A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), entidade responsável pela promoção dos Vinhos do Alentejo no mercado português e em mercados-alvo internacionais, convidou um pequeno grupo de jornalistas brasileiros para conhecimento de vinícolas no Alentejo – programação denominada “Um Alentejo Diferente”, sob a condução de Maria Amélia Vaz da Silva, num roteiro diversificado e exclusivo, que implicou na visita de vinícolas e degustações dessa importante região produtora de vinhos de Portugal, no período de 21 a 25 de janeiro do corrente ano. A seguir nossas impressões sobre os vinhos da Casa Agrícola HMR – Herdade do Monte da Ribeira e Herdade da Comenda Grande, numa degustação realizada na Sala de Provas da Casa dos Vinhos do Alentejo na magnífica cidade de Évora, Praça Joaquim Antônio de Aguiar, n° 20-21, Apartado 2146.
A Casa Agrícola HMR – Herdade do Monte da Ribeira produz somente vinhos regionais e está localizada na Vidigueira – Baixo Alentejo, onde o clima é mais seco e mais quente. A vinícola está na encosta meridional da Serra do Mendro e estende-se por uma área de 330 hectares, nos quais existe olival, citricos, culturas arvenses e vinha – além da caça. Os 43 hectares de vinhedos foram plantados em três fases: 1989, 1998 e 2005. A vertente montanhosa, onde se aproveitam as águas das chuvas para rega das videiras, funciona como um abrigo natural em relação aos ventos dominantes que sopram de Norte e Noroeste e que fazem com que a temperatura seja mais elevada. Para a adega são cultivadas uvas das variedades brancas Roupeiro, Arinto e Antão Vaz e das tintas Aragonês, Trincadeira, Touriga Nacional, Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Syrah. A degustação foi conduzida por João Carmona (Diretor de Vendas) e Nuno Elias. Os vinhos degustados foram das seguintes linhas: Varal, Pousio e Quatro Caminhos. Na Vidigueira existe um predomínio da variedade branca Antão Vaz.
Sobre a Vidigueira
A “falha” da Vidigueira que marca a divisória entre o Alto e o Baixo Alentejo, determina a razão de ser da Vidigueira, a sub-região alentejana situada mais a Sul. As escarpas da “falha”, de orientação Leste-Oeste, condicionam o clima da Vidigueira convertendo-a, apesar da localização tão ao Sul, numa das sub-regiões de clima mais suave do Alentejo. Os solos são pouco produtivos, predominantemente de origem granítica e xistosa. A Vidigueira alberga a Tinta Grossa, uma das variedades mais misteriosas do Alentejo que alguns apontam como heterônimo para a casta Tinta Barroca. Apesar da localização tão ao Sul, a Vidigueira foi durante anos palco privilegiado para os vinhos brancos do Alentejo, graças ao clima temperado da sub-região.
Brancos 2013 recém-engarrafados:
Varal 2013 – Álcool: 12,5% – Variedades: Antão, Roupeiro e Arinto – Preço no Brasil – R$ 25 – Palha esverdeado. Aromas florais sobre uma nota de fruta de polpa branca (maçã, melão). Boca fresca, sem sofisticação, sem defeitos graves. No fim-de-boca um leve dulçor natural. Muito boa relação preço-qualidade. Avaliação: 86/100 pts.
Pousio 2013 – Álcool: 13% – Variedades: Roupeiro, Antão Vaz e Verdelho – Preço no Brasil – R$ 32 – apesar de utilizar as mesmas variedades do Varal, aqui a procedência é das decantadas “vinhas velhas”. Análise organoléptica: Palha esverdeado com mais intensidade do que o vinho anterior. Notas florais e terpênicas dominam o conjunto com boa sustentação e complexidade. Na boca verificamos a confirmação das sensações olfativas com leve untuosidade. Termina sem amargor. Avaliação: 87-88/100 pts.
Varal Tinto 2011 – Álcool: 14% – Variedades: Alfrocheiro, Aragonês e Trincadeira – Violáceo intenso. Nariz aberto, franco, com notas especiadas sobre frutas negras. Na boca sua entrada revelou um vinho macio, de taninos redondos, média concentração de sabor num final com discreto amargor que não incomoda. Avaliação: 86/100 pts.
Pousio 2012 – Álcool: 14% – Variedades: Syrah, Trincadeira e Aragonês – preço em Portugal: 3,99 Euros – Vermelho-rubi intenso de média profundidade. Aromas típicos com frutas negras, especiarias sobre mentol. Acidez na medida, boa concentração e final levemente alcoólico. Avaliação: 87/100 pts.
Pousio Reserva “Black Label” 2012 – Álcool: 14% – Variedades: Syrah, Alicante Bouschet e Trincadeira – preço em Portugal: $ 3,99 Euros – vinho amadurecido em barricas de carvalho francês de terceiro e quarto anos durante dez meses. Análise organoléptica: vermelho-rubi intenso de média profundidade. Aromas típicos com frutas negras, especiarias, tabaco sobre mentol. Acidez correta, boa concentração de sabor, toque de madeira e final levemente alcoólico. É um vinho jovem cujo tempo joga a seu favor, eis que tem plena possibilidade de afinamento do conjunto na garrafa, quando então ganhará harmonia. Avaliação: 87/100 pts.+
Quatro Caminhos 2011 – Álcool: 14% – Variedades: Syrah, Alicante Bouschet e Touriga Nacional – preço em Portugal: $ 12,90 Euros – vinho elaborado pelos enólogos Luís Duarte e Nuno Elias, amadurecido em barrica de carvalho francês de 300 litros durante doze meses. Análise organoléptica: vermelho-rubi intenso, profundo. Aromas típicos dos grandes tintos Alentejanos com frutas negras, especiarias sobre uma nota balsâmica que o distingue. Vinho potente, quente, acídulo, concentrado com gostosas notas de chocolate a lembrar um bombom recheado com cereja. É um tinto jovem que tem o tempo como seu maior aliado, eis que tem plena possibilidade de arredondamento na garrafa, quando se tornará mais consensual. Mas nada impede de desfrutá-lo agora, eis que perfil moderno permite isso. Avaliação: 89-90/100 pts.+
Sobre a Herdade da Comenda Grande
A Herdade da Comenda Grande conta com uma área de 750 hectares, das quais 42 hectares de vinhas sendo 35 hectares de variedades tintas e 7 ha de variedades brancas. Privilegiaram-se as castas mais marcantes do Alentejo, Trincadeira e Aragonês nas tintas e Arintos e Antão Vaz nas brancas, a par de outras em menor proporção que se consideraram poder constituir uma mais valia em termos diferenciadores e que são Alfrocheiro, Tinta Caiada, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Syrah nas tintas e Verdelho e Sauvignon Blanc nas brancas. A Herdade da Comenda Grande faz parte da empresa Monte da Comenda Agroturismo Ltda., sediada em Arraiolos, Alentejo, Portugal. Os vinhos foram apresentados por Nuno Lopes, Francisco Pimenta e Antonio Lopes.
Comenda Grande Sauvignon Blanc 2013 – álcool: 12,5% – Palha verdeal. Aromas pouco intensos mas de boa complexidade, com toques florais e vegetais. Na boca sua entrada revelou um vinho fresco, macio, balanceado e agradável. Média persistência. Termina sem amargor. Avaliação: 87/100 pts.
Comenda Grande Verdelho 2013 – álcool: 13% – Palha verdeal. Aromas com predomínio das notas frutadas (banana, pêra, maçã). Na boca é um vinho macio, descomplicado, de médio corpo. Termina remetendo o degustador às sensações olfativas iniciais, sem amargor. Avaliação: 87-88/100 pts.
Comenda Grande Branco 2013 – álcool: 13,5% – Variedades: Antão Vaz, Arinto e Verdelho – Palha verdeal. Aromas frutados com predomínio das notas cítricas. Na boca sua entrada revelou um vinho fresco, daqueles que enchem agradavelmente a boca com sua fluidez, maciez ratificando as notas cítricas existentes nos aromas. Termina macio, redondo, sem amargor. Avaliação: 88/100 pts.
Comenda Grande Rosé 2012 – Variedades: Alfrocheiro (90%) e Touriga Nacional (10%) – Atrativa coloração Cereja brilhante. Exuberantemente frutado nos aromas com notas de morangos e cerejas formando um perfil apetecível. O corpo é magro, mas o frescor se destaca. Álcool na medida. Boa acidez e final de média/curta persistência, sem amargor. deve crescer à mesa. Avaliação: 86-87/100 pts.
Espumante Comenda Grande Bruto n/v – Álcool: 11,5% – Variedades: Arinto (predominante) e Antão Vaz (minoritária) – Palha brilhante. Perlage finíssimo com borbulhas em profusão de tamanho reduzido. Aromas intensos com notas de leveduras, pão fresco sobre um leve apontamento cítrico. Na boca é um espumante vivaz, equilibrado, elegante, dentro da melhor tradição lusitana de elaboração de espumantes através do método champenoise. Termina harmônico, promovendo uma sensação fresca no paladar. Bom acompanhamento para pratos leves. Avaliação: 89/100 pts.+
Comenda Grande Tinto 2010 – Álcool: 14% – Variedades: Trincadeira, Alicante Bouschet (ambas com 80%), Tinta Caiada, Alfrocheiro, Syrah e Cabernet Sauvignon (essas 4 participam com 20% do corte) – vermelho-rubi de média intensidade. Aberto nos aromas frutados com um toque de especiarias (cravo-da-índia). Na boca exibiu taninos macios, boa integração do álcool, acidez, fruta e madeira resultando num vinho equilibrado, sem arestas. Avaliação: 87/100 pts.
Comenda Grande Tinto 2011 – Álcool: 14,5% – Variedades: Trincadeira, Alicante Bouschet (ambas com 80%), Tinta Caiada, Alfrocheiro, Syrah e Cabernet Sauvignon (essas 4 participam com 20% do corte) – vermelho-rubi violáceo com halo púrpura. Aberto nos aromas de frutas confitadas com um toque de compota. Na boca exibiu taninos macios, boa integração do álcool, acidez, fruta e da madeira. O estilo é moderno, sem perder de vista a tipicidade alentejana que se caracteriza por misturar castas regionais com internacionais com pleno êxito. Avaliação: 87/100 pts.+
Comenda Grande Tinto 6 Castas 2011 – Álcool: 15% – Variedades: Syrah, Alicante Bouschet, Trincadeira, Cabernet Sauvignon, Tinta Caiada e Alfrocheiro – preço em Portugal: $ 14 Euros – Vermelho-rubi intenso. Aromas complexos com frutas negras secundadas por notas cárnicas (bacon), couro com ampla sustentação na taça. Boca no mesmo diapasão, taninos potentes, texturados, que promovem uma sensação de boca cheia, densa, quase doce (álcool elevado sem incomodar). Depois de algum tempo notas de fruta madura, ligeiro tostado num final longo com discreta adstringência. Avaliação: 88-9/100 pts.
Comenda Grande Reserva 2008 – Álcool: 15% – Variedades: Alicante Bouschet (70%) e Trincadeira (30%) – preço médio em Portugal: $ 22-23 Euros – Violáceo profundo na transição para granada. Exibiu os aromas típicos da Alicante Bouschet com notas vegetais, licor de cacau sobre uma nota defumada. Na boca a sua entrada revelou um vinho de sólida estrutura. Taninos volumosos de textura fina. O álcool, na casa dos 15%, encontra anteparo na elevada acidez natural da Trincadeira, que unida à Alicante Bouschet dá caldos potentes, encorpados e longevos. Vinho equilibrado, do tipo “mastigável”, daqueles no qual o decurso do tempo joga somente à seu favor. Amadurecido em carvalho francês de 1.000 litros durante 16 meses, termina frutado, prometendo longa vida na garrafa. Apenas 5.800 garrafas produzidas. Avaliação: 90/100 pts.+
