No primeiro semestre de 2015, este escriba viajou para o Uruguai, a convite da Wines of Uruguay “programa de visitas às bodegas do Uruguai”. No último dia de viagem (18 de abril), visitamos a Bodega Garzon, sediada no Departamento de Maldonado, Costa Sul do Uruguai, apenas a 18 km em linha reta do Atlântico, graças ao sempre gentil e atento Cláudio D’Auria, Corporate Commercial Manager Colinas de Garzón e Bodega Garzón.
Sobre a Bodega Garzón –
Alejandro Bulgheroni é um poderoso empresário nascido em Rufino, Província de Santa Fé, Argentina, filho de mãe espanhola e de pai italiano. Ele e sua esposa Bettina descobriram Garzón em 1999 (próximo de Punta del Leste, mais precisamente no povoado Garzón, um pequeno sítio que conta atualmente apenas com 600 habitantes, lar de turistas, camponeses e artistas locais, que fica a 28 km do sítio de José Ignácio que integra o complexo turístico Punta del Este. Garzón, no limite leste do departamento Maldonado, é um povoado de feição rural que está se tornando o novo pólo de atração para os visitantes da região), quando viram nela sua “pequena Toscana em Uruguai”, e tiveram a ideia de criar a Agroland, uma empresa Agroindustrial que atua no setor florestal possuindo mais de 4.300 hectares destinados a produzir produtos alimentícios e florestais de qualidade e valor agregado, valorizando as iniciativas sustentáveis para a prestação de serviços e criação de produtos de primeiro nível. Cabe registrar que Alejandro Bulgheroni também é proprietário da Bodega Vistalba, sediada em Mendoza. Mais informações sobre Alejandro e sua trajetória no quadro abaixo:
Assim, entre oliveiras e vinhedos, o casal Alejandro e Bettina começaram a projetar a Bodega Garzón. Desde a otimização do rendimento energético à redução do uso de água, desde a utilização de materiais locais de baixa emissão à gestão responsável de resíduos da construção, desde a captação natural de água de chuva à restauração da biodiversidade, são algumas das estratégias ecológicas implementadas em seu projeto e construção.
Totalizando 19.050 m², a Bodega Garzón tem orientação enológica do experiente enólogo italiano Alberto Antonini coadjuvado pelo respeitado engenheiro-agrônomo Eduardo Felix. Recebeu uvas pela primeira vez da colheita 2014/15, inaugurando assim a primeira bodega sustentável construída fora da América do Norte, seguindo as rigorosas exigências do United States Green Building Council (USGBC). A certificação LEED (Leadership in Energy & Environmental Design) é um sistema de certificação desenvolvido pelo US Green Building Council, que é composto por um conjunto de normas sobre a utilização de estratégias voltadas para a sustentabilidade em edifícios.
Construída na serra, a bodega utilizará 40% menos de energia em comparação com outras instalações de seu tipo, graças à eficiência de suas instalações. Além disso, a geração in situ de energia eólica e fotovoltaica poderá gerar até 40% das necessidades energéticas totais.
Por fim, cabe salientar que há 1.000 parcelas de videiras de 0,5 hectares cada, todas irrigadas. Cada parcela expressa uma identidade diferente; na vinícola há 20 cubas tronco-cônicas (aquela que a base está apoiada sobre o ventre), cubas ovoides de concreto, enfim, tudo de mais moderno para possibilitar a vinificação total de mais de 1.300 parcelas de 12 variedades de destaque, sem se falar nas experimentais.
A seguir as descrições dos vinhos degustados:
Garzón Pinot Grigio 2014 – Álcool: 14% – Palha brilhante, translúcido já denunciando sua boa acidez pela cor transparente. Vegetal e cítrico nos aromas. Boca firme, mineral, macia, marcada pela surpreendente tipicidade. Fresco, alegre, vívido, termina frutado com média persistência.
Garzón Albariño 2014 – Álcool: 13% – Álcool: 13,6% – Importador: World Wine – amarelo-limão brilhante. Aromas minerais e cítricos revezam-se na taça. Boca densa, concentrada, profunda, sem perder a delicadeza e tipicidade desta variedade espanhola que parece gostar do terroir uruguaio. Final prolongado, macio e persistente. Um branco de nítida vocação gastronômica.
Garzón Pinot Noir Reserva 2012 – vermelho-rubi com halo granada em formação. Notas carameladas se destacam nos aromas, mas após o decurso de alguns minutos na taça a fruta dá o ar da sua graça. Na boca, a força de seus 15,5% de álcool facilmente se nota. O perfil está mais para a força e opulência do que para a delicadeza, frescor e complexidade da variedade. Termina razoavelmente persistente, marcado pela madeira.
Garzón Tannat 2013 – Álcool: 16,5% – região: Maldonado/Uruguai – importador: World Wine – Vermelho-rubi com reflexos violáceo. Aromas de frutas vermelhas e negras maduras, com ênfase em framboesa, amoras e toques defumados. Lembra vermute. Quente, concentrado, saboroso, com equilíbrio impressionante entre a riqueza de taninos e a potência dos sabores frutados, este vinho revela todo seu potencial gastronômico por conta de sua acidez salivante. Álcool elevado facilmente perceptível, mas a acidez consegue amenizar parte dessa sensação. Largo e profundo no meio de boca, a madeira não incomodou. O fim de boca é amplo e suculento.
Bodega Garzón, um projeto gigantesco do empresário argentino Alejandro Bulgheroni no Uruguai….
….que resolveu construir uma das mais modernas vinícolas da América do Sul aproveitando as benesses do excelente terroir do Uruguai.
O Azeite Garzón também goza de excelente reputação dentro e fora do Uruguai –
Conclusão –
A Bodega Garzón realmente impressionou pela solidez, amplitude e consistência de seu “mega” projeto. É sempre bom lembrar que parte de seus vinhos já estão disponíveis no Brasil através da World Wine e conquistaram rapidamente o respeito do consumidor em razão da sua boa qualidade. Trata-se de uma vinícola nova, novíssima, que conta com orientação enológica de um dos mais respeitados enólogos da atualidade, ninguém menos do que o italiano Alberto Antonini, que meticulosamente está fazendo estudos para cultivar variedades vitis vinifera em diferentes parcelas de solo no sentido de adaptar a melhor variedade a cada uma dessas parcelas. Melhor dizendo, os pequenos vinhedos, com menos de um hectare cada, revelam toda a expressão de seus microclimas. Para a vinícola os grandes vinhos do mundo são elaborados onde a variedade de uva tem as melhores condições, tais como em Garzón, onde seus vinhos representam esta perfeita integração. E, os resultados já começam a se manifestar. Alvissareiros por sinal. A produção atual é pequena se se comparar todo aparato de última geração disponível – diversas cubas de aço inoxidável, piletas de concreto, cubas tronco-cônicas (20!!), cubas ovóides (huevos), fudres, barricas de carvalho francês de diversos tamanhos e tonelarias, enfim, todo material necessário para elaboração de vinhos de primeira qualidade estão disponíveis na Bodega Garzón, uma vinícola na qual o futuro já chegou e que em pouco tempo estará produzindo em grande escala vinhos de DNA genuinamente uruguaio.