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No dia 26 de novembro de 2016, a Confraria Esvaziando a Adega reuniu-se mais uma vez no restaurante Zeffiro (Frei Caneca 669, SP), para degustar vinhos tintos orgânicos do Chile. Estiveram presentes além deste redator, Lucas, José Luiz e Clóvis. Ausente justificadamente: Romeu

 

A vinícola Ekos de Chile está localizada em San Fernando, coração do Vale de Colchágua, e ocupa apenas dois hectares nos quais as variedades Cabernet Sauvignon, Carménère e Syrah são cultivadas de acordo com os preceitos da agricultura orgânica sustentável. A Ekos de Chile desenvolveu tecnologia própria denominada “tecnologia dos produtos biológicos de Terragénesis”, baseada na utilização de organismos vivos. Assim não são utilizados elementos danosos nem tóxicos, deixando que tudo se desenvolva naturalmente. A vinícola tem certificação dos Institutos Ceres e IMO o que lhe possibilita ingressar no crescente mercado brasileiro de vinhos orgânicos, já que cumpriu todas exigências previstas pela legislação brasileira. Além disso, é um empresa com “preocupação social”, eis que além da sociedade, preocupa-se com o cenário laboral (a saúde dos trabalhadores também é um dos escopos dessa vinícola), já que produz vinhos “limpos” que não afetam a saúde de quem lá trabalha nem seu entorno, eis que não utiliza cobre ou enxofre. Sua produção é diminuta: apenas 6.000 garrafas anuais, em média (depende da safra – por exemplo: em 2014 apenas 5.000 garrafas; em 2015 cerca de 6.000 e 2016 quase 10.000), são produzidas. Os vinhos não passam por madeira justamente para que seus defeitos não sejam “mascarados”. Leveduras nativas são utilizadas e os vinhos não passam por filtração para manter sua pureza. É uma vinícola que não se  preocupa com a grande produção para não perder qualidade, portanto, qualifica-se como “boutique”, privilegiando a qualidade sobre outros fatores. O custo médio de seus vinhos gira entre US$ 10 a US$ 20 e no Chile são encontrados somente em lojas especializadas. Já no Brasil está buscando importador. A pedido deste redator, Carlos Meza fez um breve relato sobre as últimas safras chilenas na região de cultivo das uvas, o Vale de Colchágua:

2012 – ano chuvoso por conta do El Niño. Temperatura baixas.

2013 – ano difícil, Ekos de Chile não produziu vinhos.

2014 – ano bom, choveu na medida certa.

2015 – ano seco. Vinhos balanceados (corpo/estrutura) com potencial de guarda.

2016 – ano chuvoso. A colheita foi adiantada. Aplicação de fungos para controlar a sanidade das uvas.

A seguir nossas impressões sobre três dos cinco vinhos já produzidos por Ekos de Chile, ressaltando que oportunamente divulgaremos avaliações dos vinhos Ekos de Chile Carménère 2012 e Ekos de Chile Carménère/CS/Syrah 2014:  

Ekos de Chile Carménère – Cabernet Sauvignon 2010 – Álcool: 13% – Região: D. O. Colchágua – vermelho-rubi com leve turbidez e halo granada. Aromas típicos de um vinho evoluído com notas ligeiramente oxidativas, frutas secas, tabaco, pimentão sobre um fundo terroso. Na boca, taninos macios, álcool integrado, corpo médio, alguma fruta num vinho seco, harmônico e saboroso. Sem passagem por madeira, ficou evidente se tratar do vinho mais antigo da degustação, cujo auge já passou, mas que deverá se manter como está por mais algum tempo.  Avaliação:89/100 pts.

 

Ekos de Chile Cabernet Sauvignon – Syrah 2012 – Álcool: 13,7% – Região: D. O. Colchágua –vermelho-rubi com leve turbidez e halo violáceo sem denunciar sua idade. Aromas complexos com frutas vermelhas e negras e as especiarias típicas da Syrah. Paladar equilibrado, taninos de boa textura, álcool na medida certa assim como a acidez. Aqui também não há passagem por madeira: “vino sin maquillaje en el que no se utilizo madera”. Vinho pronto, no auge da evolução, de sabor agradável e distinto. Avaliação: 90/100 pts.

Ekos de Chile  Carménère 2015 – Álcool: 13,5% – Região: D. O. Colchágua – intenso e profundo na cor denotando jovialidade. Nariz exuberante com a fruta despontando sem as indesejadas notas de pirazina: ameixa, café torrado, fumo de corda tudo entrelaçado harmonicamente. Na boca, a fruta também se destaca resultando num vinho de invejável equilíbrio gustativo e de grande frescor. Igualmente sem passagem por madeira, exprime com fidelidade seu terroir de origem, sem os habituais excessos a que já estamos acostumados. Um Carménère exemplar, delicioso, que revela o hábil manejo da variedade pelo produtor. Termina persistente convidando o degustador para o próximo gole! Avaliação: 91/100 pts.+

Conclusão –

Vinhos excelentes. Para o apreciador de vinho fica difícil identificar no paladar um vinho orgânico de um normal, sobretudo quando o convencional é muito bem feito. Não é o caso dos vinhos Ekos de Chile que a par de serem fáceis de beber, conseguem expressar toda pureza de sabor que se espera de um vinho orgânico. Carlos Meza foi categórico ao nos dizer que não está preocupado em aumentar sua produção para atender demanda exigida por eventual importador (aliás, Carlos está buscando algum importador “sério” que se interesse por seus vinhos). São vinhos que refletem o terroir, aliás, o Chile é consabidamente um dos melhores produtores de vinhos do chamado “Novo Mundo”. Ekos de Chile é uma pequena vinícola que não se rende às exigências do mercado. Seus vinhos não são super-extraídos, alcoólicos, carregados de madeira ou adulterados pelo uso dos famigerados “chips” ou “staves”. Aliás, Carlos abomina o uso da madeira “para não maquear ou ocultar defeitos”. Acreditamos que o uso judicioso das barricas de carvalho contribua para melhorar a qualidade dos vinhos, mas a bem da verdade a indústria mundial (notadamente no “Novo Mundo”) exagera na sua utilização. Outros preceitos da agricultura orgânica também são utilizados tais como o uso de leveduras nativas, não utilização de cobre, enxofre, etc. Por fim, cumpre destacar que são vinhos que já ostentam o selo “orgânico” aprovado pelo Ministério da Agricultura do Brasil, o que torna a linha “Ekos de Chile” especialmente competitiva e confiável, já que são “vinhos limpos que expressam com fidelidade e autenticidade o terroir de origem”.

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