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Quem escreve essas linhas esteve no Uruguai entre os dias 12 a 18 de abril do corrente ano, este escriba viajou para o Uruguai, a convite da Wines of Uruguay  “programa de visitas às bodegas do Uruguai”. No segundo dia (16 de abril), visitamos Bodegas Pizzorno, sendo recebido pelo enólogo Carlos Pizzorno, enólogo e proprietário da bodega homônima.

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Sobre a Bodega Pizzorno –

A Bodega Pizzorno completou 100 anos em 2010, eis que foi fundada em 1910 pelo imigrante italiano Don Próspero José Pizzorno. Carlos Pizzorno, seu neto, deu continuidade ao legado familiar sem perder de vista a tradição, eis que a vinícola adaptou-se aos tempos atuais com a utilização das técnicas mais modernas de cultivo da videira, na elaboração dos vinhos e na excelência tecnológica. Carlos faz questão de enfatizar a influência marítima, eis que seus vinhedos estão muito próximos do Atlântico: “isso determina uma grande amplitude térmica entre o dia e a noite no momento de amadurecimento das uvas, que reflete diretamente na intensidade e concentração dos aromas e sabores de nossos vinhos”. Importante destacar que Carlos conta com a assessoria do enólogo da Nova Zelândia Dunkan Killiner, e isso pôde ser observado no estilo de seus vinhos, principalmente Sauvignon Blanc, elaborado com uvas de vinhedos próprios, assim como as utilizadas nos demais vinhos. Carlos também conta com o auxilio do Enólogo Marcelo Laitano, há dezessete anos trabalhando na Pizzorno. Outra informação importante é sobre a procedência das barricas: além das conhecidas barricas americanas e francesas, são utilizadas barricas da Polônia e da Hungria, eis que comprovadamente aportam maior complexidade aos vinhos. A produção total da Pizzorno oscila entre 140.000 a 160.000 garrafas-ano. A seguir as descrições dos vinhos provados:

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Pizzorno

Prova de barrica – Malbec 2015 – Carlos salientou que não vai elaborar um vinho varietal, apesar dos bons resultados em seus vinhedos dessa variedade. A Malbec será utilizada nos cortes. O vinho provado, além da cor exuberante (não podemos esquecer que é uma casta tintureira), se mostrou macio no paladar, com notas de chocolate bem definidas aportadas pela barrica. A primeira colheita se deu em 2008. Somente em 2014 as uvas não atingiram qualidade mínima para elaboração de vinho.

Pizzorno

Prova de barrica Tannat 2015 – retinto na cor, fechado nos aromas, mostrou-se virtuoso na boca, com taninos jovens de excelente qualidade. Vai ficar nas barricas de 12 a 24 meses e posteriormente será decidido se será utilizado no Tannat Reserva ou no topo de linha Primo. 

Prova de barrica – Primo 2011 – blend das variedades Tannat (50%), Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot. Provado na iminência de ser engarrafado, exibiu cor profunda, aromas madeirados e muita força no paladar. Elaborado com uvas dos melhores vinhedos e amadurecido nas melhores barricas, deverá repetir o sucesso das safras anteriores.

Degustação – prova de tanque

Pizzorno Sauvignon Blanc 2015 – palha claro, translúcido, aromático com notas cítricas (lima, limão) e maracujá sobre um fundo vegetal. Boca no mesmo diapasão, com o frescor despontando. Álcool integrado (13%), fim-de-boca macio, retomando as notas vegetais e cítricas iniciais.

Pizzorno Don Próspero 2014 Sauvignon Blanc –  palha brilhante. Cítrico no nariz, vivaz na boca com notas de frutas maduras, discreta mineralidade, corpo pleno e final macio, sem amargor. Um branco exuberante.

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Pizzorno Don Próspero Tannat Maceração Carbônica 2014 – Álcool: 13% – Muito vivo na cor e nos aromas característicos da maceração carbônica, com muita cereja e framboesa. Na boca taninos quase imperceptíveis, muito frescor, fluidez e a boa acidez vinca a personalidade deste vinho fácil de beber, um bom começo para conhecer a Tannat.

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Pizzorno Don Próspero Tannat-Merlot 2014 – Álcool: 13% – um dos cortes mais tradicionais do Uruguai, eis que a Merlot (aqui com 40%) tem o condão de “amansar” a potente Tannat. Na taça, um vinho de cor violácea intensa, frutado nos aromas, firme na boca com taninos de boa textura, com a fruta da Merlot fazendo a diferença. De boa persistência, termina sedoso.

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Don Próspero Tannat-Malbec 2013 em partes iguais. A Malbec amadureceu oito meses em barrica de carvalho americano. O resultado é um vinho de aromas adocicados, aniz sobre funcho. Muito intenso, firme e encorpado na boca. Este tinto é uma confirmação de que a Malbec cresce nas parcerias e com a Tannat ocorreu o mesmo, com fortalecimento de sua estrutura.

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Pizzorno Don Próspero Pinot Noir 2013 – Álcool: 13,5% – vinho amadurecido em barrica francesa por oito meses, na taça exibiu a cor típica da variedade, sem muita concentração mas com brilho intenso. Nos aromas muita fruta vermelha e negra. Na boca sua entrada foi um pouco quente sem desequilibrar o conjunto. Confirmou a fruta do nariz, a madeira se fez presente sem mascarar a fruta típica da Pinot Noir. Macio, fresco, balanceado, é um vinho de boa tipicidade da variedade no Novo Mundo.

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Pizzorno Tannat Reserva 2011 – quase retinto na cor viva, intensa, com reflexo arroxeado, este opulento e gentil Tannat exibiu aromas clássicos oriundos das barricas (12 meses de carvalho americano judiciosamente utilizado) que não sufocaram a fruta – cerejas e framboesas em profusão. Na boca é simplesmente um tinto monumental, complexo, estilo “Cherry Brand”, com uma acidez gostosa e um final muito longo. Se fosse pontuado certamente passaria dos 90/100 pts.!

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Pizzorno Select Blend 2011 – Álcool: 13,5% – Variedades: Tannat (60%), Cabernet Sauvignon (30%) e Merlot (10%) – intenso e profundo na cor vibrante, este tinto anteriormente denominado de “Tinto Reserva”, é, sem dúvida, um dos melhores vinhos do grande portfólio do inquieto e talentoso Carlos Pizzorno. Aromas complexos a lembrar um vinho fortificado, geleia de frutas negras sobre um fundo que recorda chocolate amargo. No paladar, sua entrada revelou um tinto potente, volumoso, intenso sem agredir o paladar. Segundo Carlos, os vinhos são vinificados separadamente e o blend resultante amadurece doze meses em barricas novas de carvalho americano. O resultado é um tinto encorpado, com a fruta prevalecendo, álcool integrado e boa acidez. Enfim, termina empolgante, convidando o degustador para a próxima taça!

Pizzorno Primo 2008 – álcool: 13,5% – Variedades: Tannat (50%), Cabernet Sauvignon (25%), Merlot (20%) e Petit Verdot (5%) – vinho produzido em comemoração aos 100 anos da vinícola, um verdadeiro gigante adormecido. Na edição 2006 foi eleito o melhor vinho do Uruguai pelo Guia Descorchados. A Tannat amadureceu doze meses em carvalho americano; as demais doze meses em carvalho francês. Depois de elaborado o blend final o vinho amadureceu por período inferior as doze meses em barricas francesas de segundo uso. Somente 1.500 garrafas foram produzidas. Análise organoléptica: Retinto na cor, aberto nos aromas complexos com tabaco, vermute, fumo de corda e cedro. Em alguns momentos seus aromas remetem a um vinho fortificado. Na boca é um vinho potente, denso, com a madeira por se integrar à fruta. É bom registrar que a madeira não encobre a fruta. Profundo, certamente vai ganhar com mais algum tempo de envelhecimento na garrafa para mostrar todas suas virtudes, que não são poucas. Um dos grandes tintos do Uruguai.

Pizzorno Arazá Ice Wine 2011 – Álcool: 14% – Variedade: Sauvignon Blanc – definido como vinho doce elaborado com uvas congeladas, exibiu cor amarelo intenso com reflexo dourado. Rico nos aromas com notas de araçá, pêssego, manga e geleia de laranja. Na boca sua entrada revelou um vinho multifacetado, complexo, com pinceladas minerais e frutadas, a lembrar, mais uma vez, a frutinha araçá. A madeira aqui está judiciosamente bem trabalhada e quase não se percebe seu amadurecimento por doze meses em barricas francesas, a não ser por um toque levemente tostado. Um vinho diferenciado, gostoso de beber e de grande tipicidade. Deve crescer à mesa, principalmente como acompanhamento de sobremesas não muito doces ou sendo a própria sobremesa. Segundo o Enólogo Marcelo Laitano, ao discorrer sobre a técnica de elaboração, é primeira vez que se faz Ice Wine no Uruguai, portanto, obviamente a uva não se congelou naturalmente. É uma colheita sobremadura de Sauvignon Blanc, esperou-se quase vinte dias depois da colheita da Sauvignon Blanc normal, deixou-se passificar na planta e depois se colheu. Essa uva foi para a câmara fria, tendo um grau de açúcar importante, porque estava passificada, então não era normal, era uma uva que entrou como com 15º na câmara fria. Quinze graus é equivalente a 300g de açúcar. Depois de congelada, se leva à câmara, e de três a quatro dias atinge-se a temperatura de -15º (quinze graus abaixo de zero), se tira da câmara, se leva à bodega e se prensa diretamente. Isso faz com que se transforme praticamente num bloco de gelo – as uvas congelaram – e não podem ser passadas em nenhuma máquina. A única coisa que se faz e colocá-la dentro de uma prensa, quando são suavemente comprimidas até começar a sair açúcar. A água ao estar congelada, não vai ser prensada, o que irá sair é o açúcar. Para se ter ideia de como é a produção, de quase três mil kg de uva produziram-se apenas 400 litros de suco. É um vinho característico do Canadá, que é um dos países que mais elabora esta classe de produtos. De maneira natural seria assim: deixa-se a uva sem ser colhida, por seu clima natural de inverno, com neve, a uva cai vários graus abaixo de zero. Então se dá seu congelamento natural. Neste caso, temos que ser criada uma situação análoga que permita produzir o Ice Wine. O que se faz é congelar a água, o açúcar não se congela. O que se extrai é o melaço, que é somente o açúcar da uva com componentes fenólicos que estão dentro da uva. Por isso tem aroma.

Pizzorno mais uma vez demonstrou sei pioneirismo na produção do primeiro Ice Wine do Uruguai – blogdojeriel.jpeg

Um vinho caro de produzir –

Sim, o custo de produção é alto, rende 20% aproximadamente. Dentro deste tipo de produção mais custosa, mas a qualidade do vinho não somente se faz notar na sua elaboração, como não se agrega absolutamente nada na uva, somente se aproveita ao máximo possível o que vem da uva, é assim que se pode confirmar a qualidade de um vinho natural. O vinho amadurece doze meses em barrica de carvalho francês, porque o que foi feito na segunda parte da fermentação, é que o mosto foi posto para fermentar até que a fermentação parasse naturalmente. As leveduras trabalharam até morrerem e isso foi o que gerou os quinze graus de álcool e o vinho tem por volta de 170 g de açúcar por litro. Depois disso que o vinho está pronto. Passou para a barrica onde permaneceu por um ano numa barrica americana e outra francesa. Apenas duas barricas, porque foram 400 litros de produção. Os aromas de madeira, combinam muito bem com essa classe de sabores.

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Espumantes Pizzorno Reserva Brut Nature – Álcool: 13% – variedades: Chardonnay e Pinot Noir em partes iguais – 24 meses em contato com as leveduras na garrafa), palha brilhante, perlage intenso, aromas ricos, muito cremoso e fresco no paladar, com a fruta vindo da Chardonnay. Perfil eminentemente gastronômico com um longo e apetitoso final (apenas 1.500 garrafas produzidas) e Pizzorno Rosé Brut Nature, elaborado exclusivamente com Pinot Noir, exibiu cor salmão brilhante, fruta vermelha no nariz, perlage fino, persistente, boca séria, firme, marcada pelo frescor e pela acidez balanceada. Dois espumantes de excelente tipicidade.

No Brasil, os vinhos dessa bodega são comercializados pela Grand Cru,  portal www.grandcru.com.com.br, loja na Rua Bela Cintra, 1799 – Jardins – São Paulo – Fone (11) 3062.6388

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