Na semana de 12 a 17 de maio de 2014 este escriba visitou “sponte propria” a vinícola Caliterra, sediada no coração do festejado Vale de Colchágua (200 km de Santiago), um dos mais importantes da vitivinicultura do Chile. A vinícola está localizada no mesmo cordão montanhoso do Vale de Apalta. O atual enólogo-chefe é Rodrigo Zamorano que trabalha em harmonia com o viticultor Mario Oliva, responsável pelos vinhedos. Marcela Herrera é a Subgerente de Marketing e Veronica Steinbrügge é a Subgerente de Comunicações do grupo Errazuriz, responsável por organizar a nossa visita.

Nascido de um projeto conjunto de Robert G. Mondavi e Eduardo Chadwick, o grupo Errazuriz possui alguns do mais famosos vinhedos do Chile, entre eles Seña, Chadwick, Errazuriz e Arboleda. A vinícola Caliterra perfaz 276 hectares em três diferentes terroirs estabelecidos de acordo com a variedade ideal para cada localidade, cultivados nos conceitos de manejo sustentado e viticultura de precisão: em Colchágua Viognier, Merlot, Carménère, Cabernet Sauvignon, Syrah, Malbec e até Garnacha; em Casablanca Chardonnay; em Leyda Sauvignon Blanc. Também é importante esclarecer que a Caliterra foi a primeira vinícola chilena adepta ao conceito de sustentabilidade (2008) em harmonia com o meio ambiente conforme os protocolos de “Práticas de Boa Agricultura e Produção Limpa”.

Espetacular vista do Vale de Colchagua
Empolgante vista do Vale de Colchágua

 

Viticultura sustentável

Técnicas vitícolas sustentáveis são realizadas em todos os vinhedos Caliterra, com destaque para a não utilização de pesticidas, agricultura de precisão, corredores biológicos em torno dos vinhedos, cavalos soltos nos campos (cerca de 48) para, no inverno, comerem grama nas proximidades dos vinhedos que em alguns setores estão cercados de vegetação nativa para proliferação dos inimigos naturais das pragas que atacam os vinhedos.

Sanidade Vegetal

Caliterra trabalha de acordo com s normativas do IPM – Manejo Integrado de Pestes; uma combinação de métodos biológicos, químicos e de cultivo que minimizam o impacto no meio ambiente.

  • Colocação em marcha de programas fitossanitários amigáveis com o entorno baseados na utilização de produtos de baixo impacto para a saúde e o meio ambiente.
  • Privilegia-se o controle biológico das pestes mediante o aumento da diversidade com utilização de vegetais e o uso de produtos de baixo impacto para os inimigos naturais.
  • Uso de sistemas avançados de monitoramento, que permitem a segregação de áreas de controle.
  • Rotação dos produtos utilizados com o objetivo de prevenir a resistência.
Espetacular vista do Vale de Colchagua

Os vinhedos localizados no setor de exposição norte são mais quentes, havendo, portanto, um grande número de lebres que se alimentam dos troncos dos vinhedos. Por isso são utilizadas capas plásticas transparentes, mas o controle também se dá através da criação de aves de rapina de hábitos noturnos que não permitem a multiplicação das lebres caçando-as.

A seguir as linhas de vinhos Caliterra:

Reserva – Monovarietais

Tributo – Vinhos oriundos de um único vinhedo.

Edición Limitada –  Vinhos elaborados com as melhores uvas de cada temporada, portanto, sua composição é variável. Vinhos amadurecidos em barricas novas francesas (30% do vinho) durante 18 meses.

Cenit – o topo da pirâmide, o ícone da Vinícola Caliterra.

 

Linha de vinhos Caliterra Tributo

A seguir a descrição e avaliação dos vinhos degustados na vinícola:

 

Caliterra Tributo Sauvignon Blanc Leyda 2013 – Álcool: 13,5% – Segundo o enólogo “Uma excelente temporada nesta vinha costeira exclusiva do Vale do Leyda. Esta safra do Tributo Sauvignon Blanc apresenta um caráter muito definido com excelente mineralidade e frescura. Basta abrir a garrafa para mostrar o seu potencial e aromas extraordinários”, assegura o Enólogo Rodrigo Zamorano. Análise organoléptica: palha brilhante translúcido. Aberto nos aromas com as notas minerais que caracterizam os brancos de Leyda, secundada por apontamentos cítricos e de ervas com ampla sustentação na taça. No paladar a sua entrada confirmou os aromas. O frescor é o seu destaque, mas trata-se de um branco potente, de acidez cortante, denso, mineral de tipicidade bem marcada. Sua acidez “cítrica” acentua seus sabores. Deixa uma nota de limão siciliano no fim-de-boca. Avaliação: 89/100 pts. 

 

No vinhedo da Caliterra, devido à proximidade da mata nativa existe um número expressivo de lebres que se alimentam das uvas. Para controlar a procriação das lebres, aves de rapina são criadas.

Caliterra Tributo Chardonnay Casablanca 2013 – Álcool: 13,5% – cerca de cem por cento do vinho fermentou em barrica francesa sendo 8% novas – utilizou leveduras nativas – battônage por uma semana. Amadurecimento de nove meses. “2013 foi um grande ano para a Chardonnay de Casablanca. Temperaturas moderadas, luminosidade média e longa temporada de verão eram todas as condições que tornam possível este vinho muito fresco e complexo “, salienta o enólogo Rodrigo Zamorano. Análise organoléptica: amarelo palha com reflexo na transição para dourado. No olfato os primeiros aromas são de frutas tropicais como abacaxi, pêssego, pêra e abacaxi sobre um fundo cítrico. Depois de algum tempo gostosas notas amanteigadas passaram a predominar o conjunto aromático. Na boca as sensações olfativas foram integralmente subscritas. Muito macio, profundamente frutado, este untuoso Chardonnay de Casablanca confirmou a tipicidade da variedade no Novo Mundo com elegância, discreta mineralidade e frescor que o destaca no contexto dos bons exemplares desta cepa produzidos no Chile. Um vinho que crescerá na garrafa nos próximos anos. Avaliação: 88-89/100 pts.+

 

A degustação dos vinhos Caliterra revelou agradáveis surpresas...
A degustação dos vinhos Caliterra revelou agradáveis surpresas…

Caliterra Tributo Malbec 2011 – Álcool: 14% – Variedades: Malbec (97%) e Syrah (3%) – cerca de cem por cento do vinho amadureceu durante doze meses em barricas francesas (novas 10%)  Análise organoléptica: elaborado com vinhas de mais de 15 anos desta variedade bem adaptada ao terroir de Colchágua, este Malbec segue a máxima de que “menos é mais”, eis que sente-se menos madeira do que antes e mais fruta (negra). Taninos macios, álcool na medida certa, razoável acidez e fim-de-boca de média/longa persistência. Um pouco austero ao final, deve ganhar harmonia com mais tempo na garrafa. Também se destacou na tipicidade. A qualidade deste vinho é um indicador da importância dessa variedade para a Caliterra. Avaliação: 88/100 pts.+

 

Enólogo, Veronica, Jeriel, Marketing e Viticultor
Enólogo, Veronica, Jeriel, Marketing e Viticultor

Caliterra Tributo Syrah 2011 – Álcool: 14% –  cerca de cem por cento do vinho amadureceu durante doze meses em barricas francesas novas (13%) – Análise organoléptica: “Graças à estação mais fria do que o usual, a versão Syrah da safra 2011 do Tributo Syrah parece ser  mais ” Rhône ” do que temos realizados até à presente data. Com grande cor e acidez, o amadurecimento em barrica, estrutura e elegância no paladar, este vinho vai continuar a surpreender nos muitos anos por vir”, são palavras do habilidoso enólogo Rodrigo Zamorano. Análise organoléptica: mais um Syrah moderno, que tem a fruta no papel de protagonista e a madeira como coadjuvante. Aromas apetecíveis, sem notas herbáceas, apenas uma ponta tostada, leve café, alguma especiaria, geleia de amora e framboesa. Na boca os taninos doces da variedade. Generoso no álcool sem no entanto incomodar. Uma nota de ameixa bem colocada concorreu com madeira (tostada) que está presente, sem no entanto se sobressair. Equilibrado, sem arestas, um tinto fácil de beber, mas fácil ainda de gostar, por conta da fruta fresca que ostenta que o torna hedonista. Avaliação: 89/100 pts.+

 

Untuoso e equilibrado Chardonnay com uvas do Vale de Casablanca
Refrescante  e equilibrado Sauvignon Blanc  com uvas do Vale de Leyda

 

Caliterra Tributo Carménère 2011 – Álcool: 14% – Variedades: Carménère (98%), Malbec e Petit Verdot em partes iguais – cerca de cem por cento do vinho amadureceu durante doze meses em barricas francesas novas (16%) – Análise organoléptica: vermelho-púrpura profundo na cor, estamos diante mais um Carménère moderno, nada haver com versões anteriores, eis que aqui a fruta está no papel principal e a madeira mera coadjuvante. Aromas apetecíveis, sem notas herbáceas, apenas uma ponta tostada, leve café, alguma especiaria (pimenta do reino). Na boca os taninos doces da variedade. Generoso no álcool sem no entanto incomodar. Uma nota de ameixa bem colocada prevaleceu sobre a madeira que está presente, sem empanar o conjunto. Equilibrado, sem arestas, um tinto fácil de beber, mas fácil ainda de gostar, por conta de seu gostoso frescor. Toda essa estrutura é um predicado do bom potencial de envelhecimento deste tinto. A variedade responde bem ao solo e clima de Colchágua e da caldos concentrados, redondos, frutados e saborosos como este sofisticado exemplar de tipicidade bem marcada. Avaliação: 88-89/100 pts.+

 

Caliterra Tributo Cabernet Sauvignon 2011 – Álcool: 14% – Variedades: Cabernet Sauvignon (91%), Petit Verdot (6%) e Cabernet Franc (3%) –  cerca de cem por cento do vinho amadureceu durante doze meses em barricas francesas novas (15%) – “Este é um muito bom exemplo de Cabernet Sauvignon que nos espanta com sua elegância e sobriedade. Esta versão respeita absolutamente a natureza desta nobre variedade. Faz-nos sentir muito orgulho”. Palavras do Enólogo Rodrigo Zamorano. Análise organoléptica: mais uma vez a Cabernet Sauvignon pontificou, agora verdejante Vale de Colchágua. Profundo na cor, abordável nos aromas balsâmicos, mentolados sobre frutas vermelhas e negras. Na boca, sua entrada revelou um tinto de taninos macios, expansivo, estruturado, firme, com tudo no lugar certo. Plena sintonia entre equilíbrio gustativo e volume de boca. O fim-de-boca é longo, aveludado, redondo, sem arestas. Tinto sofisticado, harmonioso e elegante. Indispensável ter ao menos um na adega (climatizada). Avaliação: 89-90/100 pts.+

 

No vinhedo da Caliterra, devido à proximidade da mata nativa existe um número expressivo de lebres que se alimentam das uvas. Para controlar a procriação das lebres, aves de rapina são criadas.
Nos vinhedos da Caliterra, devido à proximidade da mata nativa existe um número expressivo de lebres que se alimentam dos troncos das videiras. Para controlar o crescente número delas aves de rapina são criadas.

Caliterra Edición Limitada “A” 2011 – Álcool: 14,5% – Variedades: Malbec (54%) e Carménère, (46%) – Álcool: 14,5% – “A mistura de Malbec que simboliza o êxito da vinicultura do outro lado da cordilheira com a Carménère, que confere temperamento Andino, faz este vinho ser surpreende com sua vivacidade e expressividade. Esta foi uma temporada de frio, e a Malbec em especial revela a sua tipicidade mais floral e expressiva junto com a elegância e profundidade da Carménère para fazer este Edición Limitada um vinho muito atraente “, arremata Rodrigo Zamorano. Análise organolétpica: vermelho-azulado profundo na cor com grande intensidade. Aromas de frutas frescas, como amoras e mirtilos aparecem junto com belo floral (violetas) e especiarias, concentrado no paladar, com os taninos se destacando e a madeira já não marca tanto o conjunto como na safra anterior. Enfim, um vinho de grande estrutura, tânico (ótima qualidade), mastigável, imponente, denso, expansivo, com grande potencial na garrafa. Avaliação: 90/100 pts.+ 

Cenit, o tinto topo de linha da Caliterra, mais uma vez não decepcionou!
Cenit 2010, o tinto topo de linha da Caliterra, mais uma vez não decepcionou!

 

Caliterra Edición Limitada “B” 2011 – Cabernet Sauvignon (74%), Petit Verdot (13%), Merlot (9%) e Cabernet Franc (4%) – Álcool: 14,5% – Para Rodrigo Zamorano “Enquanto o frutado e o caráter da Cabernet Sauvignon predominam neste Edición Limitada, a elegância da Merlot, a intensidade da Petit Verdot, e a estrutura da Cabernet Franc fazem este vinho excepcional “. Rodrigo assim descreve o vinho: “vermelho-rubi brilhante na cor. O nariz elegante explode em frente com aromas de frutos silvestres como amoras, cerejas e framboesas, seguido pelo notas de especiarias e alecrim que aparecem gradualmente à medida que o vinho se abre. Na boca este vinho suave e elegante oferece acidez e estrutura rica que prediz que o vinho irá envelhecer muito bem na garrafa”. Análise organoléptica: aqui verificamos o vinho “mais pronto” desta nova série da Caliterra, um autêntico blend bordalês, elaborado exclusivamente com variedades de origem francesa, exibiu cor profunda com reflexo azulado indicando se tratar de um vinho jovem. Na boca taninos finos, grande concentração e profundidade de sabor, acidez e álcool integrados. Ao contrário dos dois anteriores, este já está pronto e mais tempo na garrafa lhe fara bem, dando complexidade e sofisticação a este imponente tinto. Avaliação: 90/100 pts.+    

 

Enólogo da Caliterra
Enólogo-chefe é Rodrigo Zamorano

Caliterra Edición Limitada “M” 2011 – Álcool: 14,5% – Variedades: Syrah, Mourvèdre, Pinot Grigio e Roussanne – “O Mediterrâneo ficaria orgulhoso de receber este vinho como um dos seus próprios. Fresco, floral, frutado e intenso, este vinho é um reflexo fiel de que variedades típicas do Mediterrâneo podem produzir em nossa vinha Caliterra “, assinala o Enólogo Rodrigo Zamorano. Mais à frente arremata: este vinho intenso na cor vermelho-rubi se revela lentamente. Com uma rica paleta de aromas, esta mistura começa mostrando toda a sua exuberância floral e picante, e em seguida, dá lugar a aromas de frutas frescas, como framboesa e ameixa. Análise organoléptica: escurão na cor, concentrado no paladar, taninos se destacando e a madeira já não marca tanto o conjunto como na safra anterior. Enfim, um vinho de grande estrutura, mastigável, imponente, denso, expansivo, frutado, com grande potencial na garrafa. Avaliação: 90/100 pts.+ 

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Caliterra Cenit 2010 – o tinto topo de gama da Caliterra mais uma vez não decepcionou. Cenit é o nome do ponto mais alto no céu. Todo 21 de dezembro, o hemisfério sul experimenta o dia mais longo do ano, o solstício de verão. Esse é o dia em que o sol atinge o seu apogeu (Cenit em espanhol) sobre os vinhedos e a vinícola Caliterra tem objetivo de expressar a sinergia das melhores características de cada variedade selecionada para este vinho. Corte das variedades Malbec (30%), Cabernet Sauvignon (20%), Carménère (17%), Petit Verdot (13%), Cabernet Franc (10%) e Syrah (10%), Rodrigo Zamorano assim descreveu este potente tinto: cor típica dos vinhos de Colchágua, impenetrável com reflexo azulado denunciando boa extração. Frutas negras se destacaram nos aromas com notas de côco derivadas da passagem por barricas francesas. Especiarias e mentol também revezaram-se nos aromas.  Maduro, concentrado é pleno na boca com taninos viris ao mesmo tempo sedosos. Generoso no álcool (14,5%), o final é persistente, prometendo longa evolução na garrafa nos próximos anos. Tinto que legítima o terroir de Colchágua. Avaliação: 91/100 pts.+ 

Conclusão

A Caliterra, primeira vinícola chilena a aplicar um programa de sustentabilidade mais uma vez se renova. Um verdadeiro processo de “aggiornamento” na elaboração de seus vinhos que já eram bons e que estão cada vez melhores. Tal processo está a ser liderado pelo jovem e experiente enólogo-chefe Rodrigo Zamorano que trabalha em parceria com o viticultor Mario Oliva, um dos co-responsáveis pelo sucesso do programa de sustentabilidade dessa importante vinícola do Vale de Colchágua. E o resultado já pôde ser visto nos vinhos que tivemos oportunidade de degustar, salientando que alguns ainda não chegaram no Brasil, os quais demonstram que a máxima “menos” é “mais”, porque estão menos madeirados e alcoólicos; menos densos e mais balanceados e frescos. A vinícola, nas mãos desta intrépida dupla parece ter acertado o caminho, porque agora até alguns vinhos optaram pelo estilo mediterrâneo e todos agradaram. Um ou outro ainda tem um pouquinho a mais de álcool, madeira ou extração, mas se comparados às edições anteriores, a mudança (benéfica) de rota é evidente. Por fim, este escriba esclarece que no Brasil os vinhos poderão ser encontrados na importadora Decanter. A dica deste escriba é a seguinte: experimente um branco ou tinto Caliterra. Você irá notar a diferença!

 

 

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