Os Estados Unidos da América, já há bom tempo ocupa o posto de 4º maior produtor de vinhos do mundo (dados OIV 2007 – apesar da data é o mais recente parâmetro estatístico oficial), atrás apenas do “trio de ferro” europeu (França, Itália, Espanha). E a viticultura na América continua crescendo, subindo em 9% contra uma tendência global de queda de -0,3%. O consumo também está em alta, com 9,2 litros per capita/ano, número ainda modesto quando comparado aos do Velho Mundo.

Mas a história dos EUA é a história de um “Novo Mundo”, por isso recente, ainda mais num país que viveu quase 14 anos sob repressão severa ao consumo de álcool.

A HISTÓRIA

Num dos mais notáveis territórios dedicados à uva Pinot Noir, Russian River (Sonoma Valley), tudo começou após a “Corrida do Ouro” no século XIX, a princípio com a uva Zinfandel, e em 1880 com a Pinot Noir. Mas após a “devastação política” que foi a “Lei Seca”, que vigorou de janeiro de 1920 a dezembro de 1933, as plantações foram retomadas com timidez por heróis como Inglebrook, Beaulieu e Beringer, que por volta de 1936 passaram a replantar uvas como Cabernet e Pinot Noir em lugar de Petite Sirah, Palomino e Alicante.

Pode-se dizer que o espírito de Baco só não morreu definitivamente porque a “Prohibition Act” (Lei Seca) permitia a vinificação não-industrial (“home winemaking”). À partir de 1960, tudo se acelerou.

O vinho que sempre recordo ser mais que um hábito, mas um elemento da sociologia, seguiu paulatinamente na América as normas de condutas sociais baseadas em seus preceitos religiosos e também abraçou com ardor as “verdades” científicas vigentes sem relativizá-las!

Vejam a sequência dos fatos que culminaram na Lei Seca:

  • · Dr. Magnus Huss reconhece o alcoolismo como doença em 1849 (Suécia)
  • · “Epidemias de comportamentos anti-sociais”: correntes proibicionistas
  • · 1851: Maine estabelece restrição ao álcool
  • · 1855: primeira “cidade-seca” da história: Evanston-Illinois

TERROIR RESUMIDO

  • · Napa Valley (North Coast): Clima morno e seco (com insolação similar à Bordeaux); grande variedade de solos, área de Cabernet Sauvignon
  • · Sonoma Valley (North Coast): de clima mais frio em Russian River e Los Carneros (favoráveis para Pinot Noir e Chardonnay); Solos finos, forte influência de ventos marítimos, névoas matinais
  • · Central Coast (San Joaquin Valley): Região mais quente; Monterey e Santa Barbara: vinhos brancos, Pinot Noir
  • · South Coast (San Diego): dias quentes, noites frias, brisas oceânicas.

 

OUTRAS REGIÕES

Vou brevemente comentar a seguir mais duas áreas de viticultura (AVA) relativamente recentes, com pouco mais de vinte anos de reconhecimento, citando duas respectivas notas de degustações de vinhos que são achados para a compra no Brasil (um deles é de “vinhedo único”).

MENDOCINO COUNTY

AVA desde 1984, ocupa a Costa Norte, vizinha de Sonoma County e tem na sub-região de Anderson Valley, clima altamente propício ao cultivo de Pinot Noir.

Vinho: Willowbrook Mendocino 2007 (Wine Lovers) – R$ 119

100% Pinot Noir com passagem de 11 meses em carvalhos franceses de grão ultra-finos.

Varietal corretíssimo, com cor rubi de média concentração, diferente dos pinots chilenos/argentinos que tem cor muito profunda. Aromas deliciosos de fruta confitada, notas terrosas, minerais (lembra alcatrão), floral, fino tostado remetendo a café. Elegantíssimo na análise olfativa. Na boca tem corpo médio, acidez refrescante, álcool levemente saliente, taninos de boa qualidade, notas de frutas frescas e média a boa persistência. Nota: 90/100 pts.

MONTEREY – SANTA LUCIA HIGHLANDS

AVA desde 1991, são cerca de 2380 hectares de vinhedos dos quais 46% são de Pinot Noir, 34% de Chardonnay e o restante de outras castas, com algum interesse maior na Syrah. Altitude e noites frias tornam o terroir receptivo às castas da Borgonha.

 

Vinho: Siduri Rosella’s Vineyard 2007 (Smart Buy Wines) – R$ 257

 

Uma mistura de clones de Pinot Noir (como Dijon e Pommard) nas terras altas de Monterey, California, passa 10 meses em carvalho francês, 80% novos. Pinot Noir típico, dos melhores exemplares “novomundistas”, sobretudo Austrália e Estados Unidos. Rubi translúcido, brilhante, lágrimas numerosas e rápidas. Aromas intensos de frutas vermelhas frescas e finamente confeitadas, especiarias, notas florais, tostado elegante e algo de cogumelos. Boca macia, prima pelo equilíbrio perfeito entre álcool e acidez, taninos de ótima qualidade, boa persistência em meio à notas frutadas e terrosas, sob fundo empireumático. Nota: 92/100 pts.

Avaliações e texto de André Logaldi.  Crédito da imagem de abertura: site Pinot File

A região de Russian River Valley é a de cor turquesa. Crédito do mapa: site Pinot File

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