Falar de vinhos do Alentejo é muito bom, porque sabe bem quem já os bebeu, de sua fruta fácil, seu reflexo do sol que lá bem sobra. Aliás, o astro-rei parece ser tão apetecido à estas plagas, de enormes latifúndios, que não há de ser impossível que alguém seja “surpreendido em flagrante delito de preguiça para o trabalho” (palavras de José Saramago em “A história do cerco de Lisboa”).
O sol pode ser tão avassalador ao espírito, que o grande enólogo alentejano Paulo Laureano costuma, sob risos, descrever que só existem três velocidades possíveis nesta província: devagar, devagarinho e parado!
Mas nos vinhos vemos que o trabalho é feito, e muito bem!
A GRANDE PROVÍNCIA
Trata-se da maior delas em Portugal, uma vastidão de terras áridas, onde pouco se nota a influência marítima, uma vez que devido à falta de montanhas, a umidade não se condensa nesse tipo de barreira e acaba por se perder. As poucas serras existentes ajudam a definir os microclimas ideias para os melhores vinhedos, que se espalham por 8 pequenas sub-regiões que ostentam a DOC Alentejo. Os vinhos fora destas áreas recebem no rótulo a indicação “Vinho Regional Alentejano”.
AS CASTAS E AS SUB-REGIÕES
Com solos xistosos e graníticos, algumas sub-regiões como as da Serra de São Mamede, com altitudes de até 1000 m, podem oferecer distinção para os vinhos, como Portalegre. Também prestigiada e clássica é a região de Reguengos, a maior das oito, reduto de videiras muito antigas. Após a crise da filoxera, Reguengos superou a outrora mais famosa área de Évora, que teve seu renascer há cerca de 30 anos.
O clássico corte alentejano deve conter as uvas Aragonez (Tempranillo), Trincadeira e Alicante Bouschet. Mas há outras variedades de prestígio, desde a aclamada Touriga Nacional até castas internacionais, principalmente Cabernet Sauvignon e Syrah. Castelão é presença constante em vinhos jovens e frutados!
O QUE ESCONDE UMA GARRAFA DE UM ALENTEJANO?
Com tanto sol, a cor vai do concentrado ao impenetrável, sobretudo se houver a presença da tintureira Alicante Bouschet.
Espere aromas intensos de geléia de frutas vermelhas, especiarias, notas herbáceas típicas como a esteva (nunca cheirei esteva!! Mas verá que é algo que lembra vegetal sem se parecer com vinhos de nenhum outro país).
Vinho de clima quente: no geral espere álcool balanceado por muita fruta, acidez, taninos tendendo ao redondo, gastronômicos!
Um vinho alentejano médio é amigo da boa mesa, companheiro de refeições simples e muito indicado para acompanhar o bacalhau, para os que preferem os tintos! Vai bem com quase tudo, do hamburguer e da pizza até um leitãozinho. Recorrendo ao léxico da terrinha, é um vinho para “se beber às tarraçadas” (mas bebam com moderação!)! Saúde!