Imagine num almoço entre amigos degustar: Catena Estiba Reservada 2005, Seña 2005, Tignanello 2008 e o “increíble” Valbuena 2007. Para encerrar, um Crasto Vintage Port 2004. Esse insólito almoço-degustação ocorreu no primeiro domingo do mês de dezembro de 2013. O local escolhido foi o Restaurante Poivre (inativo) comandado pelo experiente Pimentel (ex-Ca’d’Oro). Resumindo: oportunidade rara para degustar, entre amigos, vinhos que representam o melhor do que se produz na Argentina, Chile, Itália, Espanha e Portugal. Houve ganhador? Resposta: não, mas das pontuações abaixo o leitor poderá inferir qual foi o vinho que mais arrancou elogios, esclarecendo que a degustação não ocorreu às cegas. Participantes: Paulo Guerra Filho (Seña), Flávio Siqueira (Valbuena e Tignanello), este escriba (Catena Estiba e Crasto Vintage) e respectivas esposas.

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Os vinhos e os seus preços –

O que mais chamou atenção foi a evolução do preço do Catena Estiba Reservada (veja segunda foto abaixo): na safra 2005 custava US$ 139,50. Já na seguinte: 2006 seu preço saltou para US$ 399,50! O Seña também não fica atrás: custava R$ 348 na safra 2005 agora custa R$ 685 (safra 2009). Nos outros vinhos também verificamos aumentos, mas vamos ficar somente nos dois primeiros vinhos que são do Novo Mundo, que se notabilizou por oferecer bons vinhos por preços acessíveis……ledo engano! Mas vamos ao que importa: o desempenho dos vinhos, a seguir descritos e avaliados:

O Seña 2005 foi o primeiro. E não decepcionou!
O Seña 2005 foi o primeiro. E não decepcionou!

Seña 2005 – Álcool: 14,5% – Variedades: Cabernet Sauvignon (65%), Carménère (26%), Cabernet Franc (5%), Syrah (3%) e Merlot (1%) – importador: Expand – Preço: R$ 348 – catálogo da Expand (catálogo 02/2010) – pontuações:  WS 88/100 pts. e RP 93/100 pts. – preço atual: R$ 685 (safra 2009) – informa a Expand que: “Seña figura entre os melhores vinhos do Chile, tendo vencido inúmeros concursos internacionais e surpreendido em degustações às cegas, em que chegou a superar grandes tintos de Bordeaux. Suas constantes pontuações elevadas servem de confirmação incontestável de sua qualidade. Vinho servido em grandes ocasiões, degustações especiais e jantares glamourosos”. Análise organoléptica: sedutora cor vermelho-púrpura de tingir a taça, sem denunciar o peso de quase nove anos de sua safra. Aromas intensos e apetecíveis enfatizando frutas vermelhas e negras sobre um fundo balsâmico que pode ser compreendido como uma antecipação do que virá adiante: um tinto elegante, fluído e sobretudo fresco (ótima acidez). Taninos aveludados num conjunto de boa concentração, totalmente equilibrado. Trata-se de caldo moderno, de nítido acento chileno (o mentol característico dos bons Cabernets do Alto Maipo)  mas de nobre inspiração francesa (elegância). Quase guloso, muito persistente, amplo, deixa no fim de boca uma nota de fruta madura. Não há dúvida de que possui um grande potencial de guarda. Avaliação: 93/100 pts.++ 

 

O Catena Estiba Reservada 2005 custou US$ 139,50 na Mistral. Já a safra 2006 teve seu preço majorado para US$ 399,50. Alguém pode explicar o motivo desse aumento tão expressivo? Veja a evolução do preço desse vinho: safra 1997: US$ 62,50 – safra 2001: US$ 69,50 – safra 2004: US$ 119,50 – safra 2005: US$ 134,50 – US$ 197,50 e finalmente a safra 2006: US$ 399,50. A safra 2007 já está disponível no importador que ainda não divulgou o preço no site. 

DEGUSTAÇÃO –

Catena Estiba Reservada 2005 – Álcool: 13,5% – Variedades: Cabernet Sauvignon (79%), Viñedo “La Pirámide”, 33º latitude sul; altitude: 940 msnm – Cabernet Franc, Merlot, Malbec e Petit Verdot (21%), Viñedo “Adrianna”, 33º latitude sul altitude: 1.450 msnm. – importador: Mistral – preço: US$ 399,50 –  Já se passaram quase duas décadas desde seu nascimento e nesse lapso de tempo já são dezessete os Catena Estiba Reservada lançados no mercado. Este vinho nasceu com a firme intenção de ser quem realmente é: um dos grandes exemplares argentinos de todos os tempos. Nicolás Catena, membro de uma família bodegueira dedicada – como quase todos os produtores de então – aos vinhos massivos, viajou aos Estados Unidos ao final dos anos 1980 e se deu conta de que o futuro era outro. Assim foi que encarregou sua equipe de engenheiros agrônomos, liderados naquela época por Pedro Marchevsky, que baixassem os rendimentos das vinhas velhas de Cabernet Sauvignon que a sua família possuía. E junto do enólogo José Pepe Galante criaram o primeiro grande blend argentino com uma fórmula que se converteria nos anos seguintes num corte tradicional. Eles sabiam que a Cabernet Sauvignon seria  a base e assim foi as primeiras edições, mas logo descobriram que os blends poderiam ser mais complexos e elegantes se lhes incorporasse algo de Merlot. Contudo, ainda faltava alguma coisa, o toque argentino, esse aporte próprio e pessoal que nada poderia copiar…a Malbec. Assim, foram identificados lotes de melhor qualidade dentro dos vinhedos Catena. O cultivo e o cuidado manual dos ditos lotes permitiu identificar aquelas plantas que, de forma consistente, produzem a melhor fruta. Estas plantas são marcadas no vinhedo com uma fita vermelha, que indica o cuidado especial que se deve prestar às mesmas. Colhidas por separado, em diferentes momentos, as plantas “Zapata” conformam a origem do vinho Catena Zapata Estiba Reservada. Em cada colheita, as uvas são provenientes de uma seleção dos melhores vinhedos de altitude incluindo La Piramide em Agrelo, Domingo em Villa Bastias, Adrianna em Gualtallary e Angelica em  Lunlunta. O Catena Zapata Estiba Reservada 2005 (18 meses em carvalho francês 100% novo) exibiu na taça uma cor violácea profunda com tons vermelho-rubi. O nariz é medianamente intenso, complexas notas de cedro, licor de cassis e especiarias doces dão sofisticação ao conjunto de feição bordalesa. Na boca, uma entrada suave com taninos presentes ligeiramente adocicados, leva a um vinho rico, expansivo repleto de notas de chocolate e especiarias sobre um fundo de frutas vermelhas e negras. Álcool na medida certa (13,5%). Final longo e elegante, com grande sobrevida na garrafa, eis que ainda não está pronto, porque a madeira está em integração. Enfim, degustamos um legítimo Catena com toda sua potência, forte carga de madeira e expressão de fruta, tudo em harmonia, como esperado. Lembra, em alguns momentos,  um Gran Cru de St. Émilion. Avaliação: 92/100 pts.++

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QUATRO GRANDES TINTOS + PORTO VINTAGE

O Tignanello 2008 recebeu vários elogios!
O Tignanello 2008 recebeu vários elogios! Veja a evolução de seu preço: safra 1999 – R$ 249 – R$ 322 – safra 2001: R$ 345 – safra 2004: R$ 398 – R$ 480 –  safra 2008: R$ 368 e safra 2010: R$ 467 – R$ 490

Tignanello é um dos vinhos “supertoscanos” originais, emblemáticos, produzido exclusivamente no vinhedo homônimo, uma área de 47 hectares de pedra calcária e marga voltada de exposição Sul, plantada entre 350 e 400 metros acima do nível do mar na propriedade Toscana de Santa Cristina de Antinori. O Tignanello era, originalmente, um Chianti Classico Riserva chamado Vigneto Tignanello, mas foi primeiro produzido como um vinho de vinhedo único em 1970, quando ainda continha as tradicionais uvas brancas toscanas Canaiolo, Trebbiano e Malvasia. Em 1971 saiu da DOCG Chianti Clássico. A partir da safra 1975, as uvas brancas retromencionadas foram totalmente eliminadas. O Tignanello Toscana IGT (2008) é sempre composto das seguintes variedades: Sangiovese (80%), Cabernet Sauvignon (15%) e Cabernet Franc (5%). Amadurecido 12 meses em barricas de carvalho francês (aliás foi o primeiro vinho toscano a ser amadurecido em barricas francesas, assegura o produtor) e afinado 12 meses em garrafa. Preço no Brasil – R$ 490 – safra 2008 (92/100 pts. WS e 94/100 pts.  WA-RP, 94/100 pts. WE, 94/100 pts. Antonio Galloni, 93/100 pts. James Suckling). Na taça, exibiu cor vermelho-rubi intenso com reflexo violáceo. No nariz é frutado e intenso, com as apetecíveis notas frutadas da Cabernet sobressaindo, conferindo ao vinho uma elegância ímpar. Na boca apresenta os taninos imponentes da Sangiovese suavizados pela fruta da Cabernet. Álcool integrado (13,5%). Solidamente estruturado, com camadas sobre camadas de sabores, é um vinho delicioso que confirma as altas pontuações da abalizada crítica internacional. Seu final é bastante longo e remete o degustador às sensações gustativas iniciais. Um vinho hedonista, emblemático para ser bebido entre 10 a 15 anos, mas é inegável que seu perfil moderno possibilita que já possa ser desfrutado. Avaliação: 94/100 pts.++

O Valbuena foi o preferido de todos por unanimidade. E o melhor: j´pode ser desfrutado porque não pede tempo na garrafa!
O Valbuena 2007  foi o preferido de todos por unanimidade. E o melhor: já pode ser desfrutado porque já está pronto para o copo! Uma curiosidade. A safra 2006 está por US$ 415 na Mistral. Veja a evolução de seu preço: 1999 – US$ 219,50 – 2002: US$ 319,50 – 2003: US$ 364 – 2004: US$ 389 – 2005: US$ 399,50 – 2006: US$ 415

O tinto espanhol Valbuena tem um amadurecimento mais curto do que o Vega Sicilia Único. Trata-se de um vinho que procede de vinhas mais jovens e em sua composição, se encontra majoritariamente Tempranillo e mais Merlot do que Cabernet Sauvignon (O blend pode variar significativamente em termos de proporções de cada variedade utilizada, estilos de vinificação e  métodos de maturação de acordo com a safra; este já obteve as seguintes pontuações: Guia Peñin 96/100 pts., Stephen Tanzer 93/100 pts, Jancis Robinson 15,5/20 pts. – Bebível entre 2013-2020).  Tem de seu irmão maior a cor cereja granada com reflexo alaranjado, a expressão etérea de sua graduação alcoólica e o acento de sua excelente evolução oxidativa, fruto de carvalho bem curtido, traço característico dos tintos Vega Sicilia. De sua própria personalidade destaca os traços de suas variedades, com um matiz de frutas vermelhas maduras. Na boca, tem uma estrutura mais magra do que o Vega Sicilia Único mas com a complexidade da associação vinosa-frutada. A descrição retro é do livro “1001 vinhos para beber antes de morrer”, a qual acrescentamos o seguinte:  a cor deste Valbuena 2007 era cereja granada profundo. Aromas inebriantes de frutas vermelhas frescas mescladas com baunilha, tabaco sobre um fundo mentolado. Na boca taninos volumosos, de textura finíssima suportados por excelente acidez que desde o começo provocou intensa salivação no paladar. Álcool integrado. Largo e profundo no meio de boa, seu final  é de longuíssima persistência e deixa um rastro de frutas vermelhas. Hedonista, elegante e delicioso! Avaliação: 95/100 pts.++

 

 

Quinta do Crasto Vintage Port 2004 – álcool: 20% – importador: Qualimpor – preço médio: R$ 330 – informa o importador que: ” mantendo a tradição de muitos anos, continuamos a pisar as uvas nos velhos lagares de pedra, selecionando as melhores uvas das vinhas velhas (média de 60 anos). São vinhos engarrafados sem filtração após dois anos de estágio em madeira de Carvalho Português. Têm uma cor muito escura, quase opaca e aromas intensos a fruta muito madura, o que os torna muito complexos e persistentes com uma notável longevidade”. Análise organoléptica daquele que é apontado pela crítica como um dos melhores Porto Vintage de Portugal: violáceo profundo. Notas copiosas de frutas vermelhas e negras maduras: amoras, figo e ameixas com ampla sustentação na taça. No paladar, taninos presentes de textura fina resultando num conjunto de grande firmeza, elegância, profundidade e volume. Denso, concentrado, largo, expansivo, aqui a protagonista é a fruta, que permite que se possa desfrutar deste Vintage ainda jovem. O resultado final é um vinho complexo, persistente e fresco, o que faz prever uma notável longevidade em adega, preferencialmente climatizada para que sua evolução seja lenta e gradual. Avaliação: 93/100 pts.++

Para encerrar a degustação um Porto Vintage: Quinta do Crasto 2004
Para encerrar a degustação um Porto Vintage: Quinta do Crasto 2004

 

Fontes: http://imagine.vinotecaligier.com/ catálogos importadoras Expand e Mistral, livro “1001 vinhos para beber antes de morrer”.

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4 thoughts on “Cinco grandes tintos no encerramento de 2013: Catena Estiba Reservada 2005, Seña 2005, Valbuena 2007, Tignanello 2008 e Crasto Vintage 2004”

  1. Jeriel,

    Estive pequisando sobre os vinhos Catena Zapata Estiba Agrelo e descobri o por que da diferença absurda de preços das safras, principalmente a partir da safra 2006.

    O motivo deste rótulo ter tido seu preço extremamente elevado foi o fato dos chineses terem apreciado muitíssimo ao ponto de terem leiloado algumas poucas garrafas de uma safra antiga por US$ 25.000/unid.
    A partir da safra 2005 a Catena direcionou a maioria da sua produção para o mercado chinês, ficando uma quantidade muito pequena para os demais paises, como o Brasil por exemplo.

    Grande Abraço!

  2. eu tenho um quinta do castro 2005 – hoje ja em 2016! ele tem cerca de 10 ano ja.
    ta guardado , que ver esse comentaria e for de são paulo ou mesmo tiver interesse , eu vendo minha garrafa de vinho, 11 959689534

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