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No último dia 31 de maio de 2017, este redator recebeu convite para a abertura da colheita de outono 2017 da vinícola Paulista “Góes”. Fomos recebidos pelo diretor comercial Luciano Lopreto e pelo enólogo Fábio Góes que, entre outras coisas, salientaram que os dias atuais não têm sido fáceis, não só pela crise política que atinge o país com reflexos em todos setores da sociedade, inclusive comércio de vinhos, mas também pelos fatores naturais que afetam a agricultura na região de São Roque – interior paulista. Por exemplo. Há cerca de um ano um tornado afetou a região destruindo imóveis e vinhedos. A safra 2016 também se revelou problemática com muita chuva e a 2017 também padece do mesmo problema. Apesar de todas dificuldades, a vinícola Góes mantém cerca de 200 colaboradores e vendeu cerca de sete milhões de garrafas em 2016, principalmente no Estado de São Paulo.

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A maior parte dessas garrafas são de vinhos suaves produzidos com uvas não viníferas que correspondem a mais de 50% do mercado nacional de vinhos. A Góes aposta no Enoturismo e no fortalecimento da marca, por isso firmou parceria com a vinícola Casa Venturini de Flores da Cunha – RS para produção de vinhos finos, com sucesso nos exemplares das variedades Chardonnay, Cabernet Sauvignon e Tannat, num país que tem Faculdades de Enologia apenas nos Estados do RS, SC, SP e Petrolina – PE.

A solução encontrada pela Vinícola Góes para driblar as fortes chuvas que ocorrem no verão paulista inviabilizando a colheita foi a adoção da técnica da dupla poda, desenvolvida pela EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais e adotada com sucesso pela vinícola Guaspari, localizada em Espírito Santo do Pinhal, serra da Mantiqueira, divisa com Estado de Minas Gerais e também por vinícolas do Estado de Goiás. Essa técnica consiste no corte dos ramos da videira nos meses de janeiro e agosto. A videira se encontra em repouso vegetativo – dormência – de maio a agosto, assim, as uvas não são colhidas no verão, como ocorre normalmente no Sul do país, mas sim nos meses de julho e agosto. No verão a pluviometria é bem superior e no inverno a amplitude térmica é bem maior e, conforme salientou o professor de enologia do Instituto Federal de Educação em São Roque, Willian Triches “Isso possibilita maturação ideal da uva, que crescerá numa época de dias ensolarados, noites mais frias e pouca chuva. Tudo que videira necessita eis que há uma produção maior de antocianinas e de cor”.

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A Vinícola Góes investe firmemente no cultivo de uvas viníferas e, na sua área experimental, já testou dezenas de variedades tintas francesas como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Malbec e Syrah. Brancas francesas Sauvignon Blanc e Viognier; brancas portuguesas como Alvarinho, Arinto e Verdelho. A ideia aqui é testar quais variedades apresentam melhor adaptação ao terroir local e, pelo visto, isto está dando certo, uma vez que além das variedades brancas portuguesas, a francesa Cabernet Franc, largamente cultivada no Sul do país há décadas também revelou ambientação à região de São Roque, tanto é que já ocupa quase sete hectares de vinhedos. Nesse sentido, a principal aposta da Góes é o tinto Philosophia Cabernet Franc, comercializado por R$ 68, lançado na safra 2014 e que agora chega em sua segunda safra, a 2016.

A Góes vem envidando esforços sérios para encontrar o melhor método de colheita. Se é o tradicional, nos meses de verão, ou a poda invertida, nos meses de inverno, entre maio e agosto. O problema é que num ano de inverno úmido como o atual, as experiências acabam sendo prejudicadas. A poda de inverno é recente, e pelo que provamos, se revelou promissora ao menos quando ao Philosofia Cabernet Franc (vide avaliação adiante), eis que a maior amplitude térmica entre o dia e a noite confere mais cor, aromas e concentração ao vinho.

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A colheita de uvas no inverno pelo ciclo inverso vem exibindo resultados positivos em São Paulo, Minas e Goiás, mas como supramencionado, a passagem de um tornado um ano atrás e o atípico outono-inverno chuvoso de 2017 reforçam as dificuldades de se produzir vinhos finos na região. O tornado de 2016 destruiu todo restaurante e outras instalações da vinícola e as chuvas recentes tiveram o condão de atrasar a colheita de algumas variedades experimentais.

Syrah –

Recentemente, a Góes comprou uvas de um parceiro de Boa Esperança – Minas Gerais e vinificou uma pequena quantidade de Syrah. O vinho elaborado é o promissor Míneres, que na taça justificou sua apresentação caprichada (vide avaliação abaixo). Enfim, a Vinícola Góes parece estar no caminho certo, tanto é que nos fins de semana e feriados, seu restaurante chega a atender 500 pessoas dentre os 3.000 visitantes da vinícola. Os visitantes são habitantes das cidades vizinhas e até da Capital. Aliás, a região é servida de bons restaurantes e também de outras vinícolas menores, o que torna a cidade de São Roque um pequeno núcleo de enoturismo a apenas 70 km de São Paulo. Para encerrar, nossas impressões de dois vinhos degustados, o Espumante Casa Venturini Brut, Míneres Syrah 2015 e o Philosophia Cabernet Franc 2016:

O professor de enologia do Instituto Federal de Educação em São Roque. Willian Triches
O professor de enologia do Instituto Federal de Educação em São Roque. Willian Triches

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Espumante Casa Venturini Brut Champenoise – Álcool: 12,6% – Variedades: Chardonnay (60%) e Pinot Noir (40%) – A Chardonnay predomina com 60% e o que sobra neste espumante premiado com a medalha Gran Ouro no Concurso de Bruxelas 2016 é a Pinot Noir. Na flûte cor amarelo ouro brilhante. As leveduras dominam os aromas (típicos). A boca e rica, cítrica, fresca e balanceada. Fácil de beber, fácil de gostar, termina razoavelmente persistente e sem amargor. Avaliação: 88/100 pts.

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Góes Tempos Míneres Syrah 2016 – Álcool: 12,6% – Preço: R$ 55 – vermelho-rubi profundo com reflexo púrpura. Aromas pouco intensos com notas florais (violetas), alguma especiaria, bala toffee sobre um fundo terroso. Na boca, a sua entrada revelou taninos de boa qualidade, acidez razoável e álcool integrado. Poderia ter mais corpo/potência, mas podemos dizer que no quesito tipicidade está no caminho certo. O fim-de-boca é curto, sem amargor. Avaliação: 86-87/100 pts. 

Poda invertida
Poda invertida

 

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Tempos Philosophia Cabernet Franc Reserva 2016 – Álcool: 12,8% – Região: São Roque/SP – Preço: R$ 155,00 (safra 2019) – produzido com uvas cultivadas na antiga e não menos famosa Quinta Jubair – São Roque, Estado de São Paulo, é um tinto sério, que já foi selecionado entre os dez finalistas na 22ª Avaliação Nacional de Vinhos (Bento Gonçalves/RS – safra 2014). Apenas 4.000 garrafas produzidas desta nova safra, ressaltando que as uvas foram cultivadas pelo método da poda invertida. Análise organoléptica: cor púrpura brilhante com reflexo azulado. Aromas típicos da variedade com notas de frutas negras, pinceladas florais sobre um fundo terroso. Na boca a sua entrada é impactante. Taninos macios, álcool integrado, fruta e madeira integrados – quatro meses de passagem por carvalho francês novo (50% do total) – o que já denota evolução relativamente à safra 2014 eis que a variedade aceita bem o estágio na madeira. A acidez já não é cortante e houve uma sensível diminuição do verdor no retrogosto. Houve ganho na harmonia do conjunto. Inegavelmente estamos diante um vinho sério que está cumprindo a missão de colocar o Estado de São Paulo entre os principais produtores de vinhos finos do Brasil. Parabéns à vinícola Góes pela evolução, pelo que, aguardamos a próxima safra. Avaliação: 87/100 pts.

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