CIMG1570_3240x2430

Viña Errazuriz está estabelecida na região de Aconcágua, no centro do Chile, ao Norte da região metropolitana de Santiago, a cerca de 110 km. Essa região é a terceira economicamente mais importante do país e se caracteriza pela importância de sua agricultura,  extração de minérios e turismo nas cidades de Valparaíso e Viña del Mar. A Don Maximiano Estate & Winery está localizada a 67 km a Leste do oceano Pacífico e 100 km ao Norte de Santiago, possui 19,3 hectares de vinhedos nos quais as variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec, Petit Verdot e Syrah estão plantadas, nesta ordem. A Errazuriz é uma vinícola que adota medidas para preservar a biodiversidade e a produção do vinho Seña é totalmente orgânica e biodinâmica.

A vinícola faz parte do grupo Caliterra, um dos mais importantes grupos vitivinícolas do Chile. Seu fundador, Don Maximiano, em 1870, lançou a missão com o lema “da melhor terra, o melhor vinho”. Hoje, Viña Errázuriz possui vinhedos no Vale de Aconcágua, Casablanca e Curicó. No Aconcágua, 140 hectares são divididos em cinco blocos plantados com Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Carménère, Petit Verdot e Cabernet Franc. Ali, algumas videiras possuem quase quarenta anos e um bloco é inteiramente dedicado à vinicultura orgânica. É um vale tradicionalmente vocacionado à produção de frutas e hortaliças, mas não se pode olvidar que lá se produz vinhos desde meados do século 19. A possibilidade de incorporar a irrigação por gotejamento gerou um renovado interesse no Aconcágua a partir da década de 1980. A região foi pioneira na plantação de Syrah no Chile e atualmente conta com grandes extensões de terra dedicada à agricultura orgânica e biodinâmica. 

CIMG1567_3240x2430

A visita foi realizada na tarde do dia 24 de setembro, coordenada por Richard Sharman (WoC). Pela Errázuriz, Francisco Núñez (Gerente para América Latina) e o Enólogo Pedro Contreras, que salientou que em pouco tempo todas as variedades brancas dos vinhos Errazuriz serão provenientes da subdenominação Aconcágua Costa. A seguir a descrição dos vinhos degustados durante o almoço e depois na degustação coordenada pelo enólogo supracitado:

CIMG1573_2430x3240

Max Reserva Sauvignon Blanc 2013 – D. O. Aconcágua – Álcool: 13,5% – translúcido e brilhante na cor. Aromas finos e delicados com notas de lichias, leve vegetal e folha de tomate. Na boca é um vinho macio, de acento mineral, intenso frescor e tipicidade bem marcada, com toques cítricos. Termina sem amargor. Perfil que o distingue dos vinho frutados de Casablanca e da mineralidade de San Antonio. Aqui as duas tendências estão conjugadas com êxito. Avaliação: 89/100 pts.

CIMG1575_2430x3240

Max Reserva Carménère 2011 – D. O. Aconcágua – Álcool: 14% – de cor púrpura, exuberante nos aromas com notas que lembram licor de cassis, grafite, ameixa com boa sustentação na taça. No paladar é um vinho de taninos finos, sofisticados com a fruta prevalecendo sobre a madeira (12 meses, 80% francês e 20% americano) como deve ser. Salivante, tem bom cumprimento, sem arestas. Vinho prazeroso que cresceu à mesa. Às cegas seria difícil identificá-lo como Carménère, mas nem por isso perdeu identidade, porque no retrogosto apresentou  notas levemente condimentadas. Avaliação: 90/100 pts.

CIMG1578_2430x3240

Errazuriz Late Harvest  2011 –  Variedades: Sauvignon Blanc (85%), Viognier (10%) e Gewürztraminer (5%) – Álcool: 12,5% – elaborado com uvas do Vale de Casablanca, o produtor informa que este vinho tem “importante proporção de podridão nobre”. Análise organoléptica: amarelo palha com reflexo esverdeado. Muito aromático com notas florais, lichia, damasco, favo de mel e uma ponta de botrytis. Na boca exibiu equilíbrio entre doçura e acidez. O resultado é um vinho com doçura na medida certa, ótimo frescor e grande persistência. Um late harvest que pode acompanhar frutas e sobremesas não muito doces. A madeira (40% durante sete meses em carvalho francês) está integrada ao conjunto. Avaliação: 89/100 pts.

O Enólogo Pedro Contreras (em pé) não se furtou a responder nenhuma pergunta dos jornalistas.
O Enólogo Pedro Contreras (em pé) não se furtou a responder nenhuma pergunta dos jornalistas.

A seguir vinhos degustados na presença do Enólogo Pedro Contreras, Chefe de Enologia Técnica de Panquehue:

CIMG1589_3240x2430

Max Reserva Chardonnay 2012 –  palha esverdeado. Aromas florais e cítricos. Boca no mesmo diapasão, com bom frescor. Madeira (carvalho francês 70% – 10 meses), fruta e álcool integrados. Acento mineral. Cremoso, com notas de abacaxi e leve cítrico. Vinho linear, equilibrado e de boa tipicidade. Poderia ser mais persistente. Avaliação: 87-88/100 pts.

Max Reserva Pinot Noir 2012 –  expressivo na cor, aromas florais com toques minerais e alguma fruta vermelha (cereja principalmente). Boca fresca, vívida, de taninos macios, álcool integrado, média concentração de sabor sem intromissão da madeira (9 meses em carvalho francês). Final frutado. Boa tipicidade (chilena). Avaliação: 88/100 pts.

Max Reserva Carménère 2011 –  vide avaliação supra.

Max Reserva Syrah 2011 –  elaborado com videiras plantadas em 1996, intenso na cor, no olfato notas de frutas negras sobre especiarias. Leve toque floral (lavanda, violeta). Boca muito macia, taninos suaves, bom entrosamento entre fruta e madeira (12 meses em barricas de carvalho – 25% Americanas, 75% Francesas, 15% novas). Acidez razoável. Final fresco, macio, sem arestas. Avaliação: 89/100 pts.

Max Reserva Cabernet Sauvignon 2011 – intenso, concentrado e profundo na cor. Notas balsâmicas e de frutas negras sobre mentol predominam no olfato. Na boca taninos muito macios, boa quantidade de frutas negras, chocolate. Acidez razoável e fruta bem integrada. Final longo, persistente. Sem excesso de pirazina, vai evoluir na garrafa. Amadurecido em barrica (12 meses) francesa (90%) e americana (10%),  20% novas. Avaliação: 89/100 pts.+

Kai Carménère 2010
Kai Carménère 2010

Kai Carménère 2010 – álcool: 14,5% – elaborado com uvas plantadas nos solos arenosos de Peumo conforme esclarecimento do enólogo Pedro Contreras, terroir no qual a variedade amadurece plenamente em seu largo ciclo. Tem um pouco de Petit Verdot (4%) para aportar-lhe frescor. No nariz toques florais, licor de cacau sobre discreto tostado. Boca de taninos volumosos mas equilibrados, boa acidez, fruta presente sem ser ocultada pela madeira (20 meses em barricas novas francesas), enfim, um vinho que pode ser mencionado como claro exemplo da evolução da Carménère no Chile, capaz de produzir vinhos sofisticados, elegantes, frescos com altas pontuações da abalizada crítica internacional. Avaliação: 92/100 pts.+

La Cumbre Syrah 2010 - o primeiro varietal de alto padrão do Chile
La Cumbre Syrah 2010 – o primeiro varietal de alto padrão do Chile

Degustação – 

La Cumbre Syrah 2010 – álcool: 14% – a Syrah foi introduzida no Chile pela Errázuriz e suas primeiras  mudas de clones franceses plantadas em 1996. A primeira safra deste La Cumbre foi 2001 lançada em 2003. Análise organoléptica: profundo e intenso com reflexo púrpura. Aberto nos aromas com uma paleta que vai das nuances florais (violetas e lavanda), frutas negras e vermelhas que se revezam com tostados provenientes das barricas francesas (20 meses) utilizadas no amadurecimento deste rico e concentrado vinho. Após algum tempo uma nota de mentol se destacou. No paladar sua entrada revelou um vinho de taninos aveludados, generoso no álcool e de caráter voluptuoso. Denso, além de sua linearidade tem na tipicidade um de seus destaques. Sua estrutura permite continuar evoluindo na garrafa por mais de dez anos. Avaliação: 90-91/100 pts.+

Don Maximiano 2010 ! Quando vai chegar ao Brasil?
Don Maximiano 2010 ! Quando vai chegar ao Brasil?

Don Maximiano 2010 – álcool: 14,5% – um vinho que já conta com mais de trinta safras, pela primeira vez recebeu em seu corte um pouco de Carménère (10%), Syrah (5%) e Petit Verdot (7%) completam o blend tradicionalmente dominado pela Cabernet Sauvignon (78%). Análise organoléptica: quase retinto na cor, pouco intenso mas de aromas complexos com notas de frutas negras, pimenta negra, chocolate sobre um fundo balsâmico. No paladar as notas aromáticas foram plenamente subscritas. Taninos de fina textura, fruta e madeira em integração, acidez presente promovendo intensa salivação, álcool integrado. Um vinho de sólida estrutura reconhecidamente longevo. Necessita de tempo para mostrar todas suas virtudes que não são poucas. Todas as variedades foram amadurecidas por um período médio de 22 meses em barricas de carvalho francês, 81% das quais novas. Avaliação: 91/100 pts.++

CIMG1583_2430x3240

Os preços dos vinhos na vinícola em pesos chilenos:

Kai Carménère 2010 – PCH$ 115.000,00

La Cumbre Syrah 2010 – PCH$ 65.000,00

Don Maximiano 2010 – PCH$ 65.000,00

Sala de degustações
Sala de degustações

Linha Especialidades  – The Blend – PCH$ 14.000,00

Errazuriz Max Reserva – PCH$ 8.990,00

Errazuriz Reserva – PCH$ 3.990,00

Safras antigas do vinho Seña ficam literalmente trancadas....
Safras antigas do vinho Seña ficam literalmente trancadas….

Chadwick – PCH$ 195.000,00

A seguir imagens do local onde o famoso vinho Seña é vinificado:

Adega na qual o Seña é vinificado
Adega na qual o Seña é vinificado

O Seña 2010 é comercializado na vinícola por PCH$ 115.000, isto é, pouco mais de R$ 500 –

 

CIMG1598_3240x2430

CIMG1600_3240x2430

Aqui os vinhedos mais antigos de Syrah do Chile, utilizados na elaboração do La Cumbre
Aqui os vinhedos mais antigos de Syrah do Chile,
utilizados na elaboração do La Cumbre

 

Conclusão

Viña Errázuriz impressiona o visitante logo no primeiro momento. A vinícola, além de grande, está preparada para o turismo receptivo. Vale à pena conhecer todas dependências franqueadas aos turistas. Quanto aos vinhos, o grupo teve oportunidade de provar diversas safras da linha Max Reserva recém-lançadas, indisponíveis inclusive no próprio Chile. O mesmo pode ser dito da linha Ícones: Kai, La Cumbre e Don Maximiano todos da safra 2010, foram provados pelos jornalistas brasileiros convidados pela Wines of Chile. Nenhum vinho, sem exceção, decepcionou. Para este escriba, os Carménères Errazuriz apresentaram um linearidade digna de nota, uma vez que não apresentaram as cansativas notas herbáceas. Isto porque as uvas são colhidas no final da temporada para garantir uma boa expressão de maturação. A amplitude térmica alta (média de 19°C) nas semanas que antecedem a colheita provoca altas concentrações de antocianinas nas cascas das uvas, que intensificam a cor dos vinhos. São escolhidas a dedo e transportadas para a adega, onde são inspecionadas com uma tabela de classificação dupla para eliminar qualquer restos vegetais e frutos defeituosos que podem afetar a qualidade final do vinho. Uma das formas de impedir notas herbáceas é a realização de uma gestão seletiva nos vinhedos cinco ou seis semanas antes da colheita. Esta técnica permite que a luz do outono possa penetrar na folhagem para ajudar as uvas amadurecem e eliminar potenciais aromas herbáceos e aumentar os aromas e sabores da fruta.

Quanto aos demais vinhos, apenas o delicioso Late Harvest da linha “especialidades” pôde ser provado. Os demais não. Se se considerar que nessa linha há inúmeras novidades – como o “The Blend”, que agora ganha uma versão branca das variedades Marsanne,  Roussanne e Viognier ou então os vinhos elaborados com leveduras selvagens – Pinot Noir e Chardonnay, sem se falar nos demais tintos, inclusive o famoso Sangiovese – a visita teria possibilitado conhecer vinhos de perfil diferenciado, alguns deles produzidos numa quantidade tão pequena que não chegam no Brasil. Por fim, os ícones Kai, La Cumbre e o celébre Don Maximiano Founders Reserve  todos da safra 2010 – ainda indisponível no Brasil, confirmaram todas expectativas, mas a grande surpresa ficou mesmo para o sofisticado e caro Kai Carménère, considerado pela crítica internacional um dos melhores expoentes da variedade no Chile. E, para este escriba, o vinho revelou-se verdadeiramente particular. Basta dizer que se o provasse às cegas nunca diria tratar-se de Carménère, eis que sua elegância conjugada à sua invulgar personalidade, fariam imaginar um blend de variedades bem adaptadas ao terroir local ou mesmo um Cabernet Sauvignon de alta gama, cheio de fruta e mineralidade. 

(Visited 679 times, 679 visits today)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *