Dando sequência às visitas realizadas às vinícolas da Campanha Gaúcha a convite do IBRAVIN  no período de 4 a 8 de março de 2013, sob a condução dos jornalistas Orestes de Andrade Júnior e Martha Caus, o grupo de blogueiros e jornalistas de diversos Estados do Brasil (Recife, Fortaleza, Salvador, Espírito Santo e  São Paulo) esteve na histórica cidade de  Dom Pedrito. A seguir nossas impressões sobre os vinhos degustados no Restaurante “Cumbuca”, das vinícolas Camponagara,  Rigo Vinhedos e Olivais e Guatambu Estância do Vinho, apresentados por Roberto Vianna, Ingrid Goularte Pfeifer e Gabriela Hermann Pötter, respectivamente Gerente Comercial, Gerente e Diretora Técnica de cada uma dessas vinícolas.

Roberto Vianna, Gerente Comercial da Vinícola Camponagara
Roberto Vianna, Gerente Comercial da Vinícola Camponagara, que é a produtora de uvas mais antiga da região

Foram degustados os seguintes vinhos da Camponagara:

Rota 293 Chardonnay 2012 – álcool: 13.5% –  preço: R$ 42 – a Rota 293 é uma estrada que cruza o Estado do RS e faz a rota de ligação com a fronteira. Seus doze hectares de vinhedos são próprios, datam de 1990. Desse total, apenas 10% são utilizados e o restante fornece uvas para outros produtores. São vinhedos orgânicos não certificados. A produção total anual atinge 20.000 garrafas – Roberto explicou que o clima local se caracteriza pela ausência de chuvas, mesmo no verão que não é tão quente porque na região existe grande amplitude térmica. As noites são amenas e o calor do dia faz a videira buscar nutrientes no solo bem drenado. O relevo é marcado por planícies, sem pragas ou doenças fungicas. A enóloga da vinícola é a experiente  Aline Fogaça, Master of Wine nos EUA.  Análise organoléptica: palha claro com reflexo esverdeado. Aromas francos e diretos  com notas de frutas de polpa branca como melão e pêra (sem madeira). Na boca é vivaz e se destaca por exibir fruta fresca (abacaxi), bom frescor e final sem amargor, marcado pelas notas frutadas. Avaliação: 87/100 pts.

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Rota 293 Merlot 2012 – álcool: 13.5% – preço: R$ 42 – também não passa por madeira. Vermelho rubi de média intensidade, aromas marcados pelas frutas vermelhas, corpo um pouco magro,  taninos macios e média acidez. Final frutado, sem amargor ou qualquer rusticidade. Avaliação: 85/100 pts.

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Rota 293 Cabernet Sauvignon 2012 – álcool: 13.5% – preço: R$ 42 – vinte e cinco por cento do mosto foi amadurecido por três meses em aduelas francesas. Na taça exibiu cor vermelho rubi de intenso, aromas marcados pelas especiarias como cravo e noz moscada. Taninos macios com leve dulçor que não incomoda, ao contrário, combina com sua boa fluidez e desenvoltura no paladar. Rico, intenso, termina deixando uma sensação fresca na boca. Um vinho prazeroso, de final frutado, sem amargor. Avaliação: 88/100 pts.

Gabriela, Diretora Técnica da Guatambu
Gabriela, Diretora Técnica da Guatambu

Rota 293 Tannat 2012 – álcool: 13.5% – preço: R$ 65 – vermelho intenso quase retinto. Aromas abertos  com notas de framboesa, cereja sobre uma pontinha de couro. Na boca taninos rústicos bem ao estilo da Tannat, porém, sem agredir, boa acidez e confirmação da fruta sinalizada no nariz.  Um vinho prazeroso, prova de que a Tannat está no ambiente ideal. Final frutado, sem amargor. Roberto Vianna salientou que o Cabernet Sauvignon e este  vinho não passam diretamente por barrica, mas sim por aduelas de carvalho francês, fato raro de acontecer entre produtores, porque a maioria iguala a passagem do mosto por esses pedaços de madeira como se fosse uma passagem por barrica. O resultado é um vinho honesto, de boa qualidade. Avaliação: 88,5/100 pts.

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Guatambu Estância do Vinho

Gabriela Pötter salientou que alguns dos municípios que compõem a Campanha Gaúcha como Santana do Livramento, Bagé e Dom Pedrito estão na latitude 31°, a mesma da Argentina, África do Sul, Austrália e Chile. O solo é arenoso com pedra, altíssima insolação, 15°C de amplitude térmica, chegando a temperatura à noite até 13ºC. Realiza-se a irrigação por gotejamento favorecida por solos bem drenados, com rochas originais de 2,5 milhões de anos de idade. A Guatambu em seus 20 hectares de vinhedos cultiva as seguintes variedades: Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo e Tannat. Tem por consultor o enólogo Alejandro Cardoso. A seguir a relação dos vinhos degustados:

Rastros do Pampa

Ecos do Pampa

Guatambu Estância do Vinho Sauvignon Blanc

Guatambu Estância do Vinho Gewürztraminer

Espumante Luar do Pampa Gewürztraminer Champenoise

Espumante Guatambu Extra Brut Chardonnay – Palha Claro. Perlage diminuto.  Aromas abertos com notas de bolacha, fermento sobre leve fruta tropical. Longo, persistente, sem arestas. Avaliação: 88/100 pts.

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Espumante Guatambu Nature – preço: R$ 52,40 na origem – método champenoise, autólise 12 meses. Na flûte exibiu cor palha Claro. Perlage com borbulhas de tamanho pequeno. Nos aromas notas de ameixa branca, pêra sobre leveduras. Na boca é um espumante cremoso, volumoso, denso e de ótimo frescor. Seu final é persistente,  intenso e remete o degustador às sensações olfativas iniciais. Avaliação: 89/100 pts.

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Guatambu Luar do Pampa Gewürztraminer 2011 – álcool: 12,7% – amarelo com reflexo dourado. Aromas pouco intensos mas típicos da casta com pétalas de rosa, nêspera (ameixa branca) e lichia. Na boca a sua entrada revela um vinho de boa densidade, macia com boa persistência e toques de mel no retrogosto. Avaliação: 87/100 pts.

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Guatambu Rastros do Pampa Cabernet Sauvignon 2011 – álcool: 13%  – variedades: Tannat (3%) e o restante Cabernet Sauvignon –  vermelho rubi intenso com reflexo púrpura. Aromas que remetem diretamente aos descritores típicos da casta no Novo Mundo com sugestões herbáceas e condimentadas. Boca com taninos sedosos, discreta sobra de álcool, alguma fruta negra para confirmar sua boa tipicidade. Final intenso, marcante, cheio de personalidade. Avaliação: 88/100 pts. 

Ingrid Goularte Pfeifer, da distribuidora de vinhos Don Pedrito: dinamismo e clareza na exposição dos vinhos.
Ingrid Goularte Pfeifer, Gerente da distribuidora de vinhos Dom Pedrito: dinamismo e clareza na exposição/degustação dos vinhos.

Rigo Vinhedos e Olivais – Vinícola Dom Pedrito

Na exposição realizada por Ingrid Goularte Pfeifer, foi salientado que Dom Pedrito foi fundada pela imigrante espanhol Pedro Ansuateguy no ano de 1.872. A vinícola foi criada em 2002,  a primeira a lançar um vinho fino comercial em Dom Pedrito. Ingrid explicou que o município recebe a denominação de Capital da Paz porque nele se firmou a paz entre Republicanos do Piratini e os defensores do Império, marcando o fim da Revolução Farroupilha (1835 – 1845), consolidando, destarte, a paz no RS existindo no município um “Obelisco da Paz”.

Espumante "Capital da Paz" - o rótulo não empolga tanto como a qualidade deste borbulhante da Campanha Gaúcha
Espumante “Capital da Paz” – o rótulo não empolga tanto como a qualidade deste borbulhante da Campanha Gaúcha

Vinhos degustados:

Espumante Charmat “Capital da Paz” Brut – álcool: 12,5%  – variedade: Chardonnay – Com 15 gramas de açúcar por litro, primeira safra deste espumante. Análise  organoléptica: palha claro brilhante. Bom perlage.  Aromas de frutas brancas maduras. Boca alegre, vívida, acidez um pouco cortante e final limpo, sem amargor. Avaliação: 86/100 pts.

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Dom Pedrito Sauvignon Blanc 2011 – álcool: 13% – Palha claro com reflexo esverdeado. Aberto nos aromas com notas vegetais sobre uma pontinha de flor de maracujá. Na boca exibiu bom frescor, maciez e persistência média-curta, porém, sem nenhum amargor. Conjunto harmônico e de boa tipicidade. Avaliação: 86/100 pts.

Don Pedrito - um branco correto que merece um rótulo melhor
Dom Pedrito – um branco correto que merece um rótulo melhor

Dom Pedrito Pinotage-Tannat em partes iguais  2011 – álcool: 12,5% – Ingrid Pfeifer esclareceu que este vinho não sofre nenhum tipo de adulteração na sua elaboração, como por exemplo acréscimo de açúcar ou até álcool para “mascarar defeitos”. Este é mais um daqueles vinhos que provoca empolgação a este humilde escritor porque o classificamos  como vinho “autêntico”, ou seja, aquele vinho que não quer ser nada mais do que um bom vinho que expresse o terroir local sem firulas ou leguleios….segue sua análise organoléptica: vermelho rubi intenso com reflexo púrpura. Aberto nos aromas que remetem diretamente à Pinotage, casta de surpreendente desempenho na Campanha Gaúcha. Notas empireumáticas sobre toques herbáceos. Na boca a Tannat se exibe de maneira bem clara, com corpo e adstringência típicos dessa variedade. O resultado é um vinho austero, equilibrado, potente e de muita “pegada”. O tipo de vinho que numa degustação às cegas pode surpreender. A exemplo dos demais vinhos da Dom Pedrito, merecia um rótulo melhor, porque o produto é de boa qualidade mas o rótulo não o faz parecer bom. Custa na faixa de R$ 20 e vale o preço. Avaliação: 87/100 pts.+

Don Pedrito, corte de Tannat e Pinotage, revelou que a Pinotage, cepa Sul-Africana que parece "gostar" do terroir do promissor terroir da Campanha Gaúcha
Dom Pedrito, corte de Pinotage e Tannat , revelou que a Pinotage, cepa Sul-Africana que parece ter se adaptado bem ao promissor  terroir da Campanha Gaúcha

 

Balanço da degustação de três vinícolas da Campanha Gaúcha: nenhum vinho decepcionou !
Balanço da degustação de três vinícolas da Campanha Gaúcha: nenhum vinho decepcionou !

Conclusão

Mais uma série de degustações na histórica cidade de Dom Pedrito, no restaurante “Cumbuca”, localizado no centro da Cidade, sito à Rua Barão de Upacaray 1005, tel. 53 3243 1846, que se mostrou apropriado para receber o grupo de blogueiros e jornalistas de diversas partes do Brasil.  A degustação inicialmente foi conduzida por  Roberto Vianna, da vinícola Camponagara que exibiu vinhos de perfil moderno sem perder de vista as particularidades do terroir local.  Todos seus vinhos apresentaram relação preço-qualidade compatível, com destaque para os tintos de Merlot, Cabernet Sauvigon e Tannat, nesta ordem. O portfolio é completo e seu Chardonnay também agradou. Logo em seguida, a Enóloga Gabriela Pötter apresentou os vinhos Guatambu, que tem um portfólio extenso com espumantes de ótima qualidade, brancos e tintos que não decepcionariam o mais reticente dos críticos. Para essa vinícola dedicaremos um post exclusivo, eis que nos foi dada a oportunidade de conhecê-la. Finalmente, sob a batuta da dinâmica Gerente Ingrid Pfeifer, pudemos degustar os vinhos “Dom Pedrito”, pioneira no lançamento de um vinho fino na região. Aqui também nenhum caldo decepcionou. Ao contrário, seu Dom Pedrito  tinto corte de Pinotage-Tannat agradou-nos sobremaneira, a não ser por um detalhe: o rótulo não valoriza o produto. O mesmo raciocínio vale para o espumante “Capital da Paz”. Um borbulhante correto, fresco, fácil de beber que mereceria, salvo melhor juízo, uma apresentação mais moderna, sem perder de vista as tradições locais. Outro aspecto a ser ressaltado é que esses vinhos valem o que custam. Enfim, todas as vinícolas comprovaram que a região realmente têm o que mostrar para o RS e o Brasil. As três vinícolas são promissoras e estão no caminho certo.

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