Wines of Uruguay promoveu, no dia 14 de agosto de 2018, em São Paulo, evento denominado Masterclass – Tannat Tasting Tour São Paulo 2018 com a presença de quatorze produtores de vinhos do país Cisplatino. Cerca de vinte e cinco produtores participaram do evento. A degustação foi coordenada por dois sommeliers, um brasileiro e outro do Uruguai, respectivamente Diego Arrebola e Federico de Moura. Além de enólogos, diretores de vinícolas, gerentes de exportações, formadores de opinião, jornalistas, blogueiros, etc., esteve presente Martín López, representante do Instituto Nacional de Vitivinicultura do Uruguai – INAVI.

Algumas considerações sobre o Uruguai –

O país possui, no total, 7.000 hectares de vinhedos, o consumo de vinho per capita é da ordem de 24,5 litros anuais e são produzidas anualmente onze milhões de caixas. A população atual é de 3,4 milhões de habitantes, o clima, nas principais regiões de produção tem forte influência marítima já que o país tem 650 km de litoral e os seus limites geográficos são o Oceano Atlântico, Rio da Prata e o Rio Uruguai. Ao norte o Brasil e Argentina no lado oeste. O cultivo de Tannat desde 1.870 dá boa resposta nos 176.215 km2 de terras do país, que tem 190 vinícolas. A harmonização clássica do Uruguai é Tannat & Cordeiro, mas o uruguaios não teimam em romper paradigmas harmonizando seus poderosos Tannats com pizza, massa e até sushi! A seguir nossas impressões sobre os vinhos provados na MASTERCLASS:

Dardanelli Merlot – Blogdojeriel.jpeg

Dardanelli Family Reserve Merlot 2016 – Álcool: 12% – vinícola familiar produtora tradicional de vinhos de mesa que passou a produzir vinhos finos no Distrito de Las Violetas, Departamento de Canelones, perto de Montevidéu – Análise organoléptica:  cor  intensa, nariz a exibir frutas vermelhas, médio corpo, taninos macios, boa expressão de fruta (sem barrica para expressar o caráter varietal), álcool integrado, acidez média e final de média/curta persistência. Avaliação: 89/100 pts.

Novo Braccobosca Merlot – Blogdojeriel.jpeg

BraccoBosca Gran Ombú Merlot 2017 – Álcool: 13% – Importador: Domno/RS – o talento criador de Fabiana Bracco parece infinito. No ano passado lançou com sucesso um imponente Cabernet Franc que foi considerado o melhor do Uruguai pelo Guia Descorchados. Agora em 2018, na senda daquele lançamento, apresentou este Merlot que também foi recebido com entusiasmo pela crítica. Análise organoléptica: vermelho-rubi com reflexo granada. Aromas complexos com ameixa, eucalipto sobre mentol. No paladar, é muito macio em razão das textura de seus taninos, corpo médio/bom, acidez na medida e sabor concentrado, em camadas revelando boa tipicidade. É um Merlot balanceado, fácil de beber e que termina frutado, com boa persistência, sem amargor. Avaliação: 90/100 pts.+

Novo Tannat Maceração Carbônica 2018 do produtor Pizzorno – Blogdojeriel.jpeg

Pizzorno Tannat Maceración Carbónica 2018 – Álcool: 13,5% – Importador: Grand Cru – uma variação do processo de maceração é a maceração carbônica. As uvas são prensadas e mantidas em um recipiente lacrado. O próprio peso dos cachos faz com que algumas uvas sejam espremidas e comecem a fermentar, liberando dióxido de carbono (gás) e aumentando a pressão no recipiente. Essa pressão permite que a fermentação aconteça dentro das uvas, produzindo vinhos com pouca cor, aromáticos, macios e que precisam ser bebidos jovens. O Beaujolais Nouveau é um exemplo de vinho feito por maceração carbônica, com máxima concentração de aromas e mínima de cor e corpo (Fonte: Adega Veja do Vinho – vol. 8). Análise organoléptica: coloração vermelho-rubi esmaecido, bem típica da variedade. Aberto no nariz com a fruta vermelha predominando – cereja e framboesa principalmente sobre um fundo especiado. De fato, consoante informação deste caprichoso produtor, a fruta direciona este tinto, fácil de beber, fácil de gostar, eis que seus taninos são finos, ligeiros e sem a austeridade típica da Tannat; acidez e álcool integrados num final de média persistência. Uma nova interpretação da Tannat a resultar num tinto fresco, fácil de beber e, sobretudo,  prazeroso. Avaliação: 89-90/100 pts.

Ysern Tannat – Blogdojeriel.jpeg

Ysern Gran Tradición Tannat Blend of Regions 2016 – Álcool: 12,5% – Regiões: Cerro Chapéu e Montevidéu – Regiões: Cerro Chapéu (Div. Brasil) e Las Violetas (Montevidéu) – Ysern é uma linha de vinhos comercializada com grande êxito no Brasil, porque são vinhos detentores de relação preço-qualidade. Análise organoléptica: vermelho-rubi com reflexo violáceo com halo granada em formação. Aromas florais e vegetais com toque de evolução. Notas de humus. Boca potente, macia, concentrada, taninos “granulados” sem arestas. Vinho firme, alcoólico, salivante, de boa acidez que clama por um bom churrasco como acompanhamento. Avaliação: 89/100 pts.

Garzón Cabernet Franc – Blogdojeriel.jpeg

Garzón Petit Clos Cabernet Franc 2016 – Álcool: 14,5% – Importador: World Wine – Vermelho-rubi intenso, profundo, brilhante. Muito intenso nos aromas exibindo notas de frutas negras (ameixa principalmente), especiarias, um toque herbáceo sobre um fundo a recordar geleia de frutas vermelhas. Amadurecido doze meses em barricas de carvalho francês de primeiro uso de tamanhos variados, no paladar mostrou corpo bom, taninos presentes de ótima qualidade, álcool integrado, acidez correta assegurando o equilíbrio gustativo do conjunto, que se impõe por sua excelente tipicidade com a fruta característica da variedade. Fim de prova persistente neste excelente “Cabernet Franc in Purezza”. Avaliaçao: 90/100 pts.+ 

Alto de La Ballena Tannat-Viognier – Blogdojeriel.jpeg

Alto de La Ballena Tannat-Viognier Reserva 2013 – Álcool: 14% – Importador: Winebrands – é consabido que a Tannat não é uma uva aromática. Normalmente seus aromas são vegetais, verdosos, herbáceos. Quando tem fruta tem reminiscências de framboesa. Aqui a ideia de adicionar uma pitada da aromática Viognier parece seguir uma secular receita tradicional no Vale do Rhône. Análise organoléptica: quase retinto na cor. Aromas complexos com notas florais (violetas) sobre um fundo que recorda framboesa. Na boca subimos mais um degrau. Tânico (ótima textura), macio, álcool generoso, boa expressão de fruta (passa nove meses em carvalho americano) num final empolgante que promete ganhar com o tempo na garrafa, até porque 2013 foi uma boa safra a região. Degustado no ano passado, apresentou excelente evolução na garrafa e pelo visto continuará a evoluir! Avaliação: 92/100 pts.+

Juan Carrau Gran Reserva Tannat/Cabernet – Blogdojeriel.jpeg

Juan Carrau Tannat-Cabernet Gran Reserva 2016 – Álcool: 13,5% – Variedade: Tannat (50%), Cabernet Sauvignon (30%) e Cabernet Franc (20%) – Região: Cerro Chapéu – vinho amadurecido vinte quatro meses em barrica de carvalho em seguida afinado doze meses em garrafa. Análise organoléptica: vermelho-rubi intenso quase sem evolução. Nariz pouco intenso mas com toque herbáceo fino, humus sobre um fundo terroso. Melhor na boca: amplo, complexo, alcoólico, salivante, com taninos de excelente qualidade. Vigoroso, maduro, harmônico e de final seco, sem amargor ou adstringência, com leve acento mineral e muita vida por vir na garrafa. Vinho de perfil moderno, pronto para beber, no qual as Cabernets desempenham o papel de “amansar” a Tannat. Avaliação: 90/100 pts.+

Tannat Gran Reserva Marichal – Blogdojeriel.jpeg

Marichal Grand Reserve Tannat 2004 – álcool: 13,5% – região: Canelones – importador: Ravin – aqui um dos grandes destaques da degustação, a demonstrar o potencial de evolução da Tannat. Um tinto elaborado à partir de uvas de vinhedos de baixa produção retiradas das melhores parcelas, amadurecido durante dezoito meses em barrica de carvalho francês novo, sem clarificação, estabilização ou filtragem, de cor granada brilhante com ligeira turbidez, com boa expressão aromática no nariz (frutas secas, chocolate e mentol), taninos muito macios, longo, profundo, com a acidez fazendo a sua parte, este Tannat ainda se apresenta inteiro, redondo, mas não deve evoluir mais. Elaborado por um produtor reconhecidamente idôneo, exemplo da longevidade da Tannat, de fato uma ideia muito feliz tê-lo incluído na degustação! Avaliação: 93/100 pts.

De Lucca Rio Colorado – Blogdojeriel.jpeg

De Lucca Rio Colorado 2011 – Variedades: Cabernet Sauvignon (40%), Tannat (40%) e Merlot (20%) – Álcool: 13,3% – importador: Premium – O Rio Colorado é um dos vinhos mais conhecidos do Uruguai, produzido por um dos enólogos mais respeitados: Reinaldo de Lucca. Este rio corta a região onde estão os vinhedos. Análise organoléptica: na taça exibiu cor vermelho-rubi violáceo brilhante com halo de evolução. Aromas complexos prevalecendo toques florais, ervas aromáticas, fruta em compota sobre um fundo lácteo. Na boca é seco, taninos de ótima qualidade, bom balanço entre álcool, acidez e fruta eis que nem se percebe sua passagem de 18 meses em barrica de tão equilibrado que é. Chega a lembrar um bombom de chocolate…..longo, fresco, termina persistente e limpo, convidando para mais uma taça! Avaliação: 91/100 pts.+

Tannat Cuatro Gatos – Blogdojeriel.jpeg

Ariano Cuatro Gatos Special Reserve 2013 – Importador: Galeria dos Vinhos – com rótulo estampando pintura do saudoso pintor Carlos Paés Vilaró, este poderoso Tannat com uma pitadinha de Cabernet Sauvignon, elaborado com uvas de um vinhedo de baixíssima produção (dois quilos por hectare), sem micro-oxigenação, amadurecido em barricas novas francesas “Odyssée” e americanas de tostado médio durante vinte e quatro meses, na taça exibiu cor intensa, profunda com halo púrpura sem denunciar cinco anos, ao contrário, a cor é de um vinho bem mais jovem. No nariz é muito perfumado e complexo, com aromas de frutas vermelhas e negras sobre um fundo tostado emoldurado por madeira nobre (cedro). Depois de alguns minutos na taça o conjunto foi dominado por uma nota terrosa. Na boca é seco mostrando taninos de grande envergadura que não agridem o palato em harmonia com o álcool, acidez e fruta que não está subjugada pela madeira. Sem dúvida, um vinho cuja beleza do rótulo está confirmada no conteúdo da garrafa – um dos melhores Tannat “in purezza”, de estilo clássico da degustação. O final é persistente, a indicar longa vida na garrafa. Pede comida!  Avaliação: 90/100 pts.++

Narbona Luz de Luna Tannat 2014 – Blogdojeriel.jpeg

Narbona “Luz de Luna” Tannat 2014 – Álcool: 14,5% elaborado com uvas oriundas de cinco parcelas de Tannat, três mais baixas e duas mais altas, na taça exibiu cor profunda, boa complexidade aromática no nariz com frutas negras, chocolate e um toque vegetal. Na boca é um vinho quente, alcoólico, de taninos firmes, os quais encontram contraponto na acidez e no álcool. Madeirado (dezenove meses em barricas de carvalho francês), a fruta aqui custa a aparecer mas está presente neste vinho clássico, cheio de camadas, potente mas sem perder a elegância. Vai continuar sua longa evolução na garrafa. Avaliação: 89-90/100 pts.++

Montes Toscanini Gran Tannat – Blogdojeriel.jpeg

Montes Toscani Gran Tannat Premium 2015 – Álcool: 14% – importador: Casa Flora – vermelho-rubi intenso. Aromas complexos com framboesa, cocada, rapadura sobre um fundo herbáceo. No paladar subimos um degrau. Tânico (excelente qualidade), alcoólico, concentrado, surpreendeu por sua fluidez e expressão de fruta. Um Tannat de perfil moderno, amadurecido dezoito meses em barricas de carvalho americano, a revelar alguma doçura, que termina persistente praticamente sem a austeridade característica  da casta. Avaliação: 91/100 pts.+

Massimo Deicas Tannat – Blogdojeriel.jpeg

Massimo Deicas Tannat Cru 2013 – Álcool: 13% – importador: Interfood – vinho amadurecido pelo período de 18 a 24 meses em barrica de carvalho francês de diferentes tonelarias e fermentado em fûdres de 10 anos, elaborado com uvas de vinhedos de baixa produção – apenas 2.500 k/ha, o que resulta num vinho cujo preço da garrafa na vinícola fique em torno dos US$ 100 – Análise organoléptica: mais um Tannat de perfil clássico, exibindo a coloração intensa que caracteriza essa variedade com matizes violáceos sem denunciar cinco anos. Aroma abertos e intensos  caminhando para o perfil unidimensional da Tannat, com framboesa sobre um toque alicorado, sobre um fundo que alterna tons terrosos e reminiscências de geleia de framboesa. Na boca é potente, grandioso, dotado de taninos intensos ao mesmo tempo amáveis, volumoso e de grande persistência. Chega a lembrar um bombom Cherry Brandy….mantém uma acidez viva que lhe assegura um lento e nobre envelhecimento. Persistente, termina deixando uma nota herbácea no retrogosto. Um vinho de perfil “aristocrático”. Avaliação: 91/100 pts.++

Pisano Arretxea Tannat Gran Reserva – Blogdojeriel.jpeg

Pisano Arretxea Gran Reserva 2011 – Álcool: 13,5% – Importador: Mistral – blend elaborado com Tannat, Cabernet Sauvignon e Merlot em proporções iguais, este delicioso vinho de perfil gastronômico exibiu a estrutura típica dos bons tannats uruguaios sem invasão da madeira que, como nos vinhos anteriores, atua apenas como coadjuvante e nunca como protagonista. Aromas que recordam licor de cacau, chocolate sobre um toque herbáceo. Um vinho suculento, profundo, cujo triângulo álcool, acidez e taninos está integrado. De acento mineral, seu sabor evoca cereja preta. Enfim, um tinto elegante e saboroso que retrata com fidelidade a singularidade dos vinhos Pisano. Avaliação: 92/100 pts.+

CONCLUSÃO –

O Tannat Tasting Tour 2018 fez sucesso em São Paulo com a participação de quatorze vinícolas na Masterclass. A seguir os vinhos que se destacaram: 1° lugar – o vetusto e elegante Marichal Grand Reserve Tannat 2004 – 2° lugar – o equilibradíssimo Alto de La Ballena Tannat-Viognier 2013 – 3° lugar – o complexo Pisano Arretxea Gran Reserva 2011 – 4° lugar – o multifacetado De Lucca Rio Colorado 2011 – 5°lugar – o aristocrático Massimo Deicas Tannat Cru 2013 e Montes Toscani Gran Tannat Premium 2015 –Dois novos vinhos de produtores conhecidos se destacaram: O Ombú Merlot 2017 e o Pizzorno Tannat Maceración Carbónica 2018 receberam vários elogios dos presentes. O Merlot Dardanelli Family Reserve 2016 também exibiu boa tipicidade desta promissora vinícola que procura importador para seus vinhos no Brasil. Enfim, a Tannat evolui a passos largos rumo ao pódio. Antes seus vinhos eram duros, tânicos, de baixa acidez e dominados por notas herbáceas; hoje são intensos, aromáticos, frescos, potentes, conseguem conciliar de forma única potência, elegância e rusticidade. E o principal: a Tannat é mais uma variedade francesa que cresce nas parcerias. Sem falar que são vinhos de altos índices de substâncias antioxidantes que contribuem beneficamente para a nossa saúde se bebidos com moderação. Mas também é importante destacar que o Uruguai vem conseguindo mostrar, com sucesso, que o país não tem somente a Tannat. Na degustação ficou evidenciado que há bons Merlot e Cabernet Franc que merecem ser provados. Variedades como Sauvignon Blanc, Chardonnay e Albariño na ala das brancas e Pinot Noir, Marselan, Petit Verdot nas tintas são cultivadas com sucesso. Outro dado relevante é o bom momento pelo qual passa o vinho uruguaio tanto em qualidade como em variedade com a degustação exitosa de mais de 100 etiquetas das bodegas participantes. Segundo destaca o Instituto Nacional de Vitivinicultura do Vinho do Uruguai – INAVI, em 2017 as exportações para o Brasil marcaram um recorde histórico, chegando a quase 3 milhões de litros (um crescimento de mais de 30% em relação a 2016). Isto justifica o crescente interesse nesta atividade e, com efeito, ano a ano se somam novas bodegas à delegação uruguaia que visita o Brasil. À corroborar essa assertiva, informação veiculada no portal http://www.bodegasdeluruguay.com.uy, no sentido de que a quantidade e qualidade dos participantes nas diversas cidades brasileiras (SP, RJ e Campinas) é um indicador fiel de que as perspectivas para os vinhos uruguaios no mercado brasileiro são boas, pelo que, o trabalho de posicionamento neste mercado deverá continuar nos próximos anos.

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