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A vinícola Cordilheira de Sant’ana foi visitada na terça-feira, dia 5 de março, sendo o grupo recebido por Liane Cordeiro. A Cordilheira de Sant’ana está estabelecida bem próxima da divisa com o Uruguai (10 km), na Vila Palomas, subdistrito Palomas, município de Santana do Livramento, numa região importante para a vitivinicultura, que vem crescendo a galope de cavalo crioulo, eis que a Campanha Gaúcha se caracteriza por imensas planícies de clima mais continental do que tropical, as uvas tintas encontram solo e temperatura favoráveis, fazendo dessa sub-região uma das mais interessantes do país para a produção em larga escala e, possivelmente, mecanizada (Guia Adega Vinhos do Brasil). A vinícola possui apenas sete empregados, trinta barricas de carvalho americano e francês,  capacidade para armazenar 200.000 litros, vinifica para outras pequenos produtores e aceita visitantes a qualquer hora do dia. Pertence ao casal Gladistão Omizzolo e Rosana Wagner, ambos profissionais com larga experiência no setor e conhecidos por produzirem vinhos longevos que se destacam por sua tipicidade, como será visto em seguida:

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Cordilheira de Sant’ana Gewürztraminer –  safra: 2012 – álcool: 12% – região: Santana do Livramento – preço na vinícola: R$ 55,00 – coloração amarelo-palha claro esverdeado, sem turbidez denotando juventude. Nariz de notável tipicidade da casta, com notas de flores brancas, lichias, pétalas de rosa e mel. Boa intensidade aromática. Na boca, apresenta boa acidez, destacado frescor, notas cítricas, corpo médio e um levíssimo amargor no retrogosto que não incomoda. Apresentou boa persistência gustativa e subscreve integralmente as sensações olfativas, o seu grande destaque é a sua tipicidade que praticamente faz dele uma referência no Brasil, habilitando-o a enfrentar os raros exemplares produzidos a partir desta casta na América do Sul. Avaliação: 88/100 pts.

Cerro Palomas
Cerro Palomas

Cordilheira de Sant’ana Chardonnay 2010 – álcool: 13,5% – região: Santana do Livramento – preço na vinícola: R$ 46,50 – Cor amarelo na transição para o dourado. Nariz típico dos Chardonnays barricados  com predomínio de notas abaunilhadas e amanteigadas sem encobrir, no entanto,  a fruta. Boa persistência olfativa. Na boca, as notas de baunilha também estão nítidas mas dão espaço para fruta tropical madura como abacaxi, pêssego e carambola, com o frescor dando vida e prazer ao vinho que é untuoso, elegante e profundo.  Retrogosto longo, suave, amanteigado. Avaliação: 89/100 pts.+

A vinicola possui instalações modernas e até vinifica para outros pequenos produtores.
A vinicola possui instalações modernas e até vinifica para outros pequenos produtores, como por exemplo, Dunamis.

Cordilheira de Sant’ana Merlot 2008 – álcool: 13% – região: Santana do Livramento – preço na vinícola: R$ 55,00 – vermelho-rubi violáceo de média concentração. Nariz fechado. Apresenta notas herbáceas e discretamente frutadas, com um leve toque de ameixas. Vinho tânico, de corpo médio e  acidez média, com alguma  fruta e um fim de boca macio, mas pouco persistente. Avaliação: 86/100 pts.

A Gerente Comercial da vinícola
A Gerente Comercial da vinícola Liane Cordeiro

Cordilheira de Sant’ana Cabernet Sauvignon 2004 – álcool: 13,2% – região: Santana do Livramento – preço na vinícola: R$ 55,00 – vermelho-rubi violáceo com halo granada. Nariz complexo com notas animais sobre um fundo herbáceo com ampla sustentação na taça. Na boca é um vinho limpo, harmonioso e de boa densidade, de taninos polidos e arredondados pela longa permanência na garrafa, com algumas notas de café e tabaco, final médio/longo e agradável. Apresentou boa persistência gustativa e tipicidade da casta, bem adaptada à região. Avaliação: 89/100 pts.

A qualidade dos vinhos continua boa; alguns como o Chardonna estão bem melhores!
A qualidade dos vinhos continua boa; alguns como o Chardonna estão bem melhores!

Cordilheira de Sant’ana Cabernet Sauvignon 2005 – lançamento previsto para abril de 2015 – Álcool: 13,2% – região: Santana do Livramento – preço na vinícola: R$ 63 –  vermelho-rubi violáceo mais intenso e menos evoluído do que o anterior, mas com reflexo granada. Nariz igualmente complexo com notas de frutas negras, tabaco e sugestões herbáceas típicas da casta no Novo Mundo. Na boca é um vinho limpo, harmonioso e de boa densidade, de corpo médio, madeira na medida sem incomodar, frutado, taninos presentes de boa qualidade, final médio/longo e agradável. Também apresentou boa persistência gustativa, final marcado pela fruta, potencial de guarda e tipicidade da casta. Avaliação: 89/100 pts.+

O Chardonnay pode ser apontado com um dos melhores do Brasil
O Chardonnay pode ser apontado com um dos melhores do Brasil

Cordilheira de Sant’ana Cabernet Sauvignon 2004 – álcool: 13,2% – região: Santana do Livramento – preço na vinícola: R$ 55,00 –  rubi violáceo mais intenso do que o anterior. Nariz complexo com notas herbáceas típicas da casta, cássis, amoras e groselha. Na boca é um vinho limpo, harmonioso e de boa densidade, de corpo médio, madeira na medida sem incomodar, notas de café e tabaco, taninos presentes mas de boa qualidade, final médio/longo e agradável. Apresenta boa persistência gustativa, potencial de guarda e tipicidade da casta. Avaliação: 89/100 pts.

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Cordilheira de Sant’ana Tannat 2005 – álcool: 13,7% – uvas: 85% Tannat, 10% Cabernet Sauvignon e 5% Merlot – região: Santana do Livramento – preço na vinícola: R$ 62,90 – vermelho-rubi profundo, límpido e brilhante com reflexos violáceos nas bordas. Nariz intenso e delicado, de boa tipicidade, complexidade e persistência olfativa, apresentando notas vegetais, balsâmicas  e frutadas – amoras, framboesas e ameixas sobre gostosas lembranças de bala toffee. Na boca, exibe taninos musculosos (próprios da variedade e de ótima qualidade), acidez presente, madeira bem casada com a fruta, equilíbrio do tripé álcool, acidez e taninos, formando um conjunto harmônico que exibe, sobretudo, as características da varietal. O retrogosto é médio/longo, com refrescantes notas mentoladas e sem amargor. Vinho longevo, cujos taninos  estão em evolução. A sua estrutura pede uma boa parrillada como acompanhamento. Segundo Liane Cordeiro, este vinho envelhece por dezoito meses em barricas de carvalho americano sendo um dos principais da vinícola. Como já salientado, os vinhedos ficam na região da Campanha Gaúcha (RS), há apenas dez quilômetros de distância do Uruguai, país que adotou, com sucesso, a uva Tannat e este exemplar nacional não fica devendo nada em qualidade aos vinhos daquele país, da Serra Gaúcha e das demais regiões vinícolas brasileiras. Já está pronto para ser bebido, todavia, tudo indica que poderá evoluir bem nos próximos anos porque tem estrutura para isso. Avaliação: 89/100 pts.+

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Conclusão

Da primeira vez que esses vinhos foram degustados na distante noite de 15 de maio de 2007 na sede da SBAV-SP é forçoso reconhecer que estão diferentes. E não cometerei nenhuma injustiça se afirmar que estão melhores, bem melhores. Além de longevos, são vinhos que conservam aquilo que mais buscamos: a fruta, fresca, macia e suculenta. Expressam com fidelidade o terroir local com alguma elegância, rusticidade e principalmente caráter varietal. Não são fáceis de encontrar e também não custam menos, mas tampouco decepcionam. São bem feitos. O Gewürztraminer continua sendo um dos melhores produzidos no Brasil, o Chardonnay deu um incrível salto qualitativo desde sua primeira edição. No setor dos tintos,  as duas safras provadas do Cabernet Sauvignon e a única do Tannat também corresponderam às expectativas (vide avaliações acima).

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