INTRODUÇÃO

O mês de março infelizmente não foi bom para o nosso blog. Tivemos inúmeros problemas com seguidos ataques de um hacker que insiste em destruir o nosso árduo e diuturno trabalho. Durante três dias o blog ficou fora do ar. No dia escolhido para redigirmos este  editorial (04.04), ficamos durante duas horas fora do ar no período da manhã e à noite. E nos demais ficou instável. A consequência  disso é o atraso na publicação dos posts, que são elaborados por nós, porque não abusamos do “press-release” que são úteis como informativo desde que publicados com alguma parcimônia. Não é o que acontece, mas também esse não é o assunto do momento.

SALVAGUARDAS = EUFEMISMO, NA REALIDADE SÃO MEDIDAS PROTECIONISTAS PLEITEADAS À UNIÃO FEDERAL

Todavia, chegou a hora de externarmos a nossa opinião. Como o leitor sabe, desde o início a nossa postura com relação às famigeradas salvaguardas pretendidas pelo grandes produtores de vinhos nacionais sempre foi contrária. Isso pôde ser notado pela quantidade de artigos publicados na grande imprensa e reprisados com êxito aqui.  Na realidade, o termo salvaguarda, do jeito que está sendo utilizado é um  eufemismo, isto é,  uma mera suavização de um complexo de medidas  (reserva de mercado) que prejudicarão sobremaneira a entrada de vinhos estrangeiros no Brasil, principalmente os europeus, justamente   aqueles que ultimamente vem chamando a atenção dos consumidores e também os vinhos chilenos, que tanto escrevemos neste blog  justamente porque são os vinhos  preferidos dos brasileiros.

Crédito da imagem – Valor Econômico

De outro lado, na recente viagem que fizemos à Serra Gaúcha por convite do Ibravin pudemos constatar “in loco” o atual nível dos vinhos nacionais. Realmente tem produtor investindo na produção de vinho de qualidade. Mas o que pôde ser percebido é que as principais vinícolas estão migrando para a região da Campanha (RS), eis que o terroir tem se mostrado apto para o cultivo de vitis vinifera, muito mais do que na própria Serra.

Os vinhos chilenos, de que tanto os brasileiros gostam, serão atingidos pelas inoportunas “salvaguardas”

O VINHO NACIONAL É BOM, MAS PRECISA MELHORAR AINDA MAIS.

A conclusão a que chegamos depois de degustarmos vários vinhos  é que o caminho a ser seguido ainda está longe de terminar porque é muito longo (por motivos alheios à nossa vontade não publicamos todos posts sobre nossa viagem, mas serão publicados assim que o blog estiver em nova plataforma). Com todo respeito, reforçamos aqui que algumas das pretensões do Ibravin  são ambiciosas demais e estão no plano onírico. E o pior é que poderão se transformar em realidade. P. ex.: no post que fizemos denominado “Projeto Imagem Ibravin 2012 – degustação Vinhos mais exportados em 2011” https://blogdojeriel.com.br/2012/03/projeto-imagem-ibravin-2012- degustacao-vinhos-mais-exportados-em-2011/ , citamos declaração da Gerente de Exportações da “Wines of Brazil” que fez a seguinte afirmação: “Nosso planejamento estratégico tem como objetivo  posicionar o vinho brasileiro entre os melhores do mundo (o grifo é deste escritor). Por isso, não privilegiamos quantidade ou volume exportado e sim a conquista de bons preços para nossos rótulos”. Ora,  pelo que pudemos observar,  a qualidade melhorou….mas pode melhorar ainda mais e antes de conquistar o mundo, os vinhos nacionais tem que conquistar os brasileiros, sem subterfúgios, sem salvaguardas ou qualquer medida protetiva que colocará os importadores e pequenos produtores em flagrante desvantagem.  Na realidade essas “salvaguardas” são um verdeiro “subterfúgio” desses produtores que necessitam da proteção estatal para auferirem mais lucros (o grandes promotores dessa iniquidade já importam vinhos, isso reforça a nossa convicção de que o que querem é na realidade monopolizar o mercado de vinhos no Brasil). É aquela velha história – os prejuízos são repartidos com a sociedade (aqui personificada pelo Estado brasileiro, a União Federal) e os lucros são apropriados por poucos…

Os vinhos italianos, largamente preferidos por muitos “ítalos-paulistanos” serão prejudicados pelas “Salvaguardas”

É consabido que os principais produtores gaúchos por muito tempo nunca se preocuparam em melhorar a qualidade de seus vinhos (o grifo é nosso), até porque o foco era justamente o dos vinhos popularmente conhecidos como “vinhos de garrafão”, baratos e rentáveis. Na década de 1990 (com a abertura do mercado)  passaram a produzir um vinho de qualidade melhor, eis que até então, um ou outro produtor se destacava na produção de vinhos finos. Justamente por isso, aqui em São Paulo sempre se consumiu vinho importado. Assim, a aplicação das famigeradas Salvaguardas implicará numa profunda intervenção num mercado que sempre se regeu por regras próprias. Ora, um dos principios basilares da economia de mercado é o da liberdade de escolha. A aplicação dessas medidas, quer com aumento de imposto quer pelo estabelecimento de quotas, provocará uma profunda retração nas  vendas. E, como sempre, a parte mais frágil e vulnerável dessa relação é o trabalhador, que certamente perderá seu emprego. Alguns importadores já acenam com a possibilidade de cortar cerca de 30% do efetivo do quadro de empregados!

A França, é o mais tradicional produtor de vinhos do Velho Mundo. Seus vinhos serão prejudicados com a adoção das “Salvaguardas”

O PRODUTOR NACIONAL PRECISA APRENDER A DIVULGAR E VENDER SEUS PRODUTOS DA MESMA MANEIRA QUE OS IMPORTADORES FAZEM: INVESTINDO EM MARKETING E NAS MÍDIAS SOCIAIS

Os grandes produtores nacionais devem ampliar sua participação no mercado brasileiro trabalhando da mesma maneira que os (bons) importadores trabalham, divulgando a marca, fazendo investimentos em marketing, promovendo feiras, eventos, acreditando nas mídias sociais (aqui em São Paulo alguns importadores fazem um trabalho formidável com essas mídias porque acreditam nelas e obtém retorno), contratando “promotores” para servir vinhos em supermercados, enfim, disputando em igualdade de condições  sua fatia no mercado, possibilitando assim que o público tenha a oportunidade de conhecer  o bom vinho brasileiro (nunca vimos um grande produtor  fazer nada disso);  também não deve ser descartada a luta pela desoneração do setor,  a extinção da substituição tributária e de outros penduricalhos legais que só encarecem o vinho, inclusive a extinção de outra filigrana que veio de Brasília por iniciativa dos defensores das salvaguardas,  o  indigitado “Selo Fiscal”, cuja legalidade está sendo amplamente questionada na Justiça Federal.

Os vinhos espanhóis, que gradativamente estão ganhando espaço no mercado, serão afetados pelas inoportunas “Salvaguardas”

ALGUMAS INDAGAÇÕES

Por que não existe uma “Casa do Vinho Nacional” em São Paulo? Por que essas vinícolas nacionais de grande porte ao invés de bater as portas do governo pedindo reserva de mercado não se submetem ao mercado?  Quantos importadores de pequeno porte  encerrarão suas atividades por conta dessas malfadadas medidas de intervenção no mercado de vinhos de todo Brasil? Quantos pequenos produtores sofrerão com o boicote ao vinho nacional, já que a provação dessas medidas é apenas uma questão de tempo?

Ao menos aqui em São Paulo, se as “Salvaguardas” forem aprovadas (e tudo indica que serão), o dano ao vinho nacional será irreversível. Os paulistas  que provavelmente  serão acompanhados pelos demais não admitirão essa imposição e dificilmente o vinho nacional conseguirá substituir o importado. Os produtores nacionais terão dificuldade de ampliar sua participação no mercado e como já dito, as consequências serão enormes. Os consumidores procurarão se abastecer  nos Frees Shops, em Foz de Iguaçú, enfim, o espaço para  criatividade será grande  e certamente “o  jeitinho brasileiro” será a justificativa para abastecer a adega com vinhos importados da preferência de cada um…

SOMOS CONTRÁRIOS AO BOICOTE DO VINHO NACIONAL NOS RESTAURANTES

Não estamos defendendo medidas duras como a retirada de vinhos nacionais das cartas dos restaurantes. Até porque, temos conhecimento de que esses vinhos não vendem bem (veja artigo https://blogdojeriel.com.br/2012/04/alguns-depoimentos-contrarios-as-salvaguardas/vide depoimento. Alex Atalla). Por quê? Simplesmente porque custam caro  não  somente por conta da tributação (o vinho nacional deveria ser considerado “alimento” e não bebida alcooólica para essa finalidade), mas porque existe muita desconfiança sobre a qualidade do produto e também porque alguns produtores aplicam margens exageradas de lucros. E nesse “imbroglio” produtores nacionais de pequeno porte acabam por ser prejudicados. Uma pena. Saliento que apenas um grande produtor de vinhos nacionais conseguiu colocar seus vinhos nas cartas dos bons restaurantes aqui de São Paulo, todavia, a relação preço-qualidade desse vinho é muito fraca. Perde  de longe para argentinos e chilenos da mesma faixa de preço. Então para que boicotar? Salvo melhor juízo, não vejo plausibilidade nessa tese.

Vinhos portugueses, com ampla aceitação no Brasil serão afetados pelas “Salvaguardas”

A NOSSA OPINIÃO – NÃO QUEREMOS AS SALVAGUARDAS!

Enfim, o tema é por demais complexo para ser analisado num só artigo. Muito do que está escrito “hic et nunc” já foi repisado na mídia e inclusive nos blogs, alguns, por sinal,  bastante combativos, outros nem tanto – preferem o silêncio sepulcral do que dizer alguma coisa. Não queremos as “Salvaguardas”. Isso trará consequências deletérias ao mercado de vinhos do Brasil, inclusive vislumbramos que o maior prejudicado será o próprio vinho brasileiro. E não vamos passar a odiar o vinho nacional se isso acontecer. Mas muita  gente vai, até porque haverá o cerceamento ao direito da liberdade da escolha, um dos pilares do sistema  de “livre mercado”, consagrado pelo legislador constituinte de 1998, nos termos do inciso IV do artigo 1° da Constituição Federal de 1988, a seguir transcrito: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: ….IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”

Por tudo isso Salvaguardas não!

Jeriel da Costa

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