A NOVA “BOLA DA VEZ” – ESLOVÊNIA

Por Guilherme Corrêa –

“Nas diversas palestras que ministrei desde que inauguramos a importação destes vinhos surpreendentes no Brasil, sempre me impressionou o encantamento mesmo dos degustadores mais experimentados perante aos brancos e tintos apresentados, e também o total desconhecimento do brasileiro em relação à Eslovênia como um todo.

Muitos acreditam que a vinicultura começou ali depois da Eslovênia se tornar a primeira república independente da Iugoslávia em 1991, mas na verdade, as antigas tribos dos celtas e dos ilírios que habitavam aquela região na confluência dos Alpes, do Mediterrâneo e dos Balcãs já cultivavam e fermentavam uvas muito antes da chegada dos romanos!

Após a 2ª Guerra Mundial a produção eslovena ficou na mão das cooperativas, preconizando o volume, ainda que alguns grandes vinhos eram elaborados na zona de Podravje. Em 1967, no entanto, a Eslovênia lançou um selo de qualidade, propiciando o desenvolvimento de vinícolas privadas na década de 70. Já como República da Eslovênia, o país assume posição de destaque na região, com leis inteligentes e bem fiscalizadas, produtores ambiciosos e enorme potencial natural.

Para um país com a área equivalente ao menor estado brasileiro, o Sergipe (fora o DF), a Eslovênia apresenta dados impressionantes quando o assunto é o vinho. A área plantada é de 24 mil hectares, bastante fragmentada, mas praticamente o dobro da área plantada com Vitis vinifera em todo o Brasil. A produção anual é de 0,8 milhão de hectolitros, dos quais 3/4 de vinhos brancos. Apenas 5% da produção é exportada, devido à abertura recente aos países ocidentais e ao forte consumo interno, isto mesmo, a Eslovênia possui o 6º maior consumo per capita do mundo, com 37,34 litros/ano.

Simcic

UM FURACÃO CHAMADO MARJAN SIMCIC

Visitar Marjan na sua vinícola em Ceglo na Eslovênia foi uma experiência tão visceral como eu imaginava! Horas e horas de muitas amostras de tanque, de botti, garrafas velhas puxadas da adega da família, comida e boas risadas compartilhadas, enfim, uma visita memorável, de profundo aprendizado. Marjan e Valerja são fluentes em italiano e inglês, como boa parte dos habitantes deste país de excelentes indicadores socioeconômicos. O eloquente e empolgante Marjan é de uma assertividade incrível, tal como seus vinhos que estão a abalar as estruturas do Velho Mundo.

 COLOQUEM-ME ÀS CEGAS, POR FAVOR!

Pergunto-me onde no Velho Mundo se degusta de um mesmo produtor: um Sauvignon Blanc no nível de complexidade de um top de Sancerre, um Chardonnay que evoca os melhores terroirs da Borgonha, um Pinot Noir que já arrancou aplausos de Steven Spurrier – o elencou como “Best Old World Red” na Decanter – e da Jancis Robinson, e um Merlot, ah, um Merlot que pela elegância, profundidade, terrosidade, equilíbrio e persistência pode ser confrontado com os melhores tintos do Pomerol, do Friuli ou da Toscana, as referências clássicas desta uva no continente europeu? Estes são vinhos que devem ser colocados lado a lado com os clássicos para se fiar na grandiosidade do terroir de Brda!!!

Goriška Brda
Goriška Brda

Marjan Simcic “foi a chave do sucesso da região de Goriška Brda”, quando ainda nos seus 20 anos assumiu a vinícola de 1860 da família e iniciou “uma revolução enológica, mudando o perfil da região e elevando-a ao primeiro nível nacionalmente e internacionalmente”, segundo a Decanter Magazine. O irrequieto Marjan experimentou muito, e com suas uvas perfeitas de cultura ecológica, achou um caminho entre o esloveno prístino, com longuíssimas macerações e exposição ao oxigênio, e o contemporâneo sedutor.

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São apenas 18 hectares de vinhedos trabalhados naturalmente, há muitos anos sem emprego de nenhum fertilizante ou pesticida químico. Seria mesmo um pecado não respeitar ao máximo aquela natureza abençoada. Afinal, a região de Goriška Brda é simplesmente a maior porção do renomadíssimo Collio da Itália, uma terra de imensa vocação para grandes vinhos, com solos de marga calcária pedregosos denominados “opoka” em Brda e “ponca” no Collio, e um clima moderado pelo sol e ventos mediterrâneos.  Parece que ali é onde os Alpes dão as mãos ao Mediterrâneo e combinam de criar uvas absolutamente perfeitas…”

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DECANTER WINE AWARDS 2011: Silver Medal

Degustação –

Simcic Marjan Teodor Rdece Selekcija Merlot-Cabernet Orgânico 2006 – Álcool: 14% – Região: Goriška Brda/Eslovênia – Preço: R$ 340,90 – Variedades: Merlot (85%) e Cabernet Sauvignon (15%) – importador: Decanter – Amadurecimento: 45 meses em barricas de carvalho francês de 225 litros. Análise organoléptica: vermelho-rubi concentrado com leve turbidez e halo granada em formação nas bordas. O nariz é tipicamente bordalês com notas terciárias (couro, tabaco, verniz e resina), leves pinceladas minerais e balsâmicas. Impressiona no paladar por sua sólida estrutura gustativa, com taninos finíssimos, álcool generoso sem desequilibrar o conjunto que tem na acidez pulsante um de seus pilares. É um vinho complexo, maduro, cheio de camadas, com longa vida na garrafa e um longo fim-de-boca. Outstanding!  Avaliação: 92/100 pts.

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