Muitas vezes me deparo com amigos que precisam de uma ajuda na composição de uma adega, que pode ser de qualquer tipo, desde aquele quartinho prestes a ser climatizado até embaixo da escada ou nas modernas adegas conhecidas pelo termo não totalmente preciso: “adega de apartamento” (móveis climatizados).

ADEGA IDEAL

Uma adega é tão mais próxima da perfeição quanto mais se aproxime de modelos ideais tanto do ponto de vista físico (a climatização em si) como de fatores culturais que explorem a diversidade e versatilidade dos vinhos, porém sempre se adequando à realidade funcional do seu portador, tais como: preferências pessoais, disponibilidade de mercado, estilo de vida (interesse gastronômico, recursos financeiros, ritmo de consumo etc.).

O investimento não é pequeno mas nem por isso se restringe a milionários que possam estocar 20 mil garrafas em cada imóvel possuído. As adegas “funcionais”, de apartamento podem variar em capacidades que vão de 6 a 1000 garrafas e na média, observo que entre os amigos interessados se situam na faixa entre 40-200 garrafas.

A SUGESTÃO

Qualquer exortação não passa de uma mera opinião, apenas um ponto de partida para qualquer uma modelagem que á absolutamente individual da gestão da cave. Faço abaixo uma proposta de 100 garrafas em que a proporção de tintos é de 2/3 e o terço final é divido entre brancos e rosados. Na minha adega pessoal a proporção é invertida. Cada um faz de acordo com seu estilo!

DISTRIBUIÇÃO RACIONAL

Quem faz o vinho é a OCASIÃO! Cada um é livre para fazer o que bem lhe apetece, mas há um CONSENSO racional de que ao receber um amigo sem aviso, resolver pedir uma pizza Margherita e abrir um Latour 1982 é no mínimo, estranho! Então esta sugestão de adegas se destina a quem bebe pelo prazer de beber e não pelo prazer em causar impressões.

O mais razoável é ter ao menos 3 faixas de preços do tipo “P, M e G” (às vezes GG), ou seja vinhos básicos agradáveis para o consumo em situações triviais, vinhos interessantes do tipo “best-buys” (aqueles maravilhosos que não são baratos mas custam 10 vezes menos que os ícones, todavia dando mais prazer imediato) e finalmente os grandes vinhos que se destinam à guarda ou ocasiões muito especiais. Vinho é multiplicidade: tenha cores e estilos de várias fontes!

Resumindo: numa adega de um ser humano em bom estado de equilíbrio racional e emocional, a rotatividade será menor quanto mais caro for o vinho e sua adega carregará consigo o reflexo do que é a cultura do vinho, ou seja, terá diversos estilos, cores e origens.

Por último: se a adega for de 40 ou 60 garrafas, procurem estabelecer uma proporção relativamente similar, acrescendo ou tirando vinhos de acordo com a sua preferência.

 

ELEMENTOS DA COMPOSIÇÃO*

* Por mero didatismo divido as origens em Velho Mundo (Europa), mas biparto o Novo Mundo, separando-o em América do Sul (muito mais presente na realidade dos consumidores brasileiros) e os demais (EUA, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul).

Diversidade de estilos

– Cores: branco, tinto, rosado

– Secos e doces

– Espumantes (estilo Champagne) e fortificados (estilo Porto)

Países (Europa e Novo Mundo)

– Velho Mundo “obrigatório”: França, Itália, Espanha, Portugal e Alemanha

– Novo Mundo “obrigatório”: Austrália, Estados Unidos, África do Sul

– América do Sul: Brasil, Argentina, Chile, Uruguai

– “Opcionais” interessantes: Áustria (obrigatório se ama brancos), Nova Zelândia, Hungria, Grécia, Croácia, Eslovênia, Canadá

Vinhos para guarda e para o dia-a-dia

– Guarda: caros, comprados ou ganhos, para ocasiões muito especiais, acima de R$200

– Intermediários: para ocasiões formais (jantar refinado, presente), entre R$100-150

– Diários: baratos, para consumo rápido e alta rotatividade, abaixo de R$45

Proporção aproximada (varia de acordo com o perfil pessoal):

– 66% tintos, 32% brancos, 2% rosados

Sugestão para uma adega de cerca de 100 garrafas:

De acordo com a divisão geográfica, pode-se sugerir:

TINTOS BRANCOS ROSADOS
EUROPA 22 14 2
NOVO MUNDO 12 6
AMÉRICA 32 12
TOTAL 66 32 2

 

Sugestão para escolha de 38 europeus:

França: 8 tintos, 4 brancos (Champagne ou doce inclusos), 2 rosados

Itália: 5 tintos e 2 brancos

Espanha: 5 tintos e 2 brancos

Portugal:  4 tintos (sendo 1 Porto família Ruby), e 3 brancos (1 Porto Tawny)

Alemanha e/ou Áustria: 2 brancos

Hungria: 1 branco (Tokay)

Sugestão Novo Mundo de 18 vinhos:

Austrália: 4 tintos e 2 brancos

Nova Zelândia: 2 tintos e 1 branco

África do Sul: 2 tintos e 2 brancos

Estados Unidos: 4 tintos e 1 branco

América do Sul (rápido consumo/renovação constante – 44 vinhos):

Argentina: 12 tintos, 2 brancos

Chile: 12 tintos, 6 brancos (incluindo Late harvest)

Brasil: 6 tintos, 4 brancos (incluindo espumantes)

Uruguai: 2 tintos

 

OPÇÕES POR PAÍS, UVA OU REGIÃO

FRANÇA

3 tintos de Bordeaux, 2 tintos da Borgonha, 2 tintos do Rhône, 1 tinto do Languedoc, 1 rosado da Provence, 1 rosado do Loire, 1 branco seco do Loire (Muscadet ou Vouvray) ou da Alsace, 1 branco doce de Bordeaux, 2 brancos espumantes (Champagne).

ITÁLIA

2 tintos do Piemonte, 2 tintos da Toscana, 1 tinto do norte (Trentino Alto Adige) ou sul (Sicilia, Campania, Abruzzi), 1 branco (Verdicchio, Vermentino ou Garganega), 1 branco da Campania ou Sicilia (Falanghina, Inzolia ou Catarrato).

ESPANHA

2 tintos da Ribera Del Duero, 2 tintos de Rioja, 1 tinto (Toro, Navarra, Priorato ou Jumilla), 1 branco Rioja ou Rueda, 1 branco Cava (espumante) ou doce (Jerez).

PORTUGAL

3 tintos (Douro, Alentejo, Bairrada ou Dão), 1 tinto fortificado (Porto: Vintage, Ruby ou LBV), 3 brancos: 2 Alvarinhos e 1 Douro (pode ser Porto branco ou Tawny).

 

ESTADOS UNIDOS (California, Washington, Oregon)

tintos: escolha entre Shiraz, Petite Sirah, Cabernet Sauvignon ou Corte bordalês, Zi4 nfandel ou Pinot Noir, 1 branco Chardonnay (Napa) ou Riesling de Washington.

AUSTRÁLIA

4 tintos: Shiraz ou Cabernet ou mescla Cabernet-Shiraz ou Shiraz-Grenache, 1 branco Chardonnay, 1 branco Riesling (Eden Valley).

ÁFRICA DO SUL

2 tintos (uva Pinotage ou Cabernet Sauvignon ou corte bordalês), 1 branco de Sauvignon Blanc e 1 branco de Sémillon.

ARGENTINA

6 tintos de Malbec simples, 2 Malbecs de melhor porte, 2 tintos de mescla de uvas (Cabernet-Merlot-Malbec), 2 vinhos de alta categoria (Blend ou Malbec), 1 branco de uva Torrontés e 1 branco de Chardonnay.

CHILE

2 tintos de Syrah, 2 tintos de assemblage, 2 tintos de Cabernet Sauvignon, 2 tintos de Pinot Noir, 4 tintos de categoria superior, 2 brancos doces de sobremesa (late Harvest), 2 brancos de Chardonnay, 2 brancos de Sauvignon Blanc.

BRASIL

2 tintos de Merlot da Serra Gaúcha, 2 tintos da Campanha, Serra Catarinense ou Vale do São Francisco, 2 tintos “tops de linha”, 1 branco da Campanha ou Serra, 3 brancos espumantes da Serra Gaúcha.

ADEGA DE 40 GARRAFAS

Para uma adega de cerca de 40 garrafas:

– 28 tintos, 10 brancos e 2 rosados

De acordo com a divisão geográfica, pode-se sugerir:

TINTOS BRANCOS ROSADOS
EUROPA 6 4 1
NOVO MUNDO 4 2 0
AMÉRICA DO SUL 18 4 1
TOTAL 28 10 2

Texto de André Logaldi

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2 thoughts on “Composição de uma adega de 100 garrafas”

  1. Olá meu amigo, gostei muito de ler a sua sugestão, deixe-me só fazer uma “achega”: não incluiu os vinhos verdes, que acompanham melhor que qualquer outro vinho, pratos de marisco, e que só encontra na região do Minho em Portugal. Um Abraço

  2. Olá Pedro, a cave ideal mínima creio que deve conter 200 garrafas! Em todo o caso, não deixei o Minho de fora pois sugeri 2 Alvarinhos, mas tudo isso é um mero modelo a ser manipulado ao gosto de cada um! Abraço
    André Logaldi

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