Por Míriam Aguiar

 

Fiquei muito contente ao observar o quanto se vendeu e bebeu vinhos rosados no Festival de Gastronomia Fartura, que aconteceu recentemente em Belo Horizonte. Aberto ao grande público, o evento, realizado pela equipe que promove o Festival de Gastronomia de Tiradentes, foi um sucesso. Eu estava lá para uma palestra e pude verificar in loco o quanto se bebeu de vinho nas mesas e na loja montada pelo Supermercado Gourmet Verde Mar, que, sabiamente, incitava o consumo do vinho, expondo várias garrafas, refrescadas no gelo,  no centro do ambiente.  Não deu outra, o clima quente do final de semana foi aliviado por muitos espumantes e vinhos rosés, de distintas origens.

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O mundo do vinho é pautado pela diversidade. É isso que o torna instigante, curioso, pois tem sempre algo a ser experimentado e a nos surpreender. Quando iniciamos em sua descoberta, é comum buscarmos os tintos, que dominam o mercado e têm muitos produtos de destaque, mas basta um pouco de curiosidade e abertura para constatarmos que não há um modelo de vinho bom. Há vinhos de qualidade em quase todos os lugares, tipos e estilos ? basta descobri-los !

Rosé, rosado, rosato – há muito mais vinhos rosés do que se imagina. Anteriormente um pouco estigmatizado, como um produto menor, este vinho desponta agora com força em vários lugares do mundo. As estatísticas evidenciam: nos últimos 10 anos, a produção mundial dos rosados aumentou cerca de 15% e o consumo mais ainda. Nunca se fez tanto vinho rosé de qualidade, inclusive em regiões sem tradição nesse perfil de produto. O que explica esse fenômeno? Além de representar uma novidade, mais um passo na segmentação do mercado, o apuramento tecnológico abrange toda a cantina e muda de vez a impressão de que só há vinhos brancos e tintos de qualidade. Algumas regiões apostaram totalmente nessa possibilidade, como a Provence, onde 88% da produção de vinhos é cor de rosa.

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Outro motivo é a sua grande versatilidade: se adapta a climas quentes ou frios e pode ser harmonizado com uma enorme gama de pratos, desde os frugais a mais consistentes, basta observar se o prato solicita um rosado mais leve ou encorpado, mais seco ou frutado, mais neutro ou picante. Pois há vários tipos e tonalidades deste vinho que também nos seduz pelas suas belas cores.

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Rosa palha, cebola, salmão, pêssego, laranja, framboesa, cereja, groselha – essas são algumas das nuances dos rosados existentes no mercado. Três elementos determinam a cor do vinho rosé : a uva, o método de elaboração e a idade. Há vinhos rosés feitos das mais diferentes uvas, normalmente as mais dominantes em cada região. Na Itália, temos rosatos da sangiovese, montepulciano, negroamaro e, em Veneto, o Bardolino Chiaretto. Na Espanha, os rosados, feitos com a uva garnacha tinta, representam quase 40% da produção de Navarra e a pinot noir e a trepat dão origem a vários cavas rosados. Na Argentina, há rosés da malbec, no Chile, da cabernet sauvignon, na Califórnia, da zinfandel, em Portugal, de várias uvas autóctones e, no Brasil, temos assemblages de diferentes uvas.

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Na França, temos algumas regiões notórias pelos seus vinhos rosés,  como a Provence, onde ele tem um matiz mais claro, com vinhos delicados e frescos. A AOC Tavel produz um cru rosé de cor intensa, mais carnudo e gastronômico e, no Vale do Loire, faz-se o Rosé d’Anjou, um vinho bem frutado, feito da uva cabernet franc. Este tem sido também um grande investimento de Bordeaux nos últimos tempos. Várias regiões do mundo produzem espumantes rosados, que têm muita aceitação no mercado, unindo a bela cor rosa com as perlages, bem como os toques de frutas vermelhas com o frescor champenoise.

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A cor rosada se origina dos pigmentos presentes nas cascas das uvas tintas, assim como a cor rubi nos vinhos tintos, só que em menor quantidade. Para a extração desses pigmentos, existem dois métodos  mais utilizados: a prensagem leve e direta das uvas, que normalmente gera vinhos de cor mais clara e a maceração curta das uvas.  Este tem o mesmo princípio da maceração dos vinhos tintos, só que em período mais curto: o suco das uvas fica em contato com as cascas em reservatórios apropriados, com controle de temperatura, por um tempo que pode variar entre 6 e 24h. Em seguida, elimina-se o contato com a parte sólida e segue-se à elaboração do vinho rosé.

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Quanto maior o tempo de contato do suco da uva com a casca, mais concentração de cor, corpo e aromas típicos das variedades tintas. Além dos pigmentos, na casca estão os taninos, que dão estrutura aos vinhos tintos e que devem ser dosados para manter o frescor dos vinhos rosés. É ainda possível se fazer o vinho rosé pela mistura de vinho branco e tinto, processo menos utilizado atualmente, que normalmente dá origem a vinhos de qualidade inferior.

Normalmente, os vinhos rosés apresentam aromas de frutas frescas, de flores quando mais jovens e, com o tempo, vão adquirindo de frutas secas, geleias e especiarias.  A concentração de açúcar, as uvas que lhes dão origem e o tempo de maceração vão influenciar o seu sabor, bem como definir a sua longevidade. Em geral, assim como os vinhos brancos, o vinho rosado deve ser bebido mais jovem, entre 1 e 3 anos após sua elaboração e em temperaturas mais baixas, de 8° a 12°C.

Brut Rosé

Trata-se de um vinho bastante gastronômico: os mais delicados acompanham bem pratos à base de legumes, como o Ratatouille provençal e a comida japonesa, alguns mais picantes se casam muito bem com a cozinha tailandesa, marroquina, indiana e outros mais plenos de corpo podem tranquilamente fazer às vezes dos tintos jovens, acompanhando massas e pratos à base de carnes brancas e vermelhas menos gordurosas.

 

ALGUMAS SUGESTÕES DE BONS VINHOS ROSÉS

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CHÂTEAU SAINT HILAIRE ROSÉ TRADITION – Provence, França:  60% grenache e 40% syrah, vinho  que expressa bem o espírito do rose provençal, com coloração rosa palha, leve, fresco e de aromas delicados. Importado por  Premium.

Haedus Rosé

HAEDUS ROSÉ– Provence, França: grenache e cinsault predominam. Belo exemplar da Provence de cor pêssego, aromas florais, toques de cítricos maduros e frutas vermelhas. Château Ferry Lacombe faz um bom diálogo entre tradição e modernidade. Importado por Zahil.

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ROSÉ DE MARSANNAY DOMAINE CLAIR-DAU LOUIS JADOT 2009:Um rosé bourguignon cor salmão, 100% pinot noir, que combina delicadeza com personalidade. Importador por Mistral

Domaine de l'Hortus

BERGERIE DE L’HORTUS ROSÉ 2012 – Languedoc, França : 61% syrah, 23% mourvèdre e 16% grenache. O Domaine L’Hortus é um dos grandes destaques da modernidade do Languedoc, na AOP Pic Saint Loup. Este rosa pink, tem aromas de flores e frutas vermelhas, boa acidez e notas apimentadas em boca. Importado por Delacroix Vinhos.

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PRADOREY ROSADO FERMENTADO EM BARRICA 2011 – Ribeira del Duero, Espanha : 50% tempranillo e 50% merlot. Boa estrutura em boca e complexidade. Importado por : Decanter.

Gaillardia

DE MARTINO GALLARDIA DEL ITATA CINSAULT ROSÉ 2012 : Valle de Itata, Chile. É vivaz no paladar, com estrutura. Importado pela Decanter.

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ADOLFO LONA BRUT ROSÉ – Serra Gaúcha, RS, Brasil: 40% chardonnay e 60% pinot noir. Espumante campeão de vendas de Adolfo Lona. Bastante frutado, segundo ele, agrada o público feminino.

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VILLA FRANCIONI ROSÉ – Planalto Catarinense, SC, Brasil: O vinho rosado está muito presente na nova produção catarinense, chamada de Vinhos de Altitude. Este, feito pela conceituada Villa Francioni, uma das pioneiras da região, tem um corte amplo, de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Sangiovese, Syrah, Petit Verdot, Pinot Noir, Merlot e Malbec. Aromas de frutas e flores, com toques cítricos – intenso e longo.

 

Míriam Aguiar é pesquisadora do mercado de vinhos, com Doutorado na USP e Pós-doutorado na UMR Innovation Montpellier, autora de livro e artigos sobre o tema e editora do Blog "Os vinhos que a gente bebe"
Míriam Aguiar é pesquisadora do mercado de vinhos, com Doutorado na USP e Pós-doutorado na UMR Innovation Montpellier, autora de livro e artigos sobre o tema e editora do Blog “Os vinhos que a gente bebe”
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4 thoughts on “A sensualidade e versatilidade do vinho Rosé”

  1. Legal o olhar, Miriam. Acrescento uma ou duas coisinhas – o rosé é uma fórmula de lucratividade para quem produz tintos, porque vende bem – no Brasil, o caso da Villa Francioni é emblemático – é pode ter seu mosto usado para reforçar vinhos tintos sem a força tânica pretendida pelo enólogo…

  2. Vinho é uma palavra no singular que esconde um universo infinito; diversidade!
    Temos vinhos para todos os gostos e todos os bolsos nos mais variados estilos, e entre tantos os rosés que vem com força total neste Brasil Tropical! Sirva-se, prove e surpreenda-se com as delícias que vai encontrar!

  3. Oi, Miriam. Tudo bem? Gostaria de checar sobre o crescimento de produção de rosé no mundo. Você mencionou 15%. Poderia, por favor, informar a fonte? Estou fazendo uma pesquisa sobre esse tema. Obrigada! Beijos!

  4. Boa tarde, Ana! As fontes sao textos produzidos pelo CIVP (Conseil International de Provence), com varios, estatisticas e graficos sobre producao e consumo de roses no mundo. Caso tenha interesse, posso te enviar alguns dados. Fique a vontade para me escrever: flute.ec@gmail.com

    Abs, Miriam

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