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Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), entidade responsável pela promoção dos Vinhos do Alentejo no mercado português e em mercados-alvo internacionais, dirigida por Dora Simões convidou um pequeno grupo de jornalistas brasileiros para conhecimento de vinícolas no Alentejo (programa “Um Alentejo Diferente”), sob a condução de Maria Amélia Vaz da Silva, num roteiro diversificado e exclusivo, que implicou na visita de vinícolas e degustações de vinhos dessa importante região produtora de vinhos de Portugal, no período de 21 a 25 de janeiro do corrente ano. A seguir nossas impressões sobre a Herdade do Arrepiado Velho, visitada na tarde de 23 de janeiro, na localidade denominada Sousel, a 40 km de Portalegre, no Alto Alentejo. Essa herdade foi adquirida há 9 anos pela Família Antunes que, desde logo, iniciou um ambicioso projeto: tornar o Arrepiado Velho numa mais-valia e uma referência de excelência do Alentejo. A Herdade ganhou formas, investiu-se na qualidade e os vinhos que lá nascem não passam despercebidos – isso mesmo – são elaborados fora do script normal do Alentejo para despertar a curiosidade dos amantes da bebida.

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Com uma área total de cerca de 100 hectares, a barragem destaca-se entre vinhas e oliveiras, num misto de cores e tranquilidade, como só o Alentejo consegue oferecer. O conjunto destas características faz com que a Herdade do Arrepiado Velho integre a Rota dos Vinhos do Alentejo – Percurso de São Mamede.

Decorria o ano de 2002 quando os 33 hectares de vinha foram plantados de raiz, num terroir que combina, de forma rara, solos xistosos de acentuados declives com temperaturas amenas e abundância de água, características naturais indicadoras de grande potencial.

David Booth (in memoriam), responsável pela viticultura naquele ano e o enólogo Antônio Maçanita juntaram os seus conhecimentos, inovação e dedicação, selecionaram as castas e criaram a já a apelidada Vinha dos 100 pontos: castas tintas – Touriga Nacional (42%), Syrah (18%), Cabernet Sauvignon (24%) e Petit Verdot (16%); e as castas brancas – Antão Vaz (22%), Chardonay (8%), Viognier (30%), Verdelho (15%) e Riesling (15%).

O enólogo Antônio Maçanita continua a ser o responsável pelos vinhos, agora ao lado de Nuno Ramalho, atual viticultor.

Apesar de já haver o projeto para uma adega nova, com maior capacidade e localização, a já existente está equipada com a mais avançada tecnologia disponível e devidamente dimensionada para a quantidade da atual produção de vinhos únicos e sedutores, que nascem a partir de enologia moderna mas combinada, de forma sublime, com o respeito pela tradição. Exigência, rigor e qualidade são as palavras de ordem.

A seguir a descrição e avaliação dos vinhos degustados, sob a orientação de Antônio Antunes e da enóloga-residente Marília:

Herdade do Arrepiado Velho Riesling 2013 prova de tanque – denso, concentrado, acídulo, mineral e cítrico.

Herdade do Arrepiado Velho Verdelho 2013 prova de tanque –  fresco, acidez cortante, volumoso. Ao final sente-se uma nota vegetal.

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Herdade do Arrepiado Velho Colheita branco 2012 – Álcool: 13,5% – Variedades: Antão Vaz, Chardonnay e Riesling – vinho-base – Palha esverdeado brilhante. Aromas florais e cítricos. Boca estruturada, untuosa, fresca, equilibrada, balanceada, rica, marcada pela mineralidade e apontamentos cítricos. Vinho agradável que já está pronto para ser engarrafado!

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Arrepiado Collection Super Reserva branco 2010 – Álcool: 13% – Variedades: Antão Vaz (60%), Viognier (25%) e Riesling (15%) – Palha esverdeado brilhante, quase translúcido. Floral e frutado, com predomínio de apontamentos de frutas de polpa branca. Boca rica, untuosa, marcada pelo frescor cítrico e por notas minerais e de frutas tropicais. Expansivo, untuoso, de final longo e macio, com leve toque de baunilha aportado provavelmente pela passagem por barrica. Avaliação: 89/100 pts.

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Herdade do Arrepiado Velho “Riesling de Netas 2011” – Álcool: 13,5% – apenas 1.000 garrafas produzidas, uma vez que o vinhedo foi atacado por míldio, com índice de quebra de 80%, sendo que as uvas utilizadas na elaboração deste branco são chamadas “netas” porque são a segunda produção do vinhedo. Análise organoléptica: amarelo com reflexo dourado. Aberto nos aromas com notas de frutas tropicais (damasco, marmelo e lima) sobre uma sugestão defumada. Chega a lembrar um colheita tardia. Boca untuosa, fresca e levemente doce, com gostosas notas de tangerina. Termina longo, fino, prazeroso e sobretudo marcado por seu empolgante frescor. Avaliação: 90/100 pts. 

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Herdade do Arrepiado Velho Colheita 2011 – Álcool: 14,5% – Variedades: Touriga Nacional (80%), Syrah e Petit Verdot em parte iguais – Púrpura com reflexo intenso. Aberto com notas de violetas típicas da Touriga Nacional, predominante no corte. Tabaco e chocolate revezaram-se no aromas. Na boca exibiu taninos firme, álcool e acidez elevados, boa concentração de fruta num vinho concentrado, de estilo imponente que pede tempo na garrafa para seu completo afinamento. Avaliação: 88-89/100 pts.

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Herdade do Arrepiado Velho Colheita Tinto 2012 – Álcool: 14,5% – Variedade: Touriga Nacional – Preço estimado em Portugal: $ 10 Euros – Profundo na cor de laivos violáceos. Nos aromas o floral típico da variedade predomina sobre geleia de frutas vermelhas. Ligeiramente tânico no paladar. Fruta e madeira em integração (oito meses de amadurecimento em barrica de carvalho francês). Final seco, a pedir mais tempo na garrafa. Avaliação: 88/100 pts.+

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Arrepiado Collection Vinho Regional Alentejano Super Reserva 2007 – Álcool: 14,5% – Variedades: Touriga Nacional (65%), Petit Verdot (15%), Syrah (10%) e Cabernet Sauvignon (10%) – intenso, profundo na cor, com reflexo púrpura, sem denunciar o peso dos anos. Aberto nos aromas complexos no qual destacam-se notas florais (violetas), especiarias, alguma fruta negra sobre  tostado. Boca forte, intensa, tânica (boa qualidade), rugosa, acídula com bom entrosamento entre todos seus componentes. Exibiu a típica “pegada alentejana”, eis que se trata de um tinto intenso, concentrado, profundo, com muita vida pela frente. Tipicidade muito boa. Avaliação: 89/100 pts.+ 

Arrepiado Collection Vinho Regional Alentejano Super Reserva 2008 – Álcool: 14,5% – Variedades: Touriga Nacional (65%), Petit Verdot (15%), Syrah (10%) e Cabernet Sauvignon (10%) – Região: Sousel/Alto Alentejo – Preço em Portugal: 22,50 Euros – Vermelho-rubi intenso, profundo, concentrado exibindo reflexo violeta nas bordas. Nos aromas notas de geleia de frutas negras, especiarias sobre um toque tostado. Na boca um vinho intenso de taninos volumosos, a pedir mais tempo na garrafa para seu completo afinamento. Sua boa acidez lhe dá frescor e vivacidade. Termina longo, rugoso e persistente. Um vinho que tem muito “nervo”. Avaliação: 88/100 pts.+

Arrepiado Velho “Brett Edition” 2009 – Álcool: 14,5% – Variedade: Syrah (100%) – Preço estimado em Portugal: entre $ 17 a 18 Euros – amadurecido durante dezesseis meses em barrica de carvalho francês. Análise organoléptica: intenso, profundo e sobretudo concentrado na cor. Nos aromas as típicas notas da Syrah com sugestões de groselha, ameixa, tabaco e especiarias, como confirmação de que se trata de uma das variedades adaptadas com sucesso ao terroir local. Na boca sua entrada revelou um vinho equilibrado, de taninos macios e ao mesmo tempo mastigáveis. Ligeira sobra de álcool que não tem o condão de desequilibrar o conjunto. Concentrado, as notas de “Brett” são discretas. Aliás, Jancis Robinson define Brettanomyces como “uma bactéria que vive em barricas de madeira sujas e pode infectar o vinho, conferindo-lhe cheiro de rato. Um defeito que só degustadores experientes conseguem perceber, embora alguns produtores americanos associem-no com bons vinhos franceses e deliberadamente incentivem uma pequena quantidade de Brettanomyces em seus vinhos”.  Neste vinho, o toque de “Brett” é mínimo, o suficiente para dar-lhe alguma sofisticação enquanto jovem, eis que esse tipo de aroma só aparece após muitos anos de envelhecimento. O vinho é bastante agradável, vincado na tipicidade, profundo, macio e aveludado, mas poderia ter um rótulo mais bem elaborado. Não que a figura do cavalo empane a imagem do vinho, ao contrário, a opção pelo eqüino se deu porque uma das manifestações aromáticas do “Brett” e o cheiro de crina ou até de urina de cavalo. Mas infelizmente, nos dias que correm, se a máxima “não se julga um livro pela capa” ainda tem aplicação corrente, a maioria das pessoas deixam-se levar pelo rótulo, de modo que muitos vinhos são superficialmente julgados sem uma análise acurada, sem provar o vinho. O Arrepiado Velho “Brett Edition” é um vinho muito bom, todavia, sem importador para o Brasil. Avaliação: 89-90/100 pts.+

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