Há algumas semanas tive a grande satisfação de estar de volta à Delacroix (importadora de vinhos franceses de cultura sustentável) para uma degustação muito mais prazerosa do que didática, colocando lado a lado uma pequena escala hierárquica de vinhos das duas maiores escolas de vitivinicultura do planeta!

Cada região contribuiu com três vinhos, de vinhedos de vocações diferentes, com seu próprio estilo de vinificação e obedecendo uma escala ascendente de complexidade, que se desenhou mais nítida e uniformemente entre borgonheses do que bordaleses, criando assim, um estímulo para reflexões descompromissadas sobre os por ques disso!

ARTISTAS E COADJUVANTES

Numa intenção hedônica e cultural, os ótimos vinhos foram acompanhados de duas terrines, cada qual expressando suas raízes também: uma bordalesa e uma borgonhesa (uma mais picante outra suavemente adocicada).

Os deliciosos caldos foram dispostos em três pares, o primeiro de vinhos jovens e frutados, o segundo agregando complexidade maior e por fim, duas realmente grandes obras do terroir, de grandes potenciais.

A HARMONIZAÇÃO

Como se espera, cada terrine se casou melhor com os vinhos de sua origem. Todavia, a combinação dos borgonheses com a terrine conterrânea se mostrou muito mais saborosa do que bordaleses e sua correspondente. Na harmonização “cruzada” porém, apesar de muito boa, os vinhos da Borgonha careciam de mais força, enquanto os de Bordeaux se impunham sobre a iguaria.

OS VINHOS

Apresentando-os aos pares na sequência degustada:

PAR #1 (O FRESCOR DA JUVENTUDE)

BORDEAUX

CHÂTEAU DU CHAMP DE TREILLES “PETIT CHAMP” 2010 – Preço: R$ 75

60% Merlot, 30% Cabernet Franc, 7% Cabernet Sauvignon, 3% Petit Verdot

Sainte-Foy Bordeaux (Entre-deux-mers)

Produto de entrada de um vinhedo de apenas 10 hectares, de grande densidade de videiras (idade em torno de 60 anos), colheita manual, fermentação com leveduras nativas e sem maceração (as uvas são descascadas)! Não passa por madeira.

Rubi acerejado com halo violáceo, pleno de aromas de frutas vermelhas maduras e notas florais e balsâmicas. Boa acidez e equilíbrio, corpo médio, taninos elegantes e final frutado a ameixas, com média persistência. Tem 14º de teor alcoólico.

Jovial, rico em aroma e sabor, deve ser servido fresco (14-16º)

BORGONHA

DOMAINE JEAN-CLAUDE RATEAU “BOURGOGNE” 2011 – Preço: R$ 95

100% Pinot Noir

Também um vinho de “entrada”, provém de vinhedos do reputado vilarejo de Pommard, na Côte de Beaune. Solos calcários profundos, vinhas de 50 anos, passa por barricas velhas de carvalho, por 8 meses, em contato com as leveduras (“sur lies”). Álcool de 12,5º

Possui uma coloração ímpar, muito brilhante, de tons de framboesas frescas, translúcido como convém à tipicidade da uva deste terroir. Aromas expressivos e delicados de cerejas e groselhas, especiarias, azeitonas pretas e notas florais. Ótima acidez, frutado, pouco tânico, média persistência.

PAR #2 (DENSIDADE EM EVOLUÇÃO)

BORDEAUX

CHÂTEAU PAUL & PASCALE BARRE “CH. LA GRAVE” 2008 – Preço: R$ 143

85% Merlot, 15% Cabernet Franc

Bordeaux-Fronsac (Rive Droite)

Corte típico de margem direita, o “castelo” existe desde o século XIV na charmosa vila de Fronsac. Paul Barre é um produtor referencial da biodinâmica, cuja filosofia está integrada ao seu terroir de 2,7 hectares há mais de vinte anos. Passa 12 meses em barricas de carvalho francês e tem 12,5º de álcool.

Rubi não evoluído ainda, concentrado. Aromas de frutas vermelhas bem maduras, especiarias e floral. Boa acidez, álcool integrado, corpo médio, a presença tânica se faz sentir, embora de boa qualidade. Média persistência, boa fruta no final, porém aqui é onde eu advertia que o “salto” em relação ao vinho precendente da mesma região foi menos marcado!

BORGONHA

DOMAINE C&C MARECHAL SAVIGNY LES BEAUNE 2007 – Preço: R$ 178

100% Pinot Noir

A propriedade nasceu em 1981, com Catherine e Claude Marechal cultivando 10 hectares de vinhas espalhadas por seis comunas (Côte de Beaune)! Este vinho vem de um terroir de 1,6 hectares, feito com leveduras naturais, maceração por 20 dias e 12-18 meses de barricas francesas, também usando a técnica sur-lies.

A coloração é a “clássica” rubi translúcido e a expressão de aromas dá mostras de como o terroir faz diferença na região! Aromas intensos de frutas vermelhas maduras, rico floral, especiarias, azeitonas, notas terrosas (champignons) e o inenarrável (para os franceses) perfume de pitangas frescas! Um vinho elegante, de ótima vivacidade (acidez), bom equilíbrio, corpo médio e boa persistência, repleta de sabores de pitangas e azeitonas pretas. Delicioso! Álcool: 13º

PAR #3 (OS VINHOS EXCEPCIONAIS)

BORDEAUX

DOMAINE IRIS DU GAYON 2010 – Preço: R$ 285

70% Cabernet Sauvignon, 20% Petit Verdot, 10% Merlot

Pauillac (Rive Gauche)

Pierre Siri talvez se belisque todos os dias ao se lembrar que possui 1 hectare de videiras em Pauillac quase no meio entre Mouton-Rothschild e Lafite-Rothschild! Sua propriedade pequeníssima (quase um nicho de espírito borgonhês) produz apenas 3.600 garrafas por ano! Metodologia orgânica, barricas francesas por 12 meses e necessidade de decantação prévia por um bom par de horas. Álcool: 13º

De enorme potencial e muito jovem, tem coloração violácea densa, muito brilhante. Aromas que se desenvolvem aos poucos (mesmo decantado) e encantadores, a frutas vermelhas maduras (framboesas saltam), notas de especiarias, defumado e presença de madeira nobre com toques de cedro. Arrebata o palato com boa concentração, maciez, equilíbrio, encorpado, taninos densos e maravilhosamente polidos, final longo e pleno de fruta madura. Potencial de guarda grande mas já pronto!

BORGONHA

DOMAINE DU COMTE ARMAND POMMARD 1ER CRU 2008 – Preço: R$ 306

100% Pinot Noir

A família de Comte Armand é dona dos vinhedos desde o século XVIII, estabelecidos na comuna de Pommard, na Côte de Beaune, que se por um lado é reputada pelos grandes vinhos brancos, possui em Pommard e Volnay uma marcante personalidade de tintos.

Pommard, de acordo com a geologia, divide-se entre pequenas regiões que dão vinhos austeros e outras que mesclam concentração e elegância, tanto que é candidata a receber o primeiro título de “Grand Cru” desta AOC (Clos des Épenaux).

As vinhas tem de 50 a 85 anos, colheita manual, carvalho francês (40% novo) por 20 meses. A cor é rubi de média concentração, leve halo aquoso, aromas elegantes e típicos de frutas confeitadas, especiarias, sous-bois, notas florais e balsâmicas. Um corpo médio, em grande equilíbrio, taninos presentes e finos, final longo trazendo frutas, incluindo uma nuance das pitangas. Elegância é a palavra!

Agradeço Daniel Toledo e Geoffroy de la Croix por mais esta oportunidade de uma degustação conduzida com bom gosto e lembrando que é aberta a todos, bastando se cadastrar para receber as informações de novos vinhos e eventos!

Santé!

www.delacroixvinhos.com.br

 

André Logaldi

 

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