A degustação abaixo envolveu dois vinhos ícones da vitivinicultura Sul-americana: Felipe Rutini 2002, composto das variedades Cabernet Sauvignon (50%), Merlot (30%), Malbec (17%) e Syrah (3%), típico corte bordalês de nítido acento argentino. Do outro lado da cordilheira veio o Almaviva 2004, Cabernet Sauvignon (72%) e Carménère (28%). Pontuação do argentino Felipe Rutini: 91/100 pts. Cellar Tracker (média de 7 notas). Já o Almaviva recebeu pontuações mais expressivas: 93/100 pts. Cellar Tracker (média de 106 notas), RP 93/100, WS 93/100 pts. e de Stephen Tanzer 93/100 pts. Ambos custam caro e são dotados de capacidade de envelhecimento. Enfim, são praticamente considerados “cult wines” do Novo Mundo. Hoje, esses dois vinhos ultrapassam facilmente a casa de R$ 1.000,00 cada garrafa. O Almaviva integrava a adega deste redator e foi comprado na época de seu lançamento. O Felipe Rutini foi comprado recentemente no Mercado Livre por preço razoável. Os dois vinhos foram degustados por quem escreve e pelo experiente restaurateur e enófilo Mendez. A degustação não ocorreu às cegas. A seguir as nossas impressões:

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Felipe Rutini 2002 – Variedades Cabernet Sauvignon (50%), Merlot (30%), Malbec (17%) e Syrah (3%) – Álcool: 13,5% – Região: Mendoza – Preço atual: R$ 1.248,00 (safra 2009) – granada esmaecido com reflexo amarronzado, telha. Aromas intensos e complexos com as típicas notas terciárias de um vinho de 14 anos de idade: frutos secos, especiarias, tabaco, couro, alcatrão sobre um toque redutivo que desapareceu depois de alguns minutos. Paladar no mesmo diapasão. Taninos macios, nítido acento mineral, acidez média tudo entrelaçado a indicar um vinho de estrutura sólida, alicerçada no álcool intenso e nos taninos firmes. Mas nem tudo é elogio neste mítico tinto platino. Deu sinais de cansaço. Seu envelhecimento na garrafa não foi tranquilo. Este vinho é conhecido por manter a fruta por mais de uma década. Não foi o que aconteceu. Apenas para que o prezado leitor tenha ideia, a primeira garrafa estava com a rolha vazada. Essa deu sinais de fragilidade. Não vai mais evoluir, ao contrário, guardá-lo não trará nenhuma vantagem, eis que sua persistência normalmente longa foi apenas média, num elegante final mineral. As expectativas em torno deste tinto não se confirmaram. Mas ainda está potável e seu estilo é bordalês. Pode ser comparado a um St. Julien ou St. Estèphe. Uma garrafa dessa mesma safra – uma das melhores da década passada na Argentina – bem conservada poderá surpreender. Avaliação: 89/100 pts.

Almaviva 2004 – Variedades:  Cabernet Sauvignon (72%) e Carménère (28%) – Álcool: 14,5% –  vermelho-rubi intenso, profundo com halo granada em formação. Nos aromas verificamos uma trama franco-chilena com as notas de licor de cassis típicas da Cabernet Sauvignon aliadas  a um leve toque de fruta em compota que cedeu para notas mentoladas. Singelas notas de couro sobre um fundo balsâmico. Na boca verificamos a subscrição dos aromas. A acidez exibida estava mais para um elegante tinto do Velho Continente a um vinho da América do Sul. Mas a preservação das notas de frutas negras e até vermelhas no paladar entregaria às cegas a sua origem “novomundista” . Álcool integrado. Enfim, um tinto que na taça ostentava incrível potência e harmonia, com muita vida na garrafa pela frente, amparada por alicerces sólidos de taninos. Avaliação: 91/100 pts.+

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CONCLUSÃO –

Ganhou o Almaviva. Repito o que está assinalado acima. Se a garrafa do Rutini 2002 houvesse sido bem conservada o resultado poderia ter sido outro (sua rolha, p. ex., foi habilmente retirada pelo Mendez, mas estava se esfarelando e não dava sinais de que o líquido estivesse em contato). O tinto chileno tinha mais vigor, a fruta se impunha, um verdadeiro tour-de-force. A boca refletia o perfil olfativo, intensa, tipicamente chilena, amparada por alicerces sólidos de taninos não tão finos como os do Rutini. A bem da verdade 2004 não foi uma safra tão boa para o Chile como foi 2002 para a Argentina. Todavia, enquanto o Almaviva exibiu fôlego para muitos anos na garrafa o Rutini estava evoluído demais, mas deu para perceber que se trata de um vinho de grande estirpe, dotado de uma rara mineralidade entre vinhos da América do Sul.

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