Mais uma vinícola visitada no Vale de Itata – Sul do Chile:Pandolfi Price – Family Wines Itata”, conhecida no dia 26 de março de 2015. Fomos recebidos por Enzo Pandolfi Price, Enzo Filho e Patricio Pandolfi Price. A seguir informações da vinícola, depois a descrição e avaliação dos vinhos:

Sylvia Cava, degustadora do Concurso Mundial de Bruxelas – Blogdojeriel.jpg

Sobre a Pandolfi Price –

Trata-se de um projeto vitivinícola de uma família que até poucos anos atrás nada tinha que ver com uvas e vinho. Tudo começou em 2002, quando a família Pandolfi Price chegou na Fazenda Santa Inés, em Rucapequén, Chillán Viejo, que tinha apenas um vinhedo único nas orelhas do Rio Larqui, com um Chardonnay “de secano”, plantado em 1992, que já refletia todo o potencial do terroir da zona, a magia de seu entorno e a força do Vale de Itata.

Atualmente, a Pandolfi Price pratica viticultura com o máximo respeito pelo meio ambiente e ao vinho com maior respeito pela uva, buscando assim  a pureza do terroir em sua máxima expressão.

Vinhos artesanais elaborados em escala humana com muita perseverança e paixão, daí a sigla com duas letras “P” entrelaçadas, mostrando os nomes comprometidos na elaboração de um vinho que reflita todo caráter do Vale de Itata. Trata-se de um projeto que é um ponto de união para aqueles que se aventurarem a conhecer os vinhos do Sul do Chile. Corolário disso tudo é que a Pandolfi Price já contou com assessoria de Pedro Parra, que se define como consultor de terroir reconhecido internacionalmente por sua competência.

Chardonnay com pastel de mariscos
Larkün Chardonnay com pasteis de mariscos

Larkün é uma linha de vinhos cujas uvas são colhidas a mão e fermentado em tanques de aço inoxidável de 1.500 litros, amadureceu “sur lie” durante 18 meses. Não passa por madeira. Larkün significa “demolidor”. Degustamos as safras 2012, 2013 e 2014, numa vertical que qualificamos de no mínimo “interessante” em razão da alta qualidade do vinho.

Vertical Larkün Chardonnay 2014, 2013 e 2012 –

Larkün 2014 – Engarrafado na primeira quinzena de março do corrente ano,  na taça exibiu cor palha brilhante, translúcido, brilhante. No nariz exibiu notas ligeiramente amanteigadas (o interessante é que não passa por fermentação maloláctica), flores brancas sobre favo de mel. Na boca encantou por seu intenso frescor, acidez pulsante sem agredir o palato, delicadas notas cítricas com muita maciez e viscosidade. De nítido acento mineral, é um vinho muito bem feito que valoriza a fruta e que se fosse pontuado certamente passaria dos 90/100 pts.. Pena não estar no Brasil! No Chile seu preço é de PC$ 7.500, o que dá cerca de US$ 12 por garrafa. Enfim, trata-se de um branco que demonstra o enorme potencial da região, com bom corpo e equilíbrio e um frutado exuberante e vivaz. Amargor? Nem pensar….

Chardonnay Larkün, sem passagem por barrica, um branco macio e saboroso.
Chardonnay Larkün, sem passagem por barrica, um branco macio e saboroso.

Larkün 2013 – Palha com leve reflexo dourado, exibiu aromas complexos e cheio de nuances, com notas de maçã verde, pêssego sobre um fundo defumado. Boca no mesmo diapasão, aliando com maestria untuosidade e frescor, concentração e profundidade sem subjugar a fruta. Talvez por isso tenha sido tão bem avaliado por Jancis Robinson que lhe deu 17/20 pontos. Final longo remetendo o provador às sensações olfativas iniciais.

Vertical de Los Patricios Chardonnay – crédito da imagem: Marcelo Copello

Safra 2012 – De cor ouro pálido com tons verdeais, o vinho mais maduro da vertical abriu para frutas tropicais (abacaxi, carambola e marmelo) sobre uma nota mineral. Boca incisivamente fresca, acídula, juvenil e principalmente untuosa. A fruta é copiosa e se funde ao mineral resultando num branco coeso, denso, complexo e o principal: com muita sobrevida na garrafa. Revela o potencial do Vale de Itata na produção de brancos elegantes e longevos.

2015-03-26 14.41.27

A linha de vinhos “Los Patricios” contempla passagem por madeira. Ela também foi apresentada numa vertical de Chardonnay, agora das safras 2010, 2011 e 2012:

Pandolfi Price “Los Patricios” 2012 – Álcool: 13,7% – este Chardonnay teve suas uvas colhidas à mão e foi fermentado em barricas francesas de 225 litros. Em seguida também foi amadurecido em barricas de carvalho francês durante 20 meses. Análise organoléptica: amarelo com reflexo dourado brilhante. Aberto nos aromas com notas cítricas  e minerais sobre um fundo amanteigado com ampla sustentação na taça. Na boca há o domínio da sua acidez firme e delicada que lhe confere distinção e elegância. Se se considerar o longo período que permaneceu em barricas, estamos diante de um branco fresco, frutado, amplo, cremoso e complexo. Sua mineralidade aliada aos apontamentos cítricos remetem a um vinho de corpo pleno, sólido e longevo eis que poderá envelhecer sem problemas.

Pandolfi Price “Los Patricios” 2011 Álcool: 13,7% – este Chardonnay teve suas uvas colhidas à mão e foi fermentado em barricas francesas de 225 litros. Em seguida também foi amadurecido em barricas de carvalho francês durante 20 meses, 20% novas e 80% de segundo e terceiro usos. Análise organoléptica: amarelo com reflexo dourado brilhante. Aberto nos aromas com notas de frutas tropicais e minerais com ampla sustentação na taça. Na boca a sua entrada revelou um vinho macio, fresco, com muita fruta eis que a madeira está judiciosamente bem colocada e lhe confere uma nota crocante.  Se se considerar o longo período que permaneceu em barricas, estamos diante de um branco fresco, frutado, amplo e cremoso, tudo num contexto de complexidade e sofisticação. Longevo poderá envelhecer sem problemas. Recebeu 17,5/20 pts. de Jancis Robinson.

 

2015-03-26 22.33.26

Pandolfi Price “Los Patricios” 2010 – Álcool: 13,7% – este Chardonnay teve suas uvas colhidas à mão e foi fermentado em barricas francesas de 225 litros. Em seguida também foi amadurecido em barricas de carvalho francês durante 22 meses, 50% novas e 50% de segundo e terceiro usos. Análise organoléptica: amarelo intenso com reflexo dourado brilhante. Aberto e complexo nos aromas com notas de frutas tropicais maduras (pêssego, melão e manga), mel sobre um fundo mineral com ampla sustentação na taça. Na boca a sua entrada revelou um vinho potente, denso, com diversas capas de sabores, tudo num contexto de obediência aos cânones da variedade no Novo Mundo. Aliás, impensável para este escriba que no Sul do Chile houvesse um vinho desse padrão de qualidade. Crocante, expansivo e longo, dá para afirmar que numa hipotética lista dos cinco melhores Chardonnays do Chile este “Los Patricios” terá que integrá-la.  Dá simples leitura de sua ficha técnica o leitor poderá imaginar tratar-se de um Chardonnay intensamente barricado. Todavia, para nossa sorte, nos deparamos com um branco potente, fresco, complexo, enfim muito gostoso, com a vantagem de que poderá ser guardado por no mínimo mais três anos. Ou mais! Pena não estar no Brasil…..seu preço é da ordem US$ 22 – Recebeu 93/100 pts. do Guia Descorchados 2013 e também o prêmio “Regional Trophy” no “Decanter World Wine Awards 2014”, realizado na Inglaterra.

2015-03-26 22.31.37

Pandolfi Price “Los Patricios” Pinot Noir 2012-3 – Álcool: 14% – apenas 650 garrafas produzidas em caráter experimental deste que será o primeiro Pinot da vinícola sob a D.O Valle del Itata. Análise organoléptica: intenso e profundo na cor com reflexo púrpura (cor um pouco carregada para um Pinot que normalmente tem coloração esmaecida, pouco intensa). Aromas de frutas vermelhas, geleia de cerejas sobre especiarias. Na boca taninos presentes com algum verdor, acidez média, álcool integrado num contexto encorpado e de grande concentração de sabor. É um vinho que revela que a vinícola está no caminho certo para alcançar a tipicidade dessa difícil variedade, havendo apenas que definir seu estilo: potente ou elegante?  A amostra provada se enquadrou, na nossa modesta opinião, no primeiro estilo…

2015-03-26 22.32.05

Conclusão –

A origem dos vinhos está na Fazenda Santa Inês, localizada ao longo do rio Larqui, em Chillán Viejo, perto da fronteira com Bulnes. A propriedade que totaliza 160 hectares, foi adquirida pela família Pandolfi Price em 2002, que já contava com 25 hectares da variedade Chardonnay plantadas em 1992 pelo acadêmico de Chillan Ricardo Merino, além de cerca de 20 hectares de mata nativa e uma mansão secular.

“Nossa ideia nunca foi fazer um vinho massivo, nós queríamos fazer um grande vinho e isso não pode ser alcançado com uvas medíocres. Esta uva é uma réplica do meio ambiente. A uva é uma das poucas culturas que podem capturar o lugar onde ela está, através de aromas e sabores”, disse Enzo Pandolfi, andando entre os novos vinhedos de Pinot Noir, Syrah, Sauvignon Blanc e Riesling plantados entre 2011 e 2013 (25 hectares).

Sobre Los Patricios, Enzo lembrou que a ideia desenvolvida como Enólogo François Massoc foi de que o vinho tinha de refletir esta zona: “é um vinho único, que reflete fielmente o conceito de terroir, o trabalho das pessoas, o clima e o solo. Esta é uma “viña de secano”, isto é, sem rego artificial (regou-se-lhe nos primeiros cinco anos). Nosso foco é fazer vinhos de alta qualidade, nós não apostamos na indústria de produção padronizada como se vê nas vinhas do Norte do país, onde não há nenhuma diferença entre um ano e o outro, aqui em compensação se notam diferenças que são dadas pelo clima da temporada, mantendo sempre a qualidade.”  Mais a frente Enzo arremata: “Estamos atualmente vinificando cerca de 10% da nossa produção de uvas, um total que oscila entre 200 a 250 mil quilos. A maior parte é vendida para as grandes vinícolas do Norte do Chile, tais como Concha y Toro, Errázuriz, Montes e particulares”.

Enzo salientou que a vinificação e conservação teve lugar inicialmente na Viña Chillán, em Bulnes, mas após um par de anos a vinícola optou pela bodega do INIA – Cauquénes, onde François Massoc também trabalha com outros vinhos.

Em 2014, havia quatro mil litros de Chardonnay, que são destinados ao festejado vinho Los Patricios (homenagem ao avô) e linha Larkün (idioma mapudungún). Enquanto o primeiro leva dois anos entre fermentação e amadurecimento em carvalho, o segundo demora somente um ano e ignora a madeira, mas passa por cuba de aço inoxidável. Isto também determina os preços, eis que o primeiro vale entre 10 e 12 mil pesos chilenos (cerca de US$ 15,69 – 18,83), o segundo está na gama entre 6 e 8 mil pesos chilenos (US$ 9,42 – 12,55).

Mas Enzo ainda explicou que a maioria das garrafas vão para o estrangeiro, “exportamos um bom número para a Inglaterra e nosso desafio agora é entrar nos Estados Unidos e no Brasil.”

Internamente, os vinhos são comercializados apenas em Santiago e Concepción, nada em Chillán. Na capital regional os vinhos estão presentes através de dois distribuidores e cinco restaurantes. O objetivo, acrescentou, é aumentar a presença em Santiago.

Projetos

No futuro próximo a Pandolfi Price terá um Syrah e um Pinot Noir que já se encontram na segunda safra para estudo de sua viabilidade. “Queremos fazer um Pinot Noir poderoso, inovador”, disse Enzo.

Outro grande desafio é a expansão dos mercados, tanto nacional como internacional e pensar dentro de cinco anos, na construção de uma adega própria na vinícola.

Fonte:http://www.ladiscusion.cl/index.php/agro/44329-pandolfi-price-el-origen-del-chardonnay-mas-reconocido-del-valle-del-itata?responsivizer_template=desktop

(Visited 609 times, 613 visits today)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *