O Languedoc-Roussillon é antes de tudo, uma região que tende a ser subestimada por aqueles que não o conhecem, por motivos diversos, o principal deles um jeito estagnado de enxergar o mundo dos vinhos! Tal como quem ainda insiste em dizer verdades que foram soterradas há anos, como dizer que os vinhos da Califórnia são exagerados na baunilha (madeira) e coisas do gênero.

A região passou por uma fase ruim que o próprio mercado interno tratou de corrigir, com modernização das cantinas, arrancamento de castas que davam vinhos a granel e rústicos, entre outros fatores técnicos. O que se vê hoje é a preocupação crescente com a qualidade e melhor captação das potencialidades do terroir, que conta com excelente insolação, variedade de solos, ventos protetores do ponto de vista fitossanitário, áreas de altitudes, enfim, microclimas que ainda estão sendo bem explorados tanto que há uma série de micro-regiões em vias de conseguir suas próprias “denominações de origem” junto ao I.N.A.O. (Instituto Nacional de Apelações de Origem).

Alguns vinhos destas pequenas regiões, que são fortemente consumidos em países como os Estados Unidos, também são encontrados no Brasil por preços muito bons pela qualidade que oferecem. Numa eventual prova às cegas, se me pedissem para tentar adivinhar o preço dos vinhos, eu com certeza palpitaria que valem, no mínimo, o dobro do que realmente custam nas importadoras.

As regiões/terroirs dos vinhos que comentarei são:

Pic St. Loup (Coteaux du Languedoc)

Fitou

Minervois La Lavinière

OS VINHOS

BERGERIE DE L’HORTUS CLASSIQUE 2009

Produtor: Domaine de l’Hortus – Pic St. Loup

Álcool: 13,5% – Preço: 71,10 (Importadora Delacroix – tel. 011 – 3097-8917)

A região fica entre grandes elevações naturais que são a montanha de l’Hortus e o Pic St. Loup. A propriedade, de Jean Orliac, utiliza técnicas de cultivo orgânicas. A região de Coteaux du Languedoc, onde está Pic St. Loup, é de um terroir rico em xisto, calcário e seixos rolados (tal como Chateauneuf-du-pape), que dá caráter aos seus vinhos. O vinho passa 10 meses em tonéis de aço. Corte de 50% de Syrah, 27% de Grenache e 23% de Mourvèdre.

Coloração rubi de média a boa intensidade, as lágrimas ainda tingem levemente a taça. Aromas intensos a framboesas e amoras, especiarias e violetas. Seco, boa acidez, álcool equilibrado, corpo médio-plus, taninos bem presentes com boa qualidade resultando em textura macia, persistência média a longa. Nota: 89/100 pts.+

CHÂTEAU DES ERLES “CUVÉE DES ARDOISES” 2009

Produtor: Domaine François Lurton – Fitou

Álcool: 14% – Preço: R$73,00 (Importadora Zahil – tel. 011 – 3071-2900)

Fitou é AOC desde 1948 e só contempla vinhos tintos, geralmente de vinhas velhas, dando vinhos de bom corpo e potencial de média guarda. A família Lurton é lenda bordalesa, proprietários do Château Bonnet, revolucionários natos, modernistas. Tanto que o vinho é feito de um corte de 30% de Syrah, 40% de Grenache e 30% de Carignan (uva que há poucas décadas era a mais plantada da França). O detalhe original é que a Grenache e a Carignan são vinificadas por maceração carbônica, tal como nos Beaujolais Nouveaux! Passa 12 meses em carvalho francês.

Rubi escuro e denso, halo violáceo, brilhante, lágrimas fartas. Aromas intensos de frutas escuras, café torrado, especiarias, violetas e framboesas. Seco, boa acidez, álcool bem integrado, encorpado, taninos de ótima qualidade, textura sedosa, deixando longo final rememorando notas de torrefação e frutas. Nota: 90/100 pts.+

MINERVOIS ESTIBALS 2007

Produtor: Domaine l’Ostal Cazes – Minervois

Álcool: 14,5% – Preço: R$ 95,00 (Importadora Mistral – tel. 011 – 3372-3400)

Minervois é uma região montanhosa que sofre tanto influências do Atlântico como do Mediterrâneo, enquanto a maioria do Languedoc tem mais traços mediterrâneos. Os vinhos tendem a ser potentes e longevos. O corte tem 30% de Syrah, 35% de Grenache e 35% de Carignan, vindos de uma parcela específica, “Les Estibals”. Passa 12 meses em carvalho francês. Os donos, a família Cazes, são também proprietários do prestigiadíssimo Château Lynch Bages, em Bordeaux, além da parceria com a família Roquette no Douro, onde produzem o sensacional “Xisto”.

Coloração rubi escuro, lágrimas que tingem o bojo da taça, lágrimas numerosas. Aromas de média intensidade, se abriram paulatinamente, mostrando notas de bacon que foram sendo seguidas por aromas de frutas escuras, especiarias e nuances florais. Seco, de boa acidez, álcool imperceptível, grande corpo, se desenvolve em camadas, explode no palato em notas de especiarias e aromas de  ervas frescas (alecrim). Longa persistência. Nota: 91/100 pts.

Além das importadoras citadas acima, há outras que tem trazido boas opções do Languedoc. Uma delas, em Belo Horizonte, a Casa do Vinho, que traz algumas destas micro-regiões como “La Clape”. Estou em vias de provar um destes num futuro próximo (já encomendei com amigos!). Saúde! Santé!

Avaliações e texto de André Logaldi

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