Jorge Lucki

A seguir excertos do texto de Jorge Jucki publicado no Valor Econômico de 04.12.2014.

“Criada com o objetivo de divulgar os vinhos chilenos, a Wines of Chile (WOC), assim associações congêneres de outros países, caso da ViniPortugal, Wines of Argentina ou Wines of South Africa, só para citar algumas, tem promovido toda a sorte de atividades, desde ações localizadas em centros de consumo importantes e participações em feiras internacionais, até eventos dentro de suas fronteiras, trazendo formadores de opinião para conhecer de perto suas bodegas e regiões vinícolas.

Fazendo bom uso dessa última ferramenta, mas em um passo mais avançado – com grande repercussão -, a instituição teve a iniciativa de organizar em Santiago, durante os 11 últimos anos, um concurso de vinhos, o Anual Wines of Chile Awards (AWoCA), aberto às vinícolas associadas, do qual participam como jurados personagens de expressão em mercados relevantes para os rótulos chilenos. Agora, em 2014, a Wines of Chile resolveu, pela primeira vez, realizar a avaliação fora do país, escolhendo o Brasil para sediar o evento, com um júri formado só por brasileiros. Segundo Claudio Cilveti, diretor-gerente da entidade, foi uma decisão estratégica, considerando a importância do Brasil para a indústria vinícola chilena – é o 5º do ranking, atrás somente dos EUA, Reino Unido, Japão e China.

AWOCA 2013

A recíproca também é verdadeira. Os vinhos chilenos contribuíram significativamente para a formação cultural dos brasileiros no quesito vinho. Esta reverência vem da lembrança dos anos 1970, quando não tínhamos a oferta que temos hoje e o Chile representava uma rara fonte segura de bons vinhos a preços acessíveis – ainda tenho algumas garrafas de Cousiño Macul Antiguas Reservas, com o rótulo branco, que estão vivos e dignos. Altas taxas de importação e um mercado cartelizado nos impunham vinhos ruins a preços aviltantes (do ponto de vista de impostos e taxas de importação o quadro não é muito diferente). O Brasil mudou e os vinhos chilenos também, ambos para melhor. Eles conquistaram o mundo, e nós um mercado mais aberto, com os melhores (e também os piores) vinhos do planeta.

Os rótulos chilenos alcançaram a liderança no ranking brasileiro de tintos e brancos importados (os espumantes formam uma categoria à parte) em 2002 e vêm se distanciando cada vez mais dos concorrentes: estatísticas fechadas em agosto último indicam que o Chile detém cerca de 46% do mercado em volume e 39% do total das importações (preço FOB), enquanto a Argentina, 2ª colocada, possui em torno de 18% nos dois parâmetros – Portugal vem a seguir com 13,1% e 13,6%.

A decisão de realizar um AWoCA fora do Chile tem a ver com a perspectiva de conseguir um impacto maior no país de origem dos jurados, porque envolve custos elevados e uma verdadeira operação de guerra. É o que se pode deduzir do fato de todas as 2.660 garrafas destinadas ao concurso – 99 vinícolas inscreveram um total de 663 vinhos, sendo necessárias quatro garrafas de cada um – terem vindo da origem e sido transportadas em embalagens especiais e aqui separadas e classificadas em uma das 14 categorias previamente definidas.

O critério utilizado pela Wines of Chile para escolher os 12 jurados da 12ª edição do AWoCA foi, conforme afirmou Claudio Cilveti, contemplar os diversos segmentos do mercado: sommeliers premiados e responsáveis pelas cartas de vinho de restaurantes renomados; representantes da Associação Brasileira de Sommeliers  e da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho; um grande nome do varejo brasileiro; e representantes da mídia especializada digital  e impressa.

Os jurados foram divididos em três mesas, que recebiam as taças já servidas, identificadas por um código, e divididas em baterias formadas por um determinado número de vinhos congêneres. As amostras eram avaliadas individualmente, discutindo-se depois as notas e os critérios adotados por cada membro da mesa, formato que minimiza possíveis falhas de interpretação e permite chegar, por consenso, a um resultado mais coerente e justo. Seguindo a tradição, os dois primeiros dias foram dedicados a classificar os vinhos por pontuação, merecendo “medalha de bronze” àqueles que alcançaram média entre 84 e 86, “medalha de prata” aos que tiveram entre 87 e 90 pontos e “medalha de ouro” àqueles que superaram 91 pontos (88 vinhos atingiram este piso). Com todos os jurados reunidos, o terceiro dia foi reservado para eleger, dentre os “ouros”, o melhor de cada categoria. Os ganhadores foram anunciados na terça-feira, dia 2, (os jurados, até então, só os conheciam por sua codificação) e estão listados na tabela.

Uma terceira fase, em que só entravam os 14 vinhos classificados como os melhores em cada categoria, definiria o “Best of the Show”, o melhor do Concurso. Por maioria de votos, o prêmio coube ao Casas del Bosque Syrah Gran Reserva 2012 – importado e distribuído no Brasil pela Obra Prima (www.obraprimaimportadora.com.br). Ainda que seja difícil eleger um rótulo em meio a 14 vinhos tão diferentes entre si (pesa bastante os critérios pessoais de cada jurado), o resultado agradou o grupo e faz justiça à syrah, uma das categorias que, no conjunto, mais impressionou favoravelmente durante as degustações. Particularmente os procedentes de zonas de clima frio, das regiões costeiras de Casablanca, San Antonio e Limari.

Merecem ser ressaltados alguns vinhos das categorias “other reds”, elaborados a partir de outras castas, em particular a carignan; o grupo dos blends, que teve várias amostras premiadas; e os carménères, com boas surpresas; além do Leyda Single Vineyard Neblina Riesling, destaque entre os “other whites”. Deixaram a desejar os cabernets sauvignons, sabidamente (ou supostamente?) uma uva que sempre garantiu boa imagem aos vinhos chilenos. Isso merece atenção por parte das vinícolas. É motivo de discussão há algum tempo e teria a ver, talvez, com uma produção insuficiente de uvas de qualidade para suprir a demanda”. 

Leia mais em:

http://www.valor.com.br/cultura/3803874/importancia-do-brasil-para-os-vinhos-chilenos#ixzz3Ld1wl8YQ

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3 thoughts on “A importância do Brasil para os vinhos chilenos, segundo Jorge Lucki”

    1. Sueli,

      Procuro selecionar matérias interessantes para os leitores e fico contente por receber manifestações
      como a sua.

      Atenciosamente

      Jeriel

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