Confraria Vinho & Boa Cia. reuniu-se na noite de 27.03.2018 para degustar às cegas tintos dos EUA: “Califórnia”. Além deste redator, estiveram presentes os seguintes confrades: Ricardo, Mônica, Paulo Guerra, Bibe, Paulo Morais, Márcia, Flávio, Cecília, Chico e Laura. Ausente justificadamente: Nubia. A coordenação do mês coube ao Flávio que elegeu o tema e o restauranteA seguir a lista dos vinhos na ordem decrescente de preferências do grupo:

6º lugar – Amici Cabernet Sauvignon Napa Valley 2012 – Álcool: 14,7% – US$ 44,99 – Sem importador – Chico – violáceo intenso com halo granada. Nariz herbáceo com uma ponta de framboesa. Na boca sua entrada revelou um Cabernet tânico, álcool integrado, madeira bem presente, acidez correta e fim de boca de média persistência. Na degustação não justificou os 90/100 pts. da Wine Spectator por carecer de complexidade gustativa. Avaliação: 87/100 pts.

5º lugar – Robert Mondavi Cabernet Sauvignon Napa Valley 2010 – Álcool: 14,5% – Jeriel – Preço: R$ 206,60 (Interfood – não menciona safra – preço nos EUA: entre US$ 24,99 – 2012 e 2014 a US$ 21,99 – 2011) – importador: Interfood – O Prof. Ennio Federico salienta que: “Na Califórnia, as uvas brancas mais cultivadas são: Chardonnay (46%), Colombard (26%), Chenin Blanc (13%), Sauvignon Blanc (7%), Muscat (4%), Riesling (2%) e Malvasia (2%). Tintas: Cabernet Sauvignon (24%), Zinfandel (20%), Merlot (14%), Grenache (6%), Barbera (6%), Pinot Noir (5%), Carignan (5%) e outras castas (20%). Ennio ainda esclarece que pela legislação dos EUA um vinho só pode ser declarado varietal se contiver 75% da uva declarada no rótulo e que Robert Mondavi foi o pioneiro na utilização de tanques de aço inoxidável para fermentação. Análise organoléptica: violáceo intenso com discreto halo granada. Aromas terciários como notas de fumo, tabaco, chocolate sobre especiarias. No paladar os taninos macios se destacam. O sabor é concentrado, com uma ponta de madeira prevalecendo. Álcool e acidez corretos. Tem alguma elegância e final de média/longa persistência. Um bom Cabernet, mas para sua categoria sinceramente esperava mais! Avaliação: 89/100 pts.

4º lugar – Francis Coppola Black Label Claret (1910 Type) Cabernet Sauvignon 2015 – importador: Ravin – Variedades: Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Malbec e Cabernet Franc – Álcool: 13,5% – Paulo Guerra – Preço médio nos EUA: US$ 18,99 (no Brasil a safra 2012 foi comercializada por R$ 238!!) – vermelho-rubi intenso, profundo com discreto halo granada em formação. Aromas complexos com frutas negras (figo e ameixas principalmente), licor de cassis sobre caixa de charutos. Paladar intenso, taninos presentes de ótima qualidade, álcool generoso sem incomodar e bom entrosamento entre fruta e madeira. Potente, é um excelente Cabernet Sauvignon que promete evoluir bem na garrafa nos próximos anos. Avaliação: 90-91/100 pts.

3º lugar – Chateau Ste. Michelle Merlot Columbia Valley 2009 – Álcool: 13,5% – importador: Wine Brands – Preço: R$ 177 (safra 2014) – preço médio nos EUA: US$ 15 – Paulo Morais – o único tinto de região diversa do tema exibiu cor intensa com discreto halo de evolução. Com nove anos exibiu aromas frutados (ameixa), especiarias, licor de cacau com ampla sustentação. No paladar apesar da maciez dos taninos mostrou-se potente, profundo e concentrado. Bem equilibrado, este tinto é um verdadeiro elogio à Merlot por conta da sua excelente tipicidade. O fim de boca é longo, persistente e deixa uma agradável nota de chocolate, mas seu preço no Brasil poderia ser mais acessível! Avaliação: 91/100 pts.

2º lugar – Joseph Phelps Cabernet Sauvignon Napa Valley 2014 – Variedades: Cabernet Sauvignon (84%), Merlot (8%) e o restante de Petit Verdot, Malbec e Cabernet Franc – Álcool: 14,5% – sem importador – Preço médio nos EUA: US$ 70 – um vinho de altas pontuações, senão vejamos: WW93 – JS93 – WE93 – RP92 – Vermelho-rubi concentrado, profundo com reflexos violáceos. No olfato intensos aromas varietais com sugestões mentoladas, especiarias, licor de cassis, baunilha e caramelo. Encorpado, seus taninos são aveludados e resultam num tinto solidamente estruturado, sem excessos e equilibrado na acidez, álcool, taninos e madeira, a formar um conjunto redondo, harmonioso, elegante, sem arestas. A ótima concentração de sabor e o longo final completam o conjunto deste corte bordalês por excelência. Avaliação: 92/100 pts.

1º lugar – Pahlmeyer Merlot Napa Valley 2003 – Álcool: 15,1% – Variedades:  Merlot (97%) e o restante de Cabernet Sauvignon – sem importador – Preço médio nos EUA: US$ 90 – Flávio – um gigantesco Merlot californiano que há muito tempo recebe notas altíssimas da crítica. Definitivamente, um produtor que trata a variedade do jeito que ela merece: colocando-a no olimpo! Com quinze anos, a não ser pela cor esmaecida, não deu sinais de cansaço, ao contrário, tem condições de continuar a evoluir na garrafa. A verdade é que Pahlmeyer elabora de forma impressionante e em escala, tintos frutados de estilo Bordeaux, no Napa Valley e Pinots e Chardonnays da Costa de Sonoma. Jayson Pahlmeyer (o queridinho dos críticos) começou no início de 1.980 com uma malandragem agrícola. Ele e seu parceiro, assim diz a lenda, contrabandearam mudas originais de Bordeaux, via Canadá, em malas para evitar o confiscamento pelas autoridades. Desde 2012, Pahlmeyer se baseou em dois novos enólogos e depois de uma sucessão de estrelas – de Randy Dunn, Bob Levy, Helen Turley e Erin Grey – para colocar seus vinhos no mapa. Com preços à partir de cerca de US$ 75 na vinícola e subindo para três dígitos nos tintos de assinatura Pahlmeyer, os fãs aguardam novos vinhos ávidos de atenção. Fonte: Food & Wine Wine Guide America’s 500 Best Wine Producers 2015. Para Robert Parker, que lhe deu 92/100 pts., este é um dos três primeiros ou quatro Merlots da Califórnia. Análise organoléptica: vermelho-rubi límpido, brilhante com nítido halo granada. Um amplo nariz com notas mentoladas, chocolate, licor de cassis, café torrado sobre um fundo a recordar ameixa em calda. No paladar é um verdadeiro Merlozão: potente, encorpado, opulento, com diversas camadas de sabores. Álcool + É um tinto singularmente longevo, que aos 15 anos não deu sinais de cansaço e que tem condições de chegar aos vinte, quiçá aos trinta anos de envelhecimento na garrafa!  Avaliação: 95/100 pts.+

Sobre a Califórnia –

A simples menção do nome Napa Valley já instiga pensamentos grandiosos como a sua localização, na populosa e rica California! Não por acaso, muitos sonhos se tornaram realidade por lá, rememorando as palavras do historiador Fredrick Jackson Turner: “Aqui (na California) a sociedade americana pode sonhar bem como trabalhar”.

É uma trademark de peso, traduz-se por seu apelo turístico e pelos seus vinhos, Chardonnays (às vezes controversos) e tintos de Cabernet Sauvignon renomados.

O Vale do rio Napa efetivamente evoca Cabernet Sauvignon, mas na verdade o que lhe confere “substância” são pequenas sub-regiões cujas aptidões vitivinícolas recaem sobre vinhos de personalidades particulares. Destaques: Stags Leap, Oakville e Rutherford, para citar algumas dentre as mais distintas e de fato, vocacionadas para excelentes Cabernets (cada qual com sua própria AVA – American Viticultural Area, correspondente ao sistema de denominação europeu, embora com critérios diferentes de reconhecimento).

Paisagem Agrícola

Inserido entre duas cadeias de montanhas (embora haja poucos terroirs “de altitude”): Mayacamas de um lado (oeste em direção ao Pacífico), Vaca Range do lado oposto, o “chão do vale” é constituído de forma geral de muita argila, com algo de pedras e areia.

Mas, na California o clima é quase tudo!

Clima moderadamente quente, com boa variação entre dia e noite e uma secura que costuma exigir irrigação (as áreas onde ela não é necessária dão vinhos absolutamente distintos). Sobretudo em Stags Leap, a influência de brisas frescas de San Pablo Bay se fazem notar gustativamente, tornando os vinhos mais macios, menos “musculosos” do que os de Oakville e Rutherford.

As vinhas são um pouco mais dispersas do que os vinhedos europeus, pois aqui o paradigma de Bordeaux de grande densidade de plantas por hectare não mostrou bons resultados! Curiosamente os vinhedos mais densos deram vinhos com traços vegetais acentuados!

O que esconde um Cabernet do Napa Valley?

Como bons Cabernets, o visual é de boa concentração (lembrem-se da secura da região).

Os aromas, de acordo com as AVAs, variam de chocolate, framboesas e groselhas em Stags Leap à notas que são marcas-registradas imperatrivas como o toque mentolado de Oakville/Rutherford (que também mostram azeitonas e frutas negras) e a mineralidade de Mount Veeder.

Na boca não faltam revelações: a maciez indefectível de Stags Leap (o real detentor da máxima “punhos de aço em luvas de veludo”) e o notável equilíbrio gustativo de Oakville e Rutherford, mas que todavia são mais viris (tânicos e com frutado que lembra uma densa geléia de berries).

Harmonize-os do mesmo modo que o faria com um bom Bordeaux, embora muitas das características de ambos sejam similares mas não necessariamente superponíveis! Ou seja, vá de carnes vermelhas (reserve as mais mal-passadas, altas e suculentas para Oakville) e caças grandes (de pêlo) para todos os demais.

Artigo de autoria de André Logaldi

Sauternes Chateau Guiraud 2010 – aqui o rótulo fala por si. Impressiona por tudo: cor, aromas, untuosidade e, sobretudo, refinamento. Outstanding!

 

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2 thoughts on “Vinhos Californianos na Confraria Vinho & Boa Cia.”

    1. Márcio,

      Discordo da sua observação. Em nenhum momento está dito que é um tinto da Califórnia apesar de o título da degustação ser de vinhos dessa região. Está mencionado que sua região é Columbia Valley. Aproveitei a oportunidade para acrescentar uma observação sobre o preço exagerado cobrado por seu importador no Brasil, uma vez que um amigo vai me trazer uma garrafa dos EUA por US$ 14,99 (aproximadamente R$ 50).

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