Usando a metáfora dada por Dirceu Vianna Júnior, único brasileiro a conseguir a honra de ser um “Master of Wine”, um título almejado por milhares de grandes experts em vinho e concedido a menos de 300 pessoas no mundo: imagine um painel de um enorme avião, com centenas de botões lado a lado e alguém chega para você, que está ali parado diante desta confusão tecnológica e lhe ordena: voe!

È mais ou menos assim que um iniciante no mundo dos vinhos se sente diante de prateleiras e gôndolas que comportam algumas centenas de garrafas desta bebida. Peça a alguém que tenha “litragem” em whiskies para que cite de memória, nomes de marcas ou produtores!! Talvez ele cite uma ou duas dezenas de nomes. Peça o mesmo à um expert em vinhos! Talvez ele fique falando não uma dezena de nomes, mas por uma dezena de horas…

Estima-se que haja no planeta, algo entre 100 e 200 mil nomes diferentes de vinhos à venda. Sem contar as diferenças de safras! Por onde começar? Qual deles lhe chamaria a atenção? Por quê?

Costumo comparar os vinhos à atração que as pessoas sentem umas pelas outras. Quem chama mais a atenção à distância?

Sempre há uma barreira difícil de transpor porque os vinhos não falam e para que lhes digam algo que venha a gostar é preciso pagar! Como a maioria da pessoas que conheço e gostam de vinhos não são milionários esnobes, preferem ter o máximo de certezas antes de adquirir uma garrafa, ou pior, abandonam a idéia em favor de uma bebida mais “fácil”!

Voltando à questão acima, quem nos atrai a princípio? As pessoas bonitas, vistosas, charmosas. No caso do vinho, isso pode refletir-se nos cuidados com o rótulo. Ou a procedência. Entre os vinhos, mesmo os mais leigos tem a noção correta de que os vinhos europeus possam ter um “algo mais”, em princípio! Isso não é uma generalização, senão alguém virá correndo gritar que os vinhos de outros países também são excelentes! Sim, é correto, mas um raciocínio de “ponto de partida” é imprescindível aqui! Primeiro se aprende as regras, depois as exceções!

Ok, mas todo mundo sabe que se vende gato por lebre, é o mundo da sedução da propaganda, que assim como o mundo todo, tem os bons e os maus.

Então, se rótulo, garrafa bonita ou origem “nobre” não garantem qualidade, o que fazer? Comprar um vinho “caro”? Observação: “caro” é tudo aquilo que você paga e que fica aquém das suas expectativas! Se tiver prazer, certamente dirá: “Valeu a pena!”. Se não gostar do que provou, até mesmo UM único real pago parecerá uma fortuna.

Antes de partir para as conclusões, é preciso lembrar algo. O quê? È preciso tentar utilizar a sua memória gustativa. Conhecer o próprio gosto pode parecer uma coisa banal, mas há muita gente que não sabe explicar como nem por que gosta de algo. Não se recorda da última vez que alguém lhe ofereceu um vinho que tenha gostado? Viu o rótulo? Perguntou o que era? Se você consumidor, não se interessar em saber o que te atrai, quem poderá fazê-lo por você com a mesma eficiência? Conhecer a si mesmo é uma prova de auto-estima, inteligência, do pragmatismo de saber COMO viver proporcionando-se mais prazeres do que decepções.

Se num parágrafo acima você pensou em dizer que prefere pessoas inteligentes, como reconhecerá isso se não lhe der a devida atenção?

CONCLUSÕES

A primeira vez na vida que provei um vinho que julguei delicioso ao nariz e paladar, ele tinha uma característica marcante: o caráter frutado! Tinha aroma de fruta que ao vertê-lo na taça já dava uma fissura de beber rapidamente. “Fruta”, quando numa taça de vinho é uma virtude universal, nunca um defeito. De modo análogo, principiante que era, me lembro bem do primeiro vinho que detestei: era um tinto que travava na língua, “pesado” demais. Há quem goste de peso, há quem prefira a leveza. Há quem prefira a exuberância das formas, outras buscam a elegância.

Colocadas as bases do raciocínio, vamos enfim deduzir os resultados desta “experiência científica”!

Conclusão #1

Assim como citei uma virtude que pode ser tomada por universal, pressupomos então que esta virtude deve estar presente num vinho de gosto igualmente universal.

Conclusão #2

Se você prefere uma bebida “leve” ou “encorpada” é tudo uma questão de gosto e ocasião. No inverno, nos vestimos, comemos e bebemos de modo “pesado”, óbvio. A leveza, a refrescância caem bem no verão.

Falando nisso, faz-se necessário esclarecer: o que dá refrescância a um vinho? A resposta é a acidez, que pode vir da própria uva ou de algumas particularidades tais como a presença de gás carbônico! Ou seja, no verão, embora possam ser consumidos o ano todo, os vinhos borbulhantes são muito mais interessantes do que os outros vinhos.

O que “pesa” muito nos vinhos? Há todo tipo de vinho pesado independente da cor (branco, tinto ou rosado), mas de modo geral e mais amplamente, são os tintos que são mais potentes. Isso se deve à dois fatores: álcool e presença de “extrato”, sobretudo os taninos (uma das substâncias vegetais que causam sensação de aspereza e volume ao paladar). Quanto mais álcool, via de regra, mais peso e força, potência – por isso, certos vinhos como os vinhos do Porto, são chamados de “fortificados” porque possuem álcool em torno de 20%, ao contrário dos demais, que ficam entre 12-14% em média.

Conclusão #3: VINHOS UNIVERSAIS

  • · Bom ou excelente custo-benefício
  • · Fazem boa harmonização com a comida
  • · Tintos frutados, de baixa-média tanicidade e teor alcoólico
  • · Brancos aromáticos refrescantes
  • · Rosés aromáticos refrescantes
  • · Espumantes razoavelmente encorpados

Conclusão #4: UVAS INTERESSANTES PARA COMEÇAR

Uvas tintas:

  • · Merlot, Cabernet Franc (isoladas ou em “cortes”)
  • · Tempranillo
  • · Bonarda
  • · Gamay
  • · Syrah (Shiraz)
  • · Zinfandel

Uvas brancas:

  • · Alvarinho (Albariño), Arinto, Maria Gomes (Portugal)
  • · Sauvignon Blanc
  • · Chardonnay
  • · Gewurztraminer, Riesling
  • · Verdicchio, Vermentino (Itália)
  • · Viura, Verdejo (Espanha)

Antes de terminar gostaria de reforçar uma idéia que serve para vários artigos que são comercializados a um público que não tem obrigação de compreender todas as nuances do produto, que é a noção de “test-drive” que visa a ciência sobre características do produto, sem que tenha assumido o compromisso de levá-lo para casa.

No vinho, a melhor maneira de se educar é prestar atenção ao que se bebe, quando for servido em uma ocasião qualquer (anotar o que gosta: a origem, as características que foram mais agradáveis etc) e sobretudo frequentar locais em que se possa, pagando relativamente pouco, provar um número considerável de vinhos.

Há muitas cidades repletas de eventos onde isso é possível (degustações) e também casas que além desta finalidade, propiciam um clima de convívio prazeiroso, como os “Wine Bar”. São locais onde ao preço de uma garrafa ou menos, você pode degustar vários tipos e estilos de vinhos, servidos em taças. Pense nisso! Saúde!

Texto de André Logaldi

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