A seguir, documento inédito encaminhado por Carlos Pizzorno, da Bodega Pizzorno ou “Pizzorno Family Estates”, devidamente traduzido para português. É um relato sobre a safra 2011, uma das melhores no últimos 30 anos no Uruguai, consoante relato pessoal que nos foi feito por Carlos Pizzorno.
No Uruguai, a Bodega Pizzorno tem 20 hectares de vinhas próprias e sabidamente sempre se esforçou para obter um nível máximo de qualidade para os seus vinhos, elaborados com uvas de três vinhedos: San Francisco, Los Nogales e Don José, todos na área de Canelón Chico com solos adequados para a produção de uvas, com declives suaves, a uma altitude de 70 m. e 20 km da costa do Rio de la Plata.
A Colheita de 2010 – 2011
A primavera começou muito fresca e com brotações tardias
O início da safra 2010-2011 foi caracterizado pelo atraso na brotação, em particular das variedades que exigem temperaturas mais altas como Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc e Arinarnoa.
Os dois primeiros meses da primavera, outubro e novembro foram particularmente frescos, mas, felizmente, ao contrário das safras anteriores as geadas tardias estiveram ausentes e todos os vinhedos puderam conservar seu potencial de produção.
Essas condições frescas associadas à brotação tardia determinaram o crescimento lento e progressivo de todas as vinhas de modo que o florescimento das videiras se desenvolveu em meados de novembro, num clima caracterizado pela ausência de dias chuvosos e completamente ensolarados que permitiu a perfeita formação de novos cachos.
O trabalho do produtor não cessa
Ao longo do período primaveral foram realizados trabalhos sobre os vinhedos destinados a dar aos novos cachos as melhores condições microclimáticas para o seu desenvolvimento, eis que desde a brotação se sucederam desbrotes, com a remoção de brotos inférteis, limpeza dos troncos das plantas, condução sob latada dos brotos selecionados, com a busca de sua iluminação ideal. A partir do momento da frutificação, começou a remoção das folhas na área do cachos, para possibilitar a sua adequada iluminação e ventilação para promover a sanidade das seguintes variedades tintas: Tannat, Cabernet Sauvignon e Franc, Pinot Noir, Arinarnoa, Merlot e Malbec.
No caso das variedades brancas, especialmente Sauvignon Blanc, a tarefa de remoção de folhas é feita com grande cuidado à procura de um equilíbrio particular entre ventilação e a sombra dos cachos nos horários de pico de sol para que o potencial aromático desta variedade possa expressar-se completamente.
A escassez de chuvas precoces e uma seca que se estabeleceu e se aprofundou durante toda a temporada
A partir de novembro as chuvas se fizeram muito escassas, com registros entre 40 e 60% inferiores às condições meteorológicas normais na zona de produção. Isso possibilitou condições hídricas para o desenvolvimento e maturidade da maioria das parcelas da Pizzorno. Em algumas delas (por exemplo, Sauvignon Blanc), as condições do solo são mais restritas, com a adoção de irrigação localizada e pontual procurando assegurar desenvolvimento “otimizado” das plantas, em termos de equilíbrio entre crescimento vegetativo e maturidade uvas.
Alguns lotes de Tannat como “Los Nogales”, o mesmo recurso foi utilizado para aprofundar o desbaste e realizar irrigação direcionada apenas dessas mesmas plantas. O resto dos vinhedos resistiu à falta de chuvas em muito boa forma, atingindo a maioria um excelente equilíbrio entre desenvolvimento dos brotos e sua carga de frutas.
Em 1° de janeiro de 2011 o ensolarado Verão começa
Iniciado o mês de janeiro surgem as variedades mais precoces como Pinot Noir e Chardonnay, logo seguidas por Cabernet Sauvignon, uma variedade que se caracteriza por um período de colheita muito longa, a mais longa das variedades produzidas no vinhedo de Pizzorno. Depois vieram Merlot, Tannat, Sauvignon Blanc e assim por diante até Arinarnoa e Petit Verdot.
Desde os primeiros dias de fevereiro, o clima começou a ser mais frio com temperaturas bastante normais para a época o que é associado a um regime hídrico ideal para a maturidade das vinhas e garantidor de uma maturação progressiva de todas as variedades.
A colheita começou em 10 de fevereiro, alguns dias mais tarde do que a média das safras anteriores, devido ao atraso registrado no início da primavera. Naquele dia houve a primeira colheita em “Nogales”: a totalidade de Chardonnay foi inteiramente destinada para a produção de vinho base para os “espumosos naturales”.
Neste mês, mas no seu final foi colhido o restante das variedades precoces, o Sauvignon Blanc “Don José” em 22 de fevereiro e, dois dias depois, Pinot Noir “Los Nogales” que por suas excelentes características climáticas retro mencionadas, foi destinada inteiramente à produção do vinho tinto de guarda (Reserva).
Março: um mês para recordar
Como pouquíssimas vezes ocorrido no Uruguai, o clima do mês de março foi totalmente seco, ensolarado e quente. Isso permitiu a colheita de cada uma das parcelas no momento considerado mais adequado para cada situação e tipo de elaboração de vinho almejado.
É por isso que na primeira metade de março, quando em outras vindimas se registrava a maior atividade nos vinhedos, somente foram colhidas as parcelas de Merlot do vinhedo “San Francisco” e uma das parcelas de Tannat deste mesmo vinhedo que havia apresentado maturidade precoce.
A maior atividade da vindima se concentrou na segunda quinzena de março, quando se colheram as uvas Tannat “Los Nogales” e “San Francisco”, Cabernet Franc “Los Nogales,” Petit Verdot “San Francisco” e Arinarnoa “Don José “.
A safra termina em abril
De forma bastante incomum, “atípica”, aproveitando as condições climáticas ideais que continuaram se registrando e que possibilitou a busca pela maturidade completa da Cabernet Sauvignon, a colheita 2011 chegou a seu fim, sendo importante acrescentar que condições climáticas semelhantes não se repetirão tão cedo. Em 5 de abril de 2011, Bodegas Pizzorno completou sua colheita, perfazendo total de 54 dias.