Harmonização de Vinho do Porto com Queijo Serra da Estrela

A colunista do jornal britânico “The Sunday Times” Joanna Simon, no capítulo de harmonizações no famoso “O Livro do Vinho”, assinala que “Os sabores e, não menos importante, as texturas do queijo são difíceis. Quando o tanino e o queijo colidem, o vinho sofre. Pense nas combinações clássicas de Sauternes com Rocquefort e Porto com queijo Stilton”.

Já o também britânico Hugh Johnson assinala que: “a ideia de que queijos e vinhos foram feitos um para o outro não nasceu a partir de degustações. Ótimos vinhos tintos são sufocados pelos queijos fortes: somente os vinhos brancos doces ou ríspidos sobrevivem. A não ser pelas exceções, pode-se partir dos princípios de que, primeiro: quanto mais duro o queijo, mais tanino o vinho pode conter. Segundo: quanto mais cremoso o queijo, mais acidez o vinho tem que ter. A principal exceção constitui o terceiro princípio: queijos e vinhos da mesma região se dão bem. O queijo é classificado pela sua textura e a natureza de sua casca; portanto, sua aparência já é um indício do tipo de vinho para acompanha-lo”.

Já o queijo da Serra da Estrela é um dos mais afamados e deliciosos queijos portugueses. Possui duas versões: o “Velho”, seco e com a textura de um parmesão e o “Amanteigado”, que é uma experiência gastronômica única. Abre-se uma tampa circular no topo de sua casca rija e dentro há um creme de sabor indescritível – come-se com colher, no pão, bolachas ou torradas. Há quem sustente que a melhor combinação possível para um bom Porto Vintage. Não duvide. Fonte: Coleção Folha o Mundo do Vinho – Fascículo 9 – Portugal

O vinho escolhido para essa harmonização foi o Porto Pousada 10 anos Tawny de importação da Casa Flora. Custa entre R$ 70 e R$ 80 e tem 20% de álcool. Exibiu a tradicional cor aloirada com tons acastanhados. Aromas intensos de frutas secas – principalmente castanhas e amêndoas sobre uma nota de baunilha. Na boca a sua entrada revelou um vinho capitoso e o seu álcool provocou um leve aquecimento sem incomodar. Destacou-se por seu frescor e expansão no meio de boca. Ao final exibiu uma pequena adstringência que também não  incomodou. Ao contrário, lhe deu vida, movimento e personalidade. A sua acidez também chamou atenção porque ajudou na harmonização com o queijo, de textura cheia, macia e  saborosa. Na realidade o queijo não era do tipo que se come com a colher (Quinta Lapa adquirido no Aeroporto de Lisboa em voo com conexão). De textura macia, fresca e aveludada teve seu sabor potencializado e prolongado pelo vinho que se mostrou exuberantemente fresco e apropriado para essa harmonização. O resultado foi uma experiência sensorial deliciosa, eis que o vinho também tinha sabor suculento, concentrado o suficiente para acompanhar a textura do queijo. O vinho terminou complexo, longo  e amendoado. Avaliação do vinho na harmonização: 90/100 pts.+