Adriano Ramos Pinto é uma empresa importante na história recente do Douro. Existem quatro propriedades no coração da operação: duas no Douro Superior e duas no Cima Corgo, perto de Pinhão. Das primeiras, a Quinta da Ervamoira foi plantada em 1974, com experiência no plantio de tipos de uvas em lotes separados e em fileiras verticais, que permitissem a mecanização. Eles testaram doze variedades e destas selecionaram cinco, um trabalho que se mostrou polêmico mas que influenciou plantios futuros na região. Aqui, a produção de vinho de mesa começou de fato em 1990 com o lançamento do tinto Duas Quintas, de boa relação preço-qualidade. O primeiro reserva foi feito em 1991 e desde então foi produzido todo ano, menos em 1993, 1996 e 1998, representando um grande salto na qualidade. Até agora, o Reserva Especial foi feito em 1995, 1999 e 2000. Fonte – O Grande Livro dos Vinhos – Publifolha Agosto 2012

Duas Quintas

Duas Quinta

Degustação Franco Suissa | 25º ANIVERSÁRIO DO LANÇAMENTO DO VINHO DUAS QUINTAS
Degustação Franco Suissa | 25º ANIVERSÁRIO DO LANÇAMENTO DO VINHO DUAS QUINTAS

A seguir as descrições e avaliações dos vinhos degustados na memorável vertical conduzida pelo enólogo João Nicolau de Almeida, na presença de Alfredo Srour (proprietário da importadora Franco Suíssa – Maison Lafite), que também teceu importantes considerações sobre o vinho Duas Quintas Reserva (cujo preço oscila entre R$ 250 a R$ 280 – safra 2011) e seu relacionamento de amizade de longa data com o respeitado enólogo português que conduziu com singular maestria a degustação:

Duas Quintas branco - a excelência qualitativa dos tintos estende-se ao branco
Duas Quintas branco – a excelência qualitativa dos tintos estende-se ao branco

Duas Quintas Branco DOC 2013 – Álcool: 13% – Variedades: Rabigato, Arinto e Viosinho – segundo o enólogo João Nicolau de Almeida, as três variedades exercem influência distinta no corte: a Rabigato é a variedade branca melhor adaptada ao Douro, porque resiste ao calor e aporta fruta e acidez; A Arinto é uma casta resistente ao calor, aporta mineralidade e acidez e finalmente a Viosinho é uma das primeiras a ser vindimada, é sensível e aporta aromas e sabores complexos dando categoria ao vinho. Foram essas sensações que sentimos neste gentil e untuoso branco, de acento mineral, gostoso, muito fresco no paladar! Avaliação: 89-90/100 pts.

O 2002 e o 2004 sinalizaram algum cansaço, mas estavam potáveis...
O 2002 e o 2004 sinalizaram algum cansaço, mas estavam potáveis…

Duas Quintas Reserva 1992 – Álcool: 12% – Variedades: Touriga Francesa, Touriga Nacional, Tinta Barroca – a linha reserva foi lançada em 1991 segundo João Nicolau de Almeida. O ano de 1992 foi caracterizado por um inverno seco e um verão muito quente, com temperaturas mais amenas registradas na época da colheita. O ano se caracterizou pela produção de bagos pequenos consequentemente a produção foi reduzida. As uvas da Quinta da Ervamoira foram fermentadas e pisadas em lagares de granito e as uvas da Quinta dos Bons Ares foram fermentadas  em cubas de inoxidável, sendo que apenas 20% do vinho estagiou em cascos de carvalho português (em desuso na atualidade) e francês durante nove meses, com mais um ano de estagio em garrafa. Este blend é formado por Touriga Francesa (50% – estrutura), Touriga Nacional (25% – mineralidade) e Tinta Barroca (25% – elegância). Análise organoléptica: cor violácea com halo granada e partículas em suspensão. Aromas terciários (frutas secas, tabaco) sobre um fundo tostado. Estrutura frágil com a maciez e delicadeza se destacando. Se auge já passou e a tendência é continuar declinando, mas inegavelmente é um vinho elegante. Foi o primeiro vinho português no International Wine Challenge de 1992 segundo JNA. Avaliação: 89/100 pts.

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Duas Quintas Reserva 1994 – Álcool: 13% – Variedades: Touriga Nacional (50%), Touriga Francesa (30%) e Tinta Barroca (20%) – ano de maturação perfeita das uvas, um dos melhores da década de 1.990 segundo João Nicolau de Almeida. Em torno de 40% do vinho estagiou em cascos de carvalho português e francês durante nove meses acrescidos de um ano de afinamento em garrafa. Análise organoléptica: violáceo intenso com reflexo granada com mais brilho do que o vetusto 1992. Aromas terciários com sugestões de tostados e frutos secos. Na boca exibiu menos fragilidade do que o 1992, mas também é um vinho cujo auge também já passou mas ainda consegue dar algum prazer porque tem complexidade. Em alguns momentos seus aromas e sabores evocam um excelente Tawny.  Final longo, mas com alguma rusticidade. Avaliação: 89-90/100 pts.

O 1997 foi um dos melhores da degustação.
O 1997 foi um dos melhores da degustação.

Duas Quintas Reserva 1997 – Álcool: 13% – Variedades: Touriga Nacional (50%), Touriga Francesa (30%), Tinta Barroca (10%) e Tinta da Barca (10%) – Ano atípico caracterizado por  um mês de fevereiro quente com diversas oscilações térmicas resultando numa colheita memorável, com vinhos ricos em taninos de excelente qualidade. 60% do vinho amadureceu em cascos franceses por nove meses com mais um ano de afinamento em garrafa. Análise organoléptica: coloração vermelho-rubi profundo com reflexo granada. Paleta de aromas complexos com notas terciárias (couro principalmente) ao lado de frutos negros maduros e toques especiados. João Nicolau de Almeida ressaltou que a Tinta da Barca, incluída no lote, é uma casta que dá nervo ao vinho. E foi isso que sentimos. Taninos firmes ladeados por excelente acidez. Para este escriba, o excelente frescor fê-lo destacar-se na vertical. Um vinho de acento mineral, macio, fino e sofisticado. Ainda tem vida na garrafa pela frente. Não vai evoluir, mas aguenta mais cinco anos. Ou mais! Avaliação: 92/100 pts.+ 

O 2000 se mostrou vigoroso no paladar.
O 2000 se mostrou vigoroso no paladar.

Duas Quintas Reserva 2000 – Álcool: 13% – Variedades: Touriga Nacional (50%), Touriga Francesa (30%), Tinta Barroca (10%) e Tinta Roriz (10%) – Ano irregular que ao final rendeu frutas em excelentes condições. Análise organoléptica: vermelho-rubi intenso, brilhante com discreta evolução sem refletir o peso de quinze anos. Nariz rico, floral e ostentando alguma fruta, taninos presentes de boa qualidade, excelente acidez, madeira integrada (80% do vinho permaneceu em barricas de carvalho francês por doze meses, com mais um ano de afinamento em garrafa), vinho concentrado, de final seco e longo. Avaliação: 91/100 pts.+

Safra 2005 - um vinho consensual!
Safra 2005 – um vinho consensual!

Duas Quintas Reserva 2005 – Álcool: 14% – Variedades: Touriga Nacional (80%), Touriga Franca (15%) e Tinta Barroca (5%) – Ano que produziu vinhos excelentes apesar do clima muito seco. Análise organoléptica: violáceo intenso com ligeiro reflexo púrpura. O floral da Touriga predominou nos aromas vegetais e frutados com groselha e ligeiro balsâmico. Taninos macios, ligeiramente adocicados. Fruta e madeira em comunhão (estagio em barricas de carvalho francês de 225 litros por 14 meses, com mais um ano de garrafa). Vinho “consensual”, fácil de beber com muita maciez e suavidade, num perfil mais internacional do que duriense. Final harmonioso. Avaliação: 90/100 pts.++

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Duas Quintas Reserva 2008 – Álcool: 15% – Variedades: Touriga Nacional (40%), Touriga Francesa (40%), Tinta da Barca (15%) e Sousão (5%) – Um ano bastante frio, com maturação lenta e suave das uvas com destaque para a Touriga Francesa. O resultado foram vinhos de grande frescor e concentração. Análise organoléptica: o tinto de cor mais concentrada da vertical. Não é à-toa. Apenas 5% da Sousão, conhecida como Vinhão no Norte de Portugal (Vinho Verde), que é uma variedade tintureira e tânica por excelência, tem o condão de influenciar sobremaneira o vinho. Na boca muita concentração de sabor. Taninos pulsantes, madeira judiciosamente bem colocada (18 meses em barricas francesas), acidez salivante e ótimo frescor. Nem os 15% de álcool conseguiu macular o conjunto. Cheio de vida, está jovem e vai ganhar complexidade na garrafa nos anos vindouros. Avaliação: 90-91/100 pts.++

Safra 2005 - um vinho consensual!
Safra 2011 – um vinho consensual!

Duas Quintas Reserva 2011 – Álcool: 14,5% – Variedades: Touriga Nacional (50%), Touriga Franca (40%) e Tinta da Barca (10%) – Safra extraordinária no Douro (Vintage para vinhos do Porto). João Nicolau de Almeida assim a resume: “é difícil explicar como é que uma colheita tão boa acontece, ou quais os fatores que contribuem para o seu sucesso – a ciência não explica tudo”. Análise organoléptica: violáceo intenso com borda púrpura, aromas finos com ênfase nas violetas (Touriga Nacional), frutas negras, especiarias, sobre uma convidativa nota de licor de cacau. Boca no mesmo diapasão. Taninos presentes, “texturados”, álcool integrado, acidez equilibrada, corpo pleno com grande distinção e finesse. Perfeita integração entre fruta e madeira. Não tem a pegada do 2008, mas tem um refinamento que o distingue. Um dos grandes destaques da vertical. Avaliação: 92/100 pts.++

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Duas Quintas Reserva 2012 – Álcool: 14% – Variedades: Touriga Nacional (60%), Touriga Franca (30%) e Tinta da Barca (10%) – Disponível somente em 2016 – na senda da colheita anterior, uma safra de excelente qualidade, com bagos de tamanho reduzido de grande concentração e excelente frescor. João Nicolau de Almeida informa que em 2012 a vinícola deixou de usar herbicidas em todas as suas vinhas. Análise organoléptica: violáceo intenso com reflexo púrpura, o floral típico da Touriga Nacional assume a dianteira mas não subjuga a fruta, que de seu turno está integrada à madeira (amadurecimento de 20 meses em barricas novas e carvalho francês e austríaco de um ano e dois anos). Os taninos são mais intensos do que o anterior, mas a qualidade continua excelente. Acidez salivante, encorpado e com ligeira adstringência ao final que deverá se dissipar com o envelhecimento na garrafa. Avaliação: 91/100 pts.++

 

 

Duas Quintas Reserva 2013 – Álcool: 14,5% – Variedades: Touriga Nacional (66%), Touriga Franca (21%) e Tinta da Barca (13%) – Disponível somente em 2016 – Safra que manteve a qualidade das duas anteriores, que se resume numa frase: “As condições perfeitas registradas durante a vindima propiciaram uvas com grande expressão e equilíbrio”. Análise organoléptica: vermelho-rubi intenso com reflexo púrpura nas bordas. Um tanto fechado mas assertivo no aroma floral que depois de muito tempo na taça exprime frutas negras e ervas aromáticas. Na boca, sua entrada revelou um vinho solidamente estruturado, tânico (ótima qualidade), fruta e madeira (amadurecimento de 16 meses em barricas novas e carvalho francês e austríaco de um ano e dois anos) razoavelmente integrados (pede tempo na garrafa), álcool generoso e acidez na medida certa. De fato estamos diante de um vinho clássico, que pede tempo para  mostrar todas suas virtudes, que não são poucas (aliás, aqui cabe um registro. O estilo dos vinhos elaborados sob a batuta de João Nicolau de Almeida é clássico, nitidamente duriense. Não são blockbusters. São vinhos que mostram suas virtudes com o envelhecimento na garrafa. Outra qualidade – vinhos gastronômicos). Melhor abri-lo no fim de 2016 ou até um pouco mais para frente. Aqueles que tiverem a virtude da paciência serão regiamente recompensados com um verdadeiro néctar elaborado pelo discreto e sereno João Nicolau de Almeida. Avaliação: 90-91/100 pts.++

 

José Luiz, João Nicolau de Almeida e Lucas
José Luiz, João Nicolau de Almeida e Lucas

 

 

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