Tempos atrás, postei uma foto no Facebook de alguns vinhos que encontro jogados no lixo, devidamente bebidos graças a Deus, nas caçambas espalhadas pelas ruas do bairro (Jardins). Minha curiosidade era estabelecer uma pequena reflexão estatística sobre o que andam degustando na região.

Gostaria mesmo de ter contabilizado e fotografado tudo. Algumas vezes o fiz, outras não. Encontrei várias coisas e ainda bem, nem sempre as óbvias: achei que iria ver uma esmagadora preponderância de chilenos, argentinos e Proseccos, mas o que notei foram além dos citados, vários franceses (St-Émilions), alguns italianos, sul-africanos, brasileiros e também Champagnes!! E é sobre esta última que abrirei os trabalhos de “investigação da vida enofílica alheia” (porém preservando secretas as identidades que, aliás, nem mesmo eu poderia saber).

Vou desvendar agora as entranhas desta motivação eno-literária!

QUE ESPÉCIE DE TRABALHO É ESSE?

Adoro ler e escrever! Como tenho um currículo que vai além do ensino fundamental, onde fui alfabetizado, achei que era desperdício passar o resto da minha vida sem exercitar o que me foi tão gentilmente ensinado!

O segundo ponto é a curiosidade. Creio que quase todos a possuem, então por que não dividir os resultados desta busca?

ENFIM, O TEMA DESVELADO

Na caçamba de hoje, a garrafa ali deixada era de um Champagne Laurent-Perrier Brut, cuja história de fatalidade remonta ao ano de 1887 quando Eugène Laurent, um vinhateiro champenoise faleceu e deixou o comando desta prestigiada Maison nas mãos de sua esposa, Mathilde-Emilie Perrier (que engrossou então a assustadora lista de viúvas proprietárias de Champagne!).

Mathilde cuidou de tudo até sua morte em 1925. Em grandes dificuldades no entre-guerras, a empresa foi perdendo fôlego até ser adquirida por outra viúva, Marie-Louise Lanson de Nonancourt e seus dois filhos, Maurice (morto num campo de concentração nazista) e Bernard.

Como todos sabem, a região de Champagne fica no nordeste da França e o perfume em questão é uma alusão a uma das filhas de Bernard, Alexandra, que foi consultora artística dos perfumes Paco Rabbane. Alexandra empresta seu nome à uma cuvée rosé safrada.

DUAS OU OITO PALAVRAS SOBRE LAURENT-PERRIER

Fundada em 1812, há precisos 200 anos, apaixonado por Champagnes que sou, simplesmente eu não poderia deixar de escrever algo! A Maison Laurent-Perrier, situada em Tours-sur-Marne (a poucos quilômetros de Epernay) traz consigo algumas marcas de sua personalidade.

A primeira, é que há uma certa dominância na utilização da Chardonnay, um pouco acima da média da região como um todo. As exceções são as cuvées rosés, que tem predomínio de Pinot Noir ou mesmo 100% dela.

O segundo ponto é que normalmente os rosés de Champagne tradicionalmente eram feitos misturando um vinho tinto pronto com o vinho de base. Na Maison Laurent-Perrier as cascas de Pinot Noir maceram junto ao mosto.

Terceira idiossincrasia diz respeito à sua “Cuvée Préstige”. A maioria das Maisons fazem seus vinhos top de safras únicas e excepcionais. A Laurent-Perrier Grand Siècle é uma mescla de três safras estupendas e portanto não safradas!

O quarto quesito diferencial é a intensa preocupação em colher frutos saudáveis e maduros, com uma menor acidez (embora sem jamais perder o frescor!). O resultado é um vinho expressivamente frutado, com uma acidez muito boa porém não tão cortante a ponto de ter de se adicionar muito açúcar (“licor de dosage”)! A Maison simplesmente prescinde dos excessos de dosagem final e assim, mantém a personalidade de vinhos bem secos, “Brut”. Não por acaso, possuem a chamada Cuvée Ultra-Brut, um Brut Nature equilibrado de modo absolutamente natural, sem nada de açúcar!

Por último, Laurent-Perrier tem no mercado francês um vinho tinto tranquilo (não espumante) de Pinot Noir, chamado Pinot Franc (da praticamente ignorada AOC Coteaux Champenois)!

A Maison Laurent-Perrier, a terceira maior Casa de Champagne em vendas (só perdendo para Moët & Chandon e Veuve-Clicquot), é representada no Brasil pela importadora Aurora-Inovini.

Até a próxima caçamba!

 

André Logaldi, colaborador n° 1 do Blog do Jeriel
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