A Wines of Chile (com apoio da CH2A Assessoria de Imprensa), associação responsável por promover os vinhos chilenos no mercado mundial, dirigida por Claudio Cilveti, convidou um pequeno grupo de jornalistas para conhecimento das novas Subdenominações de Origem do Chile: Costa, Entre Cordilheiras e Andes, num roteiro diversificado e exclusivo, que implicou na visita de vinícolas e degustações de vinhos dessas subregiões. Importante registrar que a WoC representa mais de 90 vinícolas e indicou as vinícolas e regiões/vales que foram visitadas por este escriba. A viagem ocorreu no período de 23 a 28 de setembro do corrente. Em Santiago, a recepção coube à sempre atenta dupla Richard Sharman e Allyson Silva, ambos da Wines of Chile. A terceira vinícola visitada, localizada no Vale de Colchagua, foi a Viu Manent, como se verá adiante.
A Viu Manent está estabelecida em San Carlos de Cunaco, perto da cidade de Santa Cruz. Esta vinícola tradicional de Colchágua vendia vinho de garrafão no centro de Santiago na década de 1930, criada por imigrantes catalães. A aquisição de vinhedos só se deu em 1966, quando a família comprou as terras atuais em Cunaco, onde vinhas velhas de Cabernet Sauvignon e Malbec cresciam no leito do vale. Agora, tais videiras fornecem a base para os vinhos mais elogiados/premiados da Viu Manent, como o Viu 1, denso, concentrado e aveludado. Entre os beneficiamentos recentes estão novos vinhedos no oeste de Colchágua e uvas brancas de Casablanca. Fonte: O Grande Livro dos Vinhos – 1a. edição – 08/2012 – Publifolha.
A visita foi realizada na tarde do dia 26 de setembro, coordenada por Alysson Silva (WoC). Pela Viu Manent, Sandra Polanco (Gerente para América Latina), Maurício Romo (Gerente de Turismo) e Freddy Grez I. (Gerente da Loja). Sandra salientou que a vinícola está a 45 km da Cordilheira e 60 km do oceano Pacífico, portanto está incluida na subdenominação “Entre Cordilheiras”. E disse mais: além de possuir um clube equestre, a vinícola recebe 25.000 visitantes por ano, fator esse que concorre para que seja uma das vinícolas mais visitas do Vale de Colchágua, quiçá do Chile. Brasil e Ásia são dois mercados importantes para a vinícola eis que estão em flagrante crescimento, com destaque para o trabalho realizado por seu importador no Brasil, a importadora Hannover. A produção total anual atinge 3 milhões de garrafas, Europa, Dinamarca, Grã-Bretanha e Russia são mercados importantes, uma vez que de tudo que é produzido apenas 12% fica no Chile. O restante é todo exportado. A seguir a descrição dos vinhos degustados antes e durante o almoço realizado no acolhedor restaurante “Rayuela Wine & Grill”, sob orientação de Sandra Polanco:
Vibo Punta del Viento 2011 – Álcool: 15% – Variedades: Grenache (68%), Mourvèdre (21%) e Syrah (11%) – região: Fundo El Olivar/Peralillo/Colchágua – preço estimado no Brasil – R$ 150,00 – elaborado com videiras de mais ou menos sete anos de idade, com utilização de leveduras naturais e consequente amadurecimento do mosto durante 13 meses em barricas francesas de segundo e terceiro uso. Análise organoléptica: roxo intenso, vibrante, profundo. Aberto nos aromas frutados, especiarias doces sobre uma discreta nota herbácea. Na boca exibiu taninos presentes de boa qualidade, álcool generoso e acidez elevada, salivante. Flui bem no paladar, mas pede tempo na garrafa para afinamento do conjunto, que promete ganhar harmonia. Seu final é longo, seu estilo lembra um vinho do Rhône. Avaliação: 89/100 pts.+
Vibo Viñedo Centenario 2011 – Álcool: 14,5% – Variedades: Cabernet Sauvigon (51%), Malbec (44%) e Petit Verdot (5%) – região: Fundo San Carlos de Cunaco/Colchágua – preço estimado no Brasil – R$ 150 – elaborado com videiras centenárias, com utilização de leveduras naturais e consequente amadurecimento do mosto durante 16 meses em barricas francesas. Análise organoléptica: vermelho-rubi intenso e profundo. Aberto nos aromas com notas lácteas, chocolate, especiarias, mentol sobre sutis notas tostadas. Na boca exibiu taninos aveludados, com a fruta negra assumindo o papel de protagonista e a madeira papel secundário, álcool generoso e acidez na medida certa promovendo intenso frescor. Muito persistente, seu final é longo e promete evoluir bem na garrafa. Avaliação: 91/100 pts.+
Viu Manent Single Vineyard Syrah 2011 – álcool: 13% – região: El Olivar/Peralilo/Colchágua – vinho amadurecido em barrica de cavalho francês por dezesseis meses, sendo 41% novas e o restante usadas. Análise organoléptica: cor púrpura brilhante, intenso e profundo. Aromas abertos com notas de frutas vermelhas e negras, especiarias sobre licor de cassis. Na boca exibiu a mesma sofisticação com taninos aveludados de textura ligeiramente adocicada dando vida e movimento ao vinho. Acidez, álcool fruta e madeira em plena sintonia. Discreto acento mineral. Percebe-se claramente que este vinho tem mais fruta e menos madeira do que nas safras anteriores. Longo, persistente, seu fim de boca remete o degustador às sensações olfativas iniciais. Avaliação: 91/100 pts.+
Viu Manent Single Vineyard Malbec 2011 – Álcool: 14,9% – Região: Fundo San Carlos de Cunaco/Colchágua – vinho amadurecido em barrica de cavalho francês por dezesete meses, sendo 40% novas e o restante de segundo, terceiro e quarto uso. Análise organoléptica: cor púrpura brilhante, profundo. Aromas abertos com notas florais típicas da casta no Novo Mundo – violetas principalmente, secundadas por chocolate, cravo e ameixa. Na boca apresentou taninos texturados, acidez, álcool fruta e madeira em plena sintonia. Enfim, um vinho linear que ostenta mais fruta do que nas edições anteriores. A tipicidade também é um a de suas virtudes. Longo, profundo, seu fim de boca é fresco, sem arestas. Avaliação: 90/100 pts.+
Viu Manent Single Vineyard Cabernet Sauvignon 2011 – álcool: 14,7% – Região: La Capilla/Peralilo/Colchágua – vinho amadurecido em barrica de cavalho francês por dezesseis meses, sendo 45% novas e o restante usadas (2°, 3° 4° uso). Análise organoléptica: vermelho-rubi de matiz violáceo com reflexo púrpura brilhante. Aromas abertos com notas de frutas negras, especiarias sobre licor de cacau. Na boca exibiu taninos extremamente macios de textura ligeiramente adocicada, secundados pelo álcool generoso e madeira integrada à fruta. Enfim, tudo no sítio certo neste gostoso Cabernet Sauvignon de Colchágua, famoso por sua longevidade. Leve toque mineral. A exemplo dos vinhos anteriores, aqui a máxima “menos é mais” também tem aplicação. Menos madeira e mais fruta. Longo, seu fim de boca é intenso, profundo, marcado por sua tipicidade. Avaliação: 90/100 pts.+
Viu Manent El Incidente Carménère 2010 – álcool: 14,7% – variedades: Carménère (93%), Malbec (4%) e Petit Verdot (3%) – Região: Vale de Colchágua – Área: Entre Cordilheiras – preço: não divulgado – Este imponente Carménère leva na sua composição uvas dos vinhedos La Capilla (Carménère), San Carlos (Malbec) e El Olivar (Petit Verdot); o mosto amadureu durante dezesseis meses em barrica de carvalho novo francês (70%) e o restante em barrica de segundo uso. Análise organoléptica: coloração púrpura intenso, profundo, impenetrável, com reflexo levemente azulado indicando juventude. Aberto e intenso nos aromas com uma destacada nota de licor de cassis para logo ceder espaço para ameixa, café torrado sobre uma sugestão láctea e de chocolate amargo. Na boca exibiu taninos refinados, tripé álcool, taninos e acidez em plena harmonia, a fruta se expressa sem a interferência da madeira. Enfim, um Carménère gostoso, macio, de alta gama, que demonstra o potencial da casta que também possibilita a elaboração de vinhos finos, sofisticados, elegantes e balanceados, sem as cansativas notas herbáceas tão criticadas pelos especialistas do setor. Avaliação: 91,5/100 pts.+
Viu 1 – 2010 – álcool: 15,2% – Variedades: Malbec (98%) e Petit Verdot (2%) – Região: Fundo San Carlos de Cunaco/Colchágua – vermelho rubi intenso, profundo, impenetrável. Aberto nos aromas com notas de violetas e frutas negras maduras sobre especiarias com ampla sustentação na taça. Na boca, a sua entrada revelou um vinho de taninos vigorosos, álcool generoso sem incomodar, acidez na medida e sobretudo, fruta em profusão de fazer inveja aos Malbecs do outro lado da cordilheira. Aliás, este vinho foi muitíssimo elogiado na degustação, por conjugar força e elegância com maestria. Seu final é longo, rugoso, empolgante e promete evolução na garrafa. A Petit Verdot, com singelos 2% de participação, tem o condão de se fazer sentir no corte do vinho, que tem longa vida pela frente. Avaliação: 93/100 pts.+
Viu Secreto Sauvignon Blanc 2013 – álcool: 13% – região: Vale de Casablanca – Palha translúcido brilhante. Aberto, opulento nos aromas com notas de frutas tropicais, principalmente maracujá. Em seguida, toques vegetais característicos da variedade sobre kiwi e leve cítrico. Cabe esclarecer que este vinho é elaborado com uvas oriundas de três setores diferentes de Casablanca. Na boca apresenta sabores de frutas tropicais como maracujá e laranja lima. Mineral, vigoroso e de acidez muito delicada, é um vinho estruturado, fresco e de boa persistência. Termina macio, sem amargor. Vinho que simboliza a incessante busca da qualidade perseguida por esse produtor no manejo dessa conhecida cepa. Teve ótimo desempenho à mesa. Avaliação: 91/100 pts.+
Viu Manent Gran Reserva Chardonnay 2012 – álcool: 13% – Região: Vale de Casablanca – amarelo palha intenso. Nos aromas exibiu aromas de frutas tropicais maduras como manga, carambola e abacaxi. Um vinho de bom perfil aromático, fresco, redondo, com alguma untuosidade e boa tipicidade. Amadurecido em barrica de carvalho francês: 70% novas e 30% de segundo uso, madeira e álcool estão integrados, termina com média/longa persistência, sem amargor, com uma nota adocicada. Avaliação: 89/100 pts.+
Conclusão
A terceira vinícola a ser visitada foi a primeira a apresentar novidades de real interesse para o consumidor. Não que as anteriores tenham decepcionado, ao contrário, mas a Viu Manent, além de permitir, na senda das vinícolas visitadas, que o grupo provasse vinhos de safras ainda indisponíveis no Brasil, apresentou dois vinhos novos que deverão estar à venda antes do fim do ano: Vibo Punta del Viento 2011 – Variedades: Grenache (68%), Mourvèdre (21%) e Syrah (11%) e Vibo Viñedo Centenario 2011 – Variedades: Cabernet Sauvigon (51%), Malbec (44%) e Petit Verdot (5%). Os dois vinhos têm estilo próprio – o primeiro é um corte a moda do Rhône e o segundo tem feição bordalesa. O preferido dos jornalistas brasileiros foi o segundo. Mas o primeiro é um vinho que começa a ganhar apreciadores. Seu estilo é mediterrâneo, com toques minerais, acidez intensa, taninos volumosos e madeira integrada. Um vinho vocacionado para a mesa. O segundo vinho pode ser compreendido facilmente. Elaborado com vinhas velhas, uvas bordalesas e amadurecido em barricas francesas, é o primeiro blend autêntico produzido por Viu Manent. E, mais uma vez, essa vinícola acertou, porque tem tudo para ser um sucesso de vendas: aromático, macio, potente, aveludado e sem excesso de álcool e de madeira, como convém. Quanto ao restante do portfólio mudanças foram notadas, principalmente na linha Single Vineyard. Os vinhos agora estão mais frescos, frutados, menos pesados e menos alcoólicos. O Carménère El Incidente também apresentou excelente evolução desde seu lançamento. Seguramente é um dos melhores Carménères do Chile e divide com o Viu 1 Malbec o mesmo título: são os dois vinhos mais importantes da vinícola atualmente. Para encerrar, uma pena que os vinhos da linha Secreto (Viognier – em nova garrafa, Pinot Noir – uvas de Casablanca; variedades Malbec, Carménère e Syrah todas de Colchágua) não puderam ser provados. Somente o Sauvignon Blanc 2013 que confirmou as boas avaliações que recebe da crítica especializada. Last but not least, para quem for ao Vale de Colchágua, é obrigatória a visita a essa vinícola, para desfrutar de seus vinhos, restaurante e dar um passeio de charrete nas dependências da Viu Manent. E de quebra, comprar algumas garrafas na “tienda”, eis que os preços são mais vantajosos do que os praticados em Santiago.