cepa australianos. Taninos e acidez firmes. Os elementos álcool, fruta, taninos, acidez e madeira estão integrados e em nenhum momento acusou seus 15% de álcool. Termina longo e elegante, sem perder tipicidade porque é um um dos melhores vinhos dessa uva elaboras no Chile, notadamente no Vale do Maipo. Avaliação: 90/100 pts.  

        

Syrah 2006: também foi apontado por unanimidade pelos presentes como o melhor dos três – avaliação: 89/100 pts.
A vertical de Marques da Casa Concha teve dois campeões: o Chardonnay 2003 e o Syrah 2006

Conclusão – Chardonnay

Parece que a frase “quanto mais velho melhor” tem plena aplicação ao vinho Marques de Casa Concha Chardonnay. Quem consegue acreditar que um vinho branco, chileno, produzido com uvas de uma safra ótima como 1997, aguentaria chegar aos 14 anos com integridade?   Nos dias que ocorrem, ao menos nos círculos de vinho que tenho a oportunidade de participar, está na moda execrar os vinhos argentinos e chilenos pelos mais variados argumentos. Alguns até que são razoáveis (principalmente quando se condena o excesso de madeira de alguns produtores, mas isso não é uma regra, porque há produtores que fazem uso judicioso, controlado), mas por trás dessa execração existe um preconceito elitista e distorcido de que tudo que vem do Velho Continente é bom. Algumas pessoas se apegam exclusivamente nas pontuações internacionais como se isso fosse o único critério confiável para determinar a qualidade dos vinhos que degusta. Ledo engano. Por experiência, já degustamos muitos vinhos com elevadas pontuações e não gostamos! Com o MCC Chardonnay é a mesma coisa. Pela quarta ou quinta vez consecutiva degustamos essa jóia líquida e com este artigo estamos sacramentando a qualidade da safra 2003, que teve 90/100 pts. da Wine Spectator em 31.03.2005. Para nós, sua pontuação está acima disso (91,5/100 pts.)! 

 

 

Conclusão – Syrah

Sem fugir do espírito da frase supracitada, a lógica das safras chilenas ímpares não foi confirmada, eis que de longe o melhor vinho degustado foi o aveludado e musculoso Syrah 2006, porque exibiu tipicidade e pleno equilíbrio gustativo. Na mesma linha segue o 2005, num estilo mais discreto e contido. Para o 2004 reservamos a seguinte indagação: será problema da garrafa? Será que ela faz parte da estatística mencionada por Hugh Johnson no seu celébre Guia de Vinhos: “uma garrafa, numa caixa de doze, não estará necessariamente bouchonée, mas apenas misteriosamente abaixo do nível”. Por fim, a conclusão final é que o Marques de Casa Concha nas duas  versões degustadas é um vinho consistente, que se destaca por sua tipicidade e que, se não custa barato, ainda assim vale cada centavo.

Saúde!

Agradecimentos: Agnaldo Fidelis, Gerente Comercial da Concha y Toro Brasil e Paulo Amalfi, Assistente de Marketing da VCT –  Brasil, linhas Concha y Toro e Trivento.

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