A Wines of Argentina promoveu, em São Paulo, no dia 13.08.2019,  “Argentina Tasting Experience 2019” com uma prova de vinhos denominada “A Revolução dos Brancos Argentinos”. O evento contou com a presença de alguns dos maiores enólogos do país, como: Alejandro Vigil (El Enemigo/Catena), Edy Del Pópolo (Susana Balbo Wines), David Bonomi (Norton), Sebastian Zuccardi (Zuccardi Valle de Uco), Alejandro Sehanovich (Manos Negras/Tinto Negro). Para a ocasião, os enólogos escolheram diversos rótulos de autoria deles e de outras vinícolas, vinhos considerados os melhores para ilustrar bem cada tema apresentado. Foram três temas que mostraram a enorme revolução nos brancos argentinos, que estão tendo cada vez mais espaço nas vinícolas, a versatilidade de diversos Malbecs e a procura dos enólogos por diferentes vinhos que expressem os terroirs e as novas regiões de cultivo na Argentina que estão surgindo, saindo das zonas tradicionais. O evento foi uma oportunidade única para entender e se atualizar sobre as mudanças e tendências (do vinho argentino), contada por alguns dos mais competentes nomes da enologia do país vizinho. Por fim, informo que participamos da palestra “A Revolução dos Brancos Argentinos”. A seguir nossas impressões dos quinze vinhos degustados:

01. Norton Perdriel Sauvignon Blanc 2018 – Álcool: 12,5% – Palha claro. Aberto nos aromas – uma forte nota vegetal domina o conjunto. No paladar mostrou-se denso e concentrado e sua concentração de sabor remete diretamente aos cânones da variedade. Termina persistente, macio, fresco, podendo ser considerado uma referência na Argentina.  Avaliação: 89-90/100 pts.

Zaha Sémillon – Blogdojeriel.jpg

02. Zaha La Consulta Sémillon 2018 – Palha claro. Os aromas são típicos: notas florais, cítricas e mel. Na boca tem corpo médio e a passagem de sete meses em carvalho francês nem se percebe. Leve acento mineral. Termina macio, persistente, sem amargor (que às vezes aparece na Sémillon). Avaliação: 89/100 pts.

Riccitelli Sémillon – Blogdojeriel.jpg

03. Riccitelli Old Vines from Patagonia Semillón 2018 – Viñas Viejas de Patagonia – amarelo-palha. Aberto, intenso e complexo nos aromas: exuberantes notas florais, cítricas e minerais sobre um fundo de especiarias doces. Na boca mostrou-se untuoso e fresco, com várias camadas de sabor revezando-se entre si: fruta (limão siciliano, damasco e frutas de caroço) e mineralidade na medida certa. Chama atenção por sua concentração de sabor, profundidade, cremosidade e mineralidade. Outro destaque é o frescor. Termina persistente. Extraordinária tipicidade na Argentina. Deve crescer à mesa. Avaliação: 94/100 pts.

El Enemigo Semillón – o que foi degustado é da safra 2017 – Blogdojeriel.jpg

04. El Enemigo Semillón Agrelo 2017 – projeto de Alejandro Vigil, não obstante o excelente manejo da variedade pela Catena, o talentoso Vigil pode ser apontado como verdadeiro “pai” da Cabernet Franc na Argentina.  Mas aqui estamos a falar da Semillón, portanto, vamos a ela: na taça um branco de cor amarelo-palha. Nos aromas o floral típico, leve cítrico com boa sustentação sobre uma recordação de favo de mel. Paladar no mesmo diapasão, denso, fresco e mineral. Termina com sútil amargor cítrico que não incomoda, mas a persistência final é boa. Avaliação: 89/100 pts.

Luigi Bosca Riesling 2018 exibiu boa tipicidade – Blogdojeriel.jpg

05. Luigi Bosca Riesling Las Compuertas 2018 – Palha claro. Aromas intensos, com destaque para notas minerais (querosene) e cítricas. Na boca tem volume e leve mineralidade. Termina cítrico com média-longa persistência. A tipicidade, de fato, se destaca. Avaliação: 89-90/100 pts.

Rutini Gewürztraminer 2018 – Blogdojeriel.jpg

06. Rutini Gewürztraminer 2018 – Álcool: 14% – Região: Vale de Uco/Tupungato – amarelo-palha intenso. Nos aromas a tradicional nota floral (jasmim) e lichia emolduradas por discreta baunilha. Boca de médio corpo, acidez conferindo delicadeza ao conjunto que é equilibrado, de razoável persistência, boa tipicidade, sem amargor e medianamente fresco. Avaliação: 90/100 pts.

Um excelente Torrontés – Blogdojeriel.jpg

07. Susana Balbo Signature Torrontés Barrel Fermented Uco 2018 – Palha brilhante. Aromas abertos, intensos e complexos com tons florais (rosas), pêssego e especiarias doces com ampla sustentação. No paladar é um branco macio, dotado de acidez (frescor) bem acima da média para um Torrontés. Amplo, gordo, concentrado, termina com longa persistência. Uma delícia! Avaliação: 92/100 pts.

08. Amalaya Blanco de Corte 2018 – Região: Salta – Variedades: Torrontés e Riesling  – amarelo-palha com  reflexo esverdeado. A Torrontés é uma variedade terpênica (aromática) e isto logo se nota na paleta de aromas com jasmim, rosas, frutas de polpa branca (lichia e fruta do conde) e cítricas. Na boca é leve, macio, mineral, fresco, com persistência média/longa. Pede comida. Avaliação: 90/100 pts.

09. Norton Altura Blend 2018 – Álcool: 13% – Região: Vale de Uco – Variedades: Sauvignon Blanc (50%), Sémillon (30%) e Grüner Veltliner (20%) – Um dos destaques da degustação. A última variedade não existia na Argentina, até ser registrada no Instituto Nacional de Vitivinicultura Argentino pelo Enólogo David Bonomi, da Bodega Norton. É austríaca (país de origem dos proprietários da vinícola), de clima frio. O vinho estagia seis meses em barrica de aço inoxidável antes de seu lançamento. Análise organoléptica: na taça um branco de cor amarelo-palha com reflexo verdeal. Aroma floral intenso, seguido por fruta de polpa branca sobre apontamentos cítricos e vegetais. Paladar fino, elegante, acidez delicada, corpo pleno marcado pela harmonia e pela fruta. Termina equilibrado e persistente. Avaliação: 92/100 pts.

Matervini é um blend de brancas à moda do Rhône que vem fazendo sucesso na América do Sul – Blogdojeriel.jpg

10. Matervini Blend Blanco 2017 – Álcool: 14,1% – Região: Chacayes/Vale de Uco – Variedades: Roussanne, Marsanne e Viognier – palha na transição para dourado. Aromas complexos – cítrico maduro, mel sobre frutas cristalizadas. No paladar sua entrada revelou um branco volumoso, de sólida estrutura, viscoso, de grande concentração de sabor sem perder de vista a delicadeza. Seu estilo remete aos grandes brancos do Rhône, elegantes e longevos. Termina com longa persistência. Avaliação: 93/100 pts.+

Susana Balbo Signature White Blend 2018 –          Blogdojeriel.jpg

11. Susana Balbo Signature White Blend 2018 – Álcool: 13,5% – Variedades: Sauvignon Blanc  (34%), Torrontés (33%) e Sémillon (33%) – Região: Altamira/Vale de Uco – Palha verdeal brilhante. Aromas pouco intensos – notas florais e cítricas com média sustentação. Paladar delicado mas pouco concentrado. Leves notas de baunilha (o vinho estagia durante quatro meses em barricas de carvalho francês – 60% de primeiro uso e 40% de segundo uso) para lembrar que passa por madeira. Enfim, no paladar é um branco menos complexo do que se supõe. Termina macio, sem amargor. Avaliação: 89/100 pts.

12. Zuccardi Q Chardonnay Vale de Uco 2016 – amarelo-palha com reflexo na transição para dourado. Aromas florais, frutas brancas e cítricas sobre um fundo caramelado. No paladar decepcionou um pouco, principalmente pela falta de frescor. Mas tem fruta (sobremadura) e mineralidade que lhe conferem alguma personalidade, mas seu estilo “barricado” começa a dar sinais de cansaço, eis que Zuccardi tem outras opções mais interessantes no seu amplo portfólio. Avaliação: 87/100 pts.

Vivo o Muerto é um belíssimo Chardonnay – Blogdojeriel.jpg

13. Buscado Vivo o Muerto Chardonnay Las Pareditas 2017 – Álcool: 13% – Região: Vale de Uco – Los Arboles/Pareditas/Gualtallary e San Pablo – Palha claro com reflexo esverdeado. Aberto e muito fino nos aromas com destaque para maçã verde, fruta de polpa branca, pinceladas cítricas e minerais entrelaçadas harmonicamente num branco marcado pela vivacidade e equilíbrio. Macio, gostoso de beber, delicado, seu estilo passa bem longe dos Chardonnays pesados, alcoólicos e encharcados de madeira….aqui, o que se observa é o minimalismo e a procura por uma expressão varietal que seja fiel ao lugar de onde vem as uvas. E, parece que o produtor conseguiu. Um dos brancos mais refinados do painel! Avaliação: 93/100 pts.

O Zuccardi Fósil Chardonnay 2017 tem preço de R$ 599,00 na Grand Cru -BlogdoJeriel.jpg

14. Zuccardi Fósil Chardonnay 2017 – Região: Vale de Uco – Originado dos solos aluviais no vilarejo de San Pablo, fermentado em tanques de concreto e barris de carvalho com leveduras indígenas e depois mantido em contato com as borras (“sur lie”). Na taça um opulento Chardonnay de cor amarelo-palha intenso, nariz aberto entregando a origem novomundista (muita fruta cítrica madura), toques florais e uma mineralidade que destaca, fortalece e dá sofisticação ao conjunto. Tudo isso confirmado no paladar, fresco, equilibrado, sem arestas. A acidez além de delicada é refrescante e o vinho apresenta muito volume de boca. Tem sólida estrutura e longa persistência. Avaliação: 91/100 pts.+

15. Catena Adrianna Vineyards White Bones 2015 – Álcool: Preço: R$ 647,42 – Catena sempre foi sinônimo de bons Chardonnays. Que o diga o Alamos, entry-level, que na safra 2017 obteve 91/100 pts. do benevolente James Suckling. É do tipo “best value for money”. Mas este daqui custa quase nove vezes mais….e se não é nove vezes superior ao menos consegue justificar o motivo pelo qual dividiu o pódio (Riccitelli Sémillon) de melhor dos quinze brancos degustados e, seguramente, pode ser apontado consistentemente como o melhor branco argentino. Vamos a ele: palha esverdeado límpido e brilhante. Aberto, muito apetecível nos múltiplos aromas de pêssego, carambola e abacaxi sobre um fundo mineral. No paladar a sua entrada é gentil, elegante e macia, provocando intensa salivação. Tem uma enorme concentração, é mineral e frutado, do tipo que se agiganta após cada minuto. Muito fresco, tem qualidade de sobra. Tenho absoluta certeza que se for colocado diante de seus congêneres europeus (notadamente Borgonha) e do Novo Mundo (África do Sul, Austrália, Chile, Califórnia e Nova Zelândia) não irá se intimidar! Um Chardonnay como poucos. Avaliação: 94/100 pts.++

CONCLUSÃO –

Até pouco tempo apenas duas variedades brancas se destacavam na Argentina: Chardonnay e Torrontés. Em segundo plano Sauvignon Blanc, Chenin Blanc e Viognier. Vamos ficar com as duas principais por enquanto. Os Chardonnays eram muito parecidos entre si (alcoólicos, super-extraídos e pesadões) salvo um ou outro produtor de destaque. Com a Torrontés não era diferente: variedade terpênica (há três na Argentina: Mendocino, Saltenho e Riojano), normalmente de aromas exuberantes mas contrastantes no paladar pouco fresco e amargo. Aos poucos esse panorama  foi se modificando, principalmente com incremento da vitivinicultura no Vale de Uco. Assim hoje temos outro panorama. Se a Chardonnay continua a se destacar é porque os vinhos acompanharam essa evolução. Beneficiados pelo clima frio, pelo solo e pela amplitude térmica, são elegantes, frescos, balanceados, fáceis de beber e o principal: típicos. A Torrontés também progrediu muito. Cito apenas como exemplo os produzidos por Susana Balbo, que em todos os níveis elabora vinhos exemplares, representativos do nível de qualidade a que se pode chegar com essa variedade. Na degustação o varietal se destacou. Todavia, o grande destaque ficou para a diversidade de estilos e de variedades apresentadas: Riesling, Gewürztraminer, Marsanne, Roussanne, Viognier, Sauvignon Blanc, Grüner-Veltiviner e aquela que dividiu o pódio com a Chardonnay: Sémillon. Na degustação, três varietais e dois blends confirmaram o amplo horizonte de crescimento dessa variedade, que certamente ensejará a produção de vinhos que vão disputar espaço nas prateleiras de lojas e supermercados com as onipresentes Chardonnay e Torrontés. A nossa torcida é para que ao lado da Cabernet Franc, a Sémillon que tanto sucesso faz em Bordeaux, África do Sul e Austrália, ressurja na Argentina da mesma forma que vem ganhando espaço no Chile. Essa variedade até na Serra Gaúcha já foi cultivada gerando vinhos correntes de preços acessíveis (Baron de Lantier). Enfim, a degustação revelou novidades, mostrou que a Argentina apesar do terceiro lugar no mercado brasileiro têm um pequeno grupo de produtores de grande dinamismo que vão continuar a apresentar novidades, eis que o país austral tem uma diversidades de terroirs que não pode ser desprezada, o que não deixa de ser uma boa notícia: a produção vitivinícola Argentina se move para frente e para o alto!

 

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2 thoughts on “Argentina Tasting Experience 2019 – A Revolução dos Brancos Argentinos”

  1. Bem interessante a sua análise. Dos brancos que provei, suas conclusões estão próximas das minhas. Vamos aos brancos.

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