Quando escrevi sobre vinhos para quem está começando, citei o conceito de “vinho universal”, ou seja, o estilo de vinho capaz de comportar dezenas ou centenas de rótulos e denominações ao longo de todo o mundo vinícola e cujas características essenciais são: qualidade e preço!

Estes vinhos podem ser coringas para o consumidor médio, sobretudo em restaurantes, um dos locais onde infelizmente ainda corremos o risco de experimentar as bárbaras flutuações da “livre-especulação” de preços (mesmos vinhos de mesmas safras podem ter variações de 15-300% senão mais, conforme o local visitado).

EXPECTATIVAS DE CONSUMO

Não é por casualidade que toda vez que se oferece dicas de vinhos, o quesito custo-benefício se sobrepõe sobre outras qualidades como a raridade ou nobreza de um vinho. Se eu postar impressões de três safras de Mouton-Rothschild terei bom, acesso, mas se eu postar que degustei um dos melhores vinhos da minha vida, pagando menos de cem reais, o interesse explode!

Portanto entre nós, os não-ricos e não-pobres, a experiência gastronômica é válida quando desfrutamos o que de melhor qualidade um montante razoável de dinheiro puder pagar, incluindo o vinho. Se você gostaria de provar um soberbo vinho e crê que a ocasião acaba de chegar, não o compre no restaurante, compre-o numa importadora confiável, depois de pesquisar os preços você saberá quais são e então ligue para o restaurante, pergunte se pode levá-lo e em caso afirmativo, leve-o e pague a taxa de rolha (a menos que você realmente possa pagar por ele!!).

OS CRUS DE BEAUJOLAIS

A pequena Beaujolais, ao sul da Borgonha, abriga 10 denominações de “crus”, que na tradição vinícola francesa (e de alguns vizinhos também), se refere a vinhedos de qualidades singulares, gerando vinhos com certas distinções.

Particularmente, esta região sofre com preconceitos que ostentam uma opinião pouco racional, de que ali se fazem vinhos “menores”. Não se pode afirmar que haja vinhos inferiores, quando se trata de expressão de um dado terroir! É uma linha tênue de compreensão! Há sim, em toda parte, vinhos bons e medíocres, mas o melhor de uma região, seja qual for, sempre será um bom vinho. Se ele agrada o paladar de todos é outra questão!

São eles:

Brouilly

Côte-de-brouilly

Chénas

Saint-amour

Régnié

Chiroubles

Juliénas

Fleurie

Morgon

Moulin-à-vent

Os cinco primeiros podem ser tidos como os mais “leves”, os três seguintes de médio corpo e intensidade e enfim, os dois últimos, as estrelas da região.

Nem pense em compará-los aos Beaujolais mais simples e muito menos com os Noveaux! Alguns possuem capacidade de envelhecer na garrafa por 6-10 anos e são vinificados de forma bem diferente dos demais.

Possuem bela cor púrpura na juventude, exalando notas de frutas vermelhas (lembrando “Kirsch”), violetas, às vezes almiscarados, amadeirados e até minerais!

O reconhecimento exige a memorização, mas compensa, pois vários deles são verdadeiros vinhos universais, capazes de acompanhar uma refeição com elegância, dando satisfação a baixo custo.

NÃO vou falar sobre todos! Meu texto é uma dica e não um relatório oficial! Pois bem, aí vão:

DICAS FINAIS E PARTICULARIDADES

Todos são feitos de uva Gamay (havia permissão de utilização de outras uvas, incluindo a Pinot Noir, nos Brouilly e Côte-de-brouilly)

NÃO são vinhos de maceração carbônica!

Vários possuem suas AOC (denominação de origem) antes mesmo dos Beaujolais e Beaujolais-villages! Saint-amour (1946) e Régnié (1988) são os “bebês”!

Até onde sei, apenas o Régnié não é encontrado no Brasil

O Brouilly é o “Rei” que brilha em quase todo bistrozinho de Paris (servido em jarras ou pichets e raramente mencionado, a menos que pergunte)

Existe uma pequena diferença de qualidade em favor do Côte-de-brouilly em relação ao Brouilly (porque seus vinhedos estão nas melhores encostas do Monte Brouilly, um vulcão extinto)

Os preços por aqui podem variar de cerca de R$55-60 até R$120

O Saint-amour é um dos presentes comuns do “Dia dos namorados” francês, que assim como nos Estados Unidos, se comemora no dia 14 de fevereiro

O Fleurie é a melhor opção dos crus de corpo médio

Morgon e Moulin-à-vent, além de serem os mais refinados, encorpados e complexos, são as melhores opções de escolta gastronômica. Bastante presentes em TODOS os bons restaurantes de São Paulo e do país, eles são ótimos para acompanhar:

Carnes de caça: perdiz, codornas, faisão, patos (toda caça “de pena”)

Terrines condimentadas

Frangos, galetos

Queijos de massa mole: Camembert, Brie (o Brie é uma combinação maligna com vinhos tintos muito tânicos! Prefira Chardonnay ou Gamay)

Algumas preparações de cordeiro (“Gigot d’agneau” ou “Stinco”)

Ensopados, “Coq au vin”

Tender à Califórnia, Steak Tartar (excelente opção)

Texto de André Logaldi

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