Safra 2015 no Uruguai – Bodega Giménez Méndez

No primeiro semestre do corrente ano, este escriba viajou para o Uruguai, a convite da Wines of Uruguay  “programa de visitas às bodegas do Uruguai”.  No segundo dia (14 de abril), visitamos a Bodega Giménez Méndez, que é uma empresa familiar cujo escopo está focado na qualidade, consoante nos relatou a proprietária da vinícola, Marta Mendez Parodi, também ex-Presidente da Wines of Uruguay. Para Marta, o “Uruguai tem um terroir privilegiado para produção de vinhos finos”. Sua produção é diversificada e origina-se de quatro vinhedos, distribuídos entre as regiões de Montevideo, Las Brujas, Los Cerrilos e Canelón Grande. A produção é exportada para o Reino Unido, Alemanha, Suiça, EUA, Brasil, Barbados e México.

Os vinhos degustados por este escriba: Las Brujas Sauvignon Blanc 2015 (já pode ser encontrado no Brasil), Enigma Multivarietal 2011, Gimenez Mendez Tannat Alta Reserva 2013, Gimenez Mendez Cabernet Sauvignon Alta Reserva 2013, Gimenez Mendez Malbec Alta Reserva 2013, Gimenez Mendez Tannat Premium 2011, Gimenez Mendez Arinarnoa 2013 e o vinho ícone Luis A. Gimenez Super Premium Tannat 2009, tinto produzido somente nos anos de safras consideradas excepcionais e, sem dúvida, um dos mais consistentes Tannats do Uruguai na atualidade (apenas 2.500 garrafas numeradas). Diversas variedades são cultivadas, todavia, a principal é a Tannat na maioria dos vinhos. Um tinto que também merece destaque é  0 Gimenez Mendez Licor de Tannat. A seguir as descrições dos vinhos degustados na presença de Sebastian Gonzatto, Gerente de Exportações:

Gimenez Mendez Sauvignon Blanc 2015 – palha quase translúcido. Aromático, seu perfil apresenta maracujá, traços minerais e muito frescor no palato. Bom para ser bebido sozinho ou como acompanhamento de canapés e pescados. Exemplo da boa resposta da SB no Uruguai.

Giménez Méndez Tannat Alta Reserva 2015 – Álcool: 13,5% – vermelho-rubi intenso com reflexo púrpura. Nariz aberto com uma nota floral (violetas) seguida de ameixa, framboesa e leve tostado. Taninos macios. Sabor levemente picante. Corpo pleno. Final seco. Normalmente tem boa relação “preço-qualidade”.

Giménez Méndez Cabernet Sauvignon Alta Reserva 2013 – Álcool: 13,5% – vermelho-rubi intenso com reflexo púrpura. Nariz aberto com frutas negras sobre leve tostado. Taninos macios. Uma leve ponta de álcool que não chega a desequilibrar o conjunto. Corpo pleno. Madeira integrada (8-9 meses de amadurecimento em barricas de segundo uso) Final harmônico, boa tipicidade.

Giménez Méndez Malbec Alta Reserva 2013 – Álcool: 13,5% – vermelho-rubi intenso com reflexo púrpura. Nariz aberto com notas lácteas provavelmente aportadas pela passagem por barrica. Aroma pouco intenso mas de boa complexidade remetendo aos cânones da variedade, pouco utilizada no Uruguai. Uma nota de especiarias (nóz moscada) seguida de ameixa e leve tostado. Taninos macios. Vinho razoavelmente estruturado. Final harmônico. Um Malbec surpreendente, a indicar que a vinícola está no caminho certo.

Giménez Méndez Tannat Premium  2011 – Origem: Uruguai – região: Las Brujas –  álcool: 14% – Expressivo na cor quase retinta. Nariz aberto com as tradicionais notas vegetais da casta ladeadas por ameixas sobre um fundo mentolado. As notas de barrica são notadas com facilidade (um ano de amadurecimento em barricas francesas e americanas de primeiro uso). Boca tânica (ótima qualidade), densa, com a madeira possibilitando a expressão da fruta, num perfil elegante mais próximo do Velho do que do Novo Mundo. O álcool está controlado e o conjunto consegue exibir bom equilíbrio. Reconhecidamente longevo, seu ápice ocorrerá com a evolução na garrafa nos próximos anos. Um vinho que merece estar nas melhores adegas!

Giménez Méndez Arinarnoa Alta Reserva 2013 – Álcool: 13,5% –  resultado do cruzamento da Merlot com a Petit Verdot, a Arinarnoa enseja um vinho de cor intensa, de aromas discretos com notas herbáceas, taninos macios, razoável quantidade de fruta e grande fluidez no paladar. Termina macio, sem adstringência. Vinho fácil de beber, fácil de gostar.

Enigma Multivarietal 2011

Origem: Uruguai – região: Las Brujas – safra: 2011 – álcool: 13% – Variedades: Tannat (16%), Cabernet Sauvignon (10%), Chenin Blanc, Cabernet Franc, Marselan, Chardonnay, Pinot Noir, Petit Verdot, Sauvignon Blanc, Arinarnoa, Viognier, Merlot, Syrah, Alicante Bouschet e Pinot Meunier – Vermelho-rubi intenso com alguma profundidade. No olfato inicialmente apresentou aromas vegetais e herbáceos que cederam espaço para fruta bem dosada e um aroma suave – leve sugestão de compota com uma nota mentolada no fundo. Na boca é um vinho fácil que tem boa complexidade, taninos macios, pouca madeira (somente a Tannat e Arinarnoa passam por barrica), que se apresenta bem integrada porque dá amparo à fruta. A acidez está correta e o frescor é bom. O corpo adequado lhe dá boa sustentação e personalidade. Um vinho de corte de variedades brancas e tintas, bem vinificado e de final frutado, bem agradável. À conferir.

 

Luis A. Giménez Tannat Super Premium 2009

Origem: Uruguai – região: Las Brujas – safra: 2009 – álcool: 15% –  Retinto e profundo na cor, apresenta uma paleta aromática digna de um grande vinho com ênfase na fruta bem ao estilo Novo Mundo. O álcool elevado não incomoda e inicialmente uma forte nota de geleia de framboesa domina o conjunto. Depois um toque de madeira fina e muita fruta em compota (amoras e ameixas) com um leve toque balsâmico. Na boca percebe-se  novamente o estilo novo-mundista de sabor concentrado, quase licoroso (chega a lembrar um bombom de cereja ao licor), com bastante álcool que tem contraponto no corpo e na acidez. Ainda no palato notas doces de barrica sem encobrir a fruta. Vinho de produção diminuta (apenas 2.500 garrafas), extração elevada, taninos finos, tributários e bem característicos da variedade porque lhe conferem estrutura e virilidade. Termina com uma ponta de adstringência que não incomoda. Imponente, rico, longo e consistente tem tudo para apresentar boa evolução na garrafa nos próximos quinze anos. Vinho de longa guarda, que se bebe uma vez e nunca mais se esquece..

Giménez Méndez Identity “Corte del Sur” Tannat (60%), Malbec e Carménère 2015 – álcool: 13% – região: Canelones/Montevidéu – “Identity foi elaborado em homenagem às principais variedades do Cone Sul, salienta Marta Mara Mendez, presidente da vinícola. É um blend das variedades Tannat, Malbec e Carménère. É um vinho complexo e elegante que demonstra as melhores características das três variedades.” Análise organoléptica: vermelho-rubi intenso com halo púrpura escuro. No olfato apresenta uma paleta aromática complexa com notas de frutas negras, geleia de framboesa, tostado e um toque de especiarias. As notas de barrica são notadas com facilidade e dão personalidade ao vinho. Boca redonda, tânica (ótima qualidade), densa, com a madeira possibilitando a expressão da fruta, num perfil suculento e elegante mais próximo do Velho do que do Novo Mundo. O álcool está controlado e o conjunto consegue manter alguma harmonia que deverá contribuir para sua evolução na garrafa nos próximos anos. Persistente, deixa uma nota de chocolate no retrogosto. Degustado pela primeira vez há 18 meses, demonstrou boa evolução na garrafa e se destaca por sua tipicidade com taninos redondos, boa fruta e equilíbrio do conjunto.

 

Giménez Méndez Arinarnoa-Touriga Nacional 2015 – Púrpura intenso, aberto nos aromas nitidamente florais (violetas principalmente)  secundados por notas de especiarias e amoras. Boca tânica (boa qualidade), acento mineral, acidez intensa, álcool equilibrado, boa expressão de fruta sem intromissão da madeira, enfim, um vinho de perfil próprio, com “pegada” e que certamente agradará degustadores ecléticos.

 

 

Conclusão –

Giménez Méndez é uma vinícola que já esteve no Brasil e agora em 2015 retornou através de novo importador, a Winelands, sediada no Estado do RS (em 06/2019 apuramos que essa empresa suspendeu a importação). A simples leitura das descrições acima não deixa nenhuma dúvida acerca da qualidade e consistência do portfólio, que se destaca por sua homogeneidade, “sem altos e baixos” como normalmente ocorre. Além dos bons Tannats, um novo vinho agradou (Malbec) e duas amostras recém engarrafadas (Identity Corte del Sur e Arinarnoa- Touriga Nacional) revelaram-se no mínimos promissoras. O Sauvignon Blanc 2015 confirmou a acidez vibrante que caracteriza essa variedade muito bem adaptada ao terroir uruguaio que mutatis mutandis pode ser comparado ao de Bordeaux pelo caráter “marítimo-atlântico” de seus vinhos. Enfim, os vinhos Giménez Méndez justificam o epíteto “expresión del terroir” que acompanha a marca.