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Mais de três séculos de tradição vinhateira da Itália respaldam a Família Pisano na nobre tarefa de produzir de forma artesanal vinhos finos de qualidade destacada. No Uruguai, a história começa em 1870, quando Francesco Pisano, bisavô de Daniel, Eduardo e Gustavo chega pela primeira vez vindo da Liguria. Em 1914, Cesari Pietro Secundino Pisano, filho de Francesco, se instalou na região de Progreso (25 km ao Norte de Montevidéu) e plantou os primeiros vinhedos. Em 1924 foi realizada a primeira colheita de Tannat dando início a essa bodega que atualmente já está entrando na 5a. geração de descendentes. A vinícola atualmente é administrada pelos irmãos: Daniel, Eduardo e Gustavo. O primeiro cuida das exportações, o segundo é viticultor e o terceiro é enólogo. Atualmente, cerca de 90% de seus vinhedos são “quase” orgânicos. “Quase” porque ainda não houve a certificação do Ministério da Agricultura, que não deve tardar. Os solos são franco-argilosos e calcários. Não são utilizados inseticidas/pesticidas. Leveduras naturais, produção reduzida de cerca 1,5 garrafa por planta (baixa produção) e plantação por espaldeira tradicional são alguns dos métodos utilizados. São cultivadas: Chardonnay, Sauvignon Blanc, Viognier e Torrontés. Variedades tintas: Tannat, Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Syrah e Petit Verdot. Daniel é um homem dinâmico. Sempre está inovando, um de seus últimos lançamentos é um vinho de sobremesa, Fábula 2006, corte de Viognier (80%) e Torrontés (20%), elaborado com uvas botrytizadas (disponível no Brasil através da Mistral por US$ 62,90). Pisano também produz espumantes que não são vendidos no Brasil. Por fim, o mais interessante de todos é o “Sueños de Elisa”, um Tannat elaborado pelo método da “barrica aberta”, safra 2009, produzido pela Viña Progreso, comandada por seu sobrinho Gabriel Pisano (post publicado https://blogdojeriel.com.br/2015/12/safra-2015-no-uruguai-vina-progreso/). Um vinho complexo com deliciosos aromas de geleia de framboesa sem perder de vista a riqueza de taninos da Tannat tendo como contraponto seu equilíbrio, elegância e profundidade gustativa. Importante destacar também que Daniel Pisano procura, através de seus vinhos, expressar o que de melhor pode ser produzido pelo terroir do Uruguai, porque cada garrafa procura exprimir o que a natureza permitiu produzir naquele ano e local. Por fim, Pisano não produz somente Tannats de qualidade. Toda sua produção pode ser apontada como uma das mais consistentes do Uruguai, eis que todos os vinhos exibem o esperado e almejado “caráter varietal”, façanha difícil de conseguir mundo afora eis que poucas vinícolas no mundo conseguem atingir esse nível de exatidão na sua produção.

A recepção calorosa de Daniel Pisano, que recebeu quem escreve com toda hospitalidade, se repetiu em todas as vinícolas, cada uma a sua maneira, mas sempre com muito calor humano, simplicidade e generosidade.
A recepção calorosa de Daniel Pisano, irmãos e sobrinhos na tarde de 17 de abril de 2015 , que recebeu quem escreve com toda hospitalidade, se repetiu em todas as vinícolas, cada uma a sua maneira, mas sempre com muito calor humano, simplicidade e generosidade.
A degustação com o clã Pisano
A degustação com o clã Pisano
Rio de Los Pájaros Reserva Torrontés 2015 (US$ 24,90 – safra 2013) – palha claro com reflexo esverdeado. Aromas florais sobre frutas tropicais. Na boca tem a vivacidade típica da casta. Seu perfil é mais amável do que alguns Torrontés produzidos do outro lado do Rio da Prata, porque é delicado, macio, fresco e sem amargor. Apresenta um forte acento mineral. Termina redondo, frutado e sedoso. Elaborado com clone Riojano de Chilecito, Noroeste da Argentina.
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RPF Chardonnay 2015 – (US$ 35,90 – safra 2011) – Este “Reserva Personal de la Familia” é um Chardonnay sofisticado amadurecido em barricas da tonnellerie François Frères. Daniel explicou que o solo deste vinhedo se assemelha ao da Borgonha, mas o clima é nitidamente Atlântico o que remete a Bordeaux. Análise organoléptica: na taça exibiu cor palha com reflexo na transição para dourado. Delicados aromas de frutas brancas. Leve abacaxi maduro. Boca macia, escorregadia, untuoso e equilibrada. Termina persistente e frutado. Em alguns momentos chega a lembrar um Mersault de tão elegante que é. Um dos melhores representantes da variedade no Uruguai.
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Rio de los Pájaros Reserva Cabernet Franc/Syrah Rosado 2015 – (US$ 24,90 – safra 2013) – vinho elaborado com clones de Syrah da região de Orange, bem perto do célebre Château Beaucastel. A cor é simplesmente sedutora e convidativa, entre salmão e groselha com bastante brilho. Os aromas são típicos, com notas florais seguidas por tutti-fruti sobre especiarias. Na boca exibiu taninos suaves, macios e sua boa acidez assegura o balanço e frescor do conjunto, que tem boa profundidade gustativa para um Rosé, um dos melhores exemplares produzidos no Uruguai.
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RPF
Pisano Rio de Los Pájaros Reserva Tannat 2015 – (US$ 24,90 – safra 2013)  – aqui temos um vinho que é o retrato fiel de sua safra, excelente no Uruguai. Intenso na cor a lembrar um Tannat do Madiran. Os aromas não seduzem como os sabores intensos e complexos, a lembrar um verdadeiro bombom de chocolate com cereja, especiarias conferindo elevada complexidade gustativa para um vinho da sua categoria. Macio e frutado, revelou acento mineral num final persistente sem amargor.
RPF
RPF Tannat 2011 (US$ 35,90 – safra 2011) – Vermelho-rubi intenso, profundo. Nariz fino com notas  de licor de cereja, tons lácteos sobre um fundo balsâmico. Muito complexo no nariz para um Tannat! Na boca a sua maciez é digna de nota. Balanceado e concentrado, a rusticidade da Tannat não se faz sentir neste tinto fresco, macio e suculento, de grande persistência gustativa. É sempre bom lembrar que 2011 foi uma safra que rendeu excelentes vinhos para o Uruguai.
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RPF Pinot Noir prova de barrica (três amostras da safra 2015) – a primeira mostrou cor intensa, taninos firmes e álcool generoso; a segunda mostrou maciez, elegância e um verdadeiro “savoir-faire” da variedade. Aqui a utilização de leveduras selvagens fez a diferença; já a terceira amostra se destacou na exuberância aromática e taninos presentes de excelente textura. Após a prova dessas três amostras, houve a degustação do Pinot Noir RPF 2011. Um vinho de excelente tipicidade no Uruguai, produzido numa safra extraordinária. Na taça não denunciou quatro anos. Ao contrário. A fruta se destacou. Simplesmente um dos melhores Pinots do Uruguai. Leve, fluído, redondo, com muita fruta vermelha no nariz e acidez típica da casta no paladar. Taninos leves, final sem amargor.
RPF
RPF Petit Verdot 2011 (US$ 35,90 – safra 2011) – Vermelho-rubi intenso, profundo, quase negro. Nariz complexo com sugestões florais, especiarias sobre um fundo mentolado. Na boca é um vinho quente, de taninos em profusão de ótima qualidade, acidez que provoca intensa salivação, enfim, um vinho encorpado, que obedece aos ditames desta intricada variedade. Notas de caça, grande expansão no paladar, enfim, um vinho colossal na sua tipicidade e suculência. Vai longe na garrafa!
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Pisano Arretxea 2009 – aqui subimos um degrau. Elaborado com Tannat, Cabernet Sauvignon e Merlot em proporções iguais, este delicioso vinho de perfil gastronômico exibiu a estrutura típica dos bons tannats uruguaios sem invasão da madeira que, como nos vinhos anteriores, atua apenas como coadjuvante e nunca como protagonista. Aromas que recordam bombom de chocolate. Um vinho suculento, profundo, cujo triângulo álcool, acidez e taninos está integrado. De acento mineral, custa US$ 64,90 e vale o capricho. Trata-se de um tinto denso e muito saboroso. Um vinho que retrata com fidelidade a singularidade dos vinhos Pisano.
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Axis Mundi Tannat 2011 – vinho ícone que já foi avaliado positivamente por Jancis Robinson com 18,5/20 pts. (safra 2002). Produzido somente em safras excepcionais (2002 e 2011), mais uma vez não defraudou as expectativas. Toda opulência da Tannat num meticuloso processo de vinificação que resultou neste vinho sedoso, macio e gentil mas que nem por isso perdeu a identidade. A rusticidade da Tannat está presente e isso é uma garantia de sua tipicidade, que tem como contraponto a madurez da fruta. Equilibrado, vai ganhar complexidade na garrafa. Disponível no Brasil através da Mistral, sob o custo de US$ 179,50 (safra 2002).
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Fábula Late Harvest 2006 – corte de Viognier (80%) e Torrontés (20%), elaborado com uvas botrytizadas (disponível no Brasil através da Mistral por US$ 62,90). Amarelo-dourado. Nariz elegante com laranja em calda, leve tostado, mel  e notas florais. Boca com destaque para o equilíbrio existente entre dulçor e frescor. Notas de pêssego. Longo, termina delicado e sedoso. Ótima tipicidade.
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Etxe Oneko Tannat Licoroso 2007 – US$ 62,90 – vinho ícone que já foi avaliado positivamente por Jancis Robinson com 18/20 pts., elaborado à partir de vinhas velhas de quase 70 anos, exibiu cor retinta e intensos aromas de geleia de frutas negras (amora, framboesa e ameixa) e chocolate. Na boca a sua entrada revelou os poderosos taninos da Tannat, com efeitos potencializados pela acidez característica de um vinho fortificado e pelo álcool generoso (na casa dos 17%). A doçura está na medida certa e o frescor é outro destaque. Um vinho enorme, de personalidade única, de grande potencial de guarda e que vale à pena ser provado. Provado pela segunda vez desde seu lançamento exibiu grande de consistência e longevidade.
A degustação com o clã Pisano
A degustação com o clã Pisano – três vinhos de safras antigas revelaram outra característica dos vinhos Pisano: longevidade. Foram degustados um RPF Cabernet Sauvignon 1997, RPF Merlot 2000 e RPF Tannat 2002. Tannat e Cabernet vigorosos. O Merlot 2000 deu sinais de cansaço, mas estava potável.
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