Pode parecer um pouco contraditório o título deste post, mas a verdade é que um dos principais tintos chilenos – o Don Melchor – um Cabernet Sauvignon de alta qualidade produzido em Pirque, nas cercanias da cidade de Santiago do Chile, está diferente nesta nova safra que acaba de chegar ao mercado brasileiro – 2012. Quando afirmamos que o vinho chega “pronto” é porque já está em condições de ser bebido sem ter que esperar alguns pares de anos para fazê-lo, como normalmente ocorre. Segundo o Enólogo Enrique Tirado, que esteve em São Paulo no último dia 11 de agosto para lançamento da safra 2012, o Don Melchor é um vinho que pode desenvolver-se na garrafa por até 25 anos.
A safra 2012, segundo Enrique, foi um pouco mais quente do que o habitual, o que fez com que a fruta aflorasse com mais intensidade. Aliás, o enólogo fez um pequena digressão sobre as safras mais recentes a contar de 2010:
2016 – ano chuvoso (chovei muito forte durante três dias, fato incomum no Maipo)
2015 – ano frio
2014 – ano normal
2013 – ano frio
2012 – ano quente
2011 – ano muito frio
2010 – ano frio
Enrique didaticamente explicou que o vinho é uma mescla de diferentes vinhedos (127 hectares divididos em 7 parcelas) de Cabernet Sauvignon (90% dos vinhedos) cujas idades variam entre 30 a 35 anos de idade. Variedades como Merlot e Petit Verdot (respectivamente 2% e 1%) foram plantadas em 2006. A Cabernet Franc (7% dos vinhedos), uma variedade sempre presente no Don Melchor por aportar elegância suavizando os taninos da Cabernet Sauvignon, foi introduzida em 1999
Petit Verdot no Don Melchor –
A Petit Verdot é uma variedade que encanta muito mais os enólogos do que os consumidores, mas se for utilizada com parcimônia seus resultados são positivos. Ao menos é assim que ocorre com os vinhos de Bordeaux, notadamente os da margem esquerda. Nesse diapasão, Enrique Tirado salientou que optou por acrescentar 1% dessa variedade no Don Melchor 2015 – um vinho “fantástico” que ainda não chegou ao mercado – eis que ela “ajuda a levantar o vinho”, ao passo que a Cabernet Franc desempenha um papel muito parecido com o da Merlot (a primeira dá elegância e a segunda fruta + elegância).
Mais detalhes sobre a safra 2012 –
Em linhas gerais Enrique Tirado asseverou que nessa safra, a produção foi menor e os cachos amadureceram mais cedo do que o habitual e que seu tamanho foi menor: 70-80 gramas contra 95/100 gramas.
O desempenho do Don Melchor 2012 na taça –
Origem: Chile – Região: Puente Alto/Maipo – Safra: 2012 – Álcool: 14,5% – Variedades: Cabernet Sauvignon (93%) e Cabernet Franc (7%) – preço sugerido: R$ 579,00 – importador: VCT Brasil – 15 meses em barrica francesa 71% de primeiro uso e 29% de segundo uso – O Don Melchor chega a vigésima sexta safra exibindo características que o identificam como um confiável Cabernet Sauvignon chileno, num estilo um pouco diferente do que os anteriores como se verá adiante, mas sem perder sua identidade. Recebeu 91/100 pts. da Wine Advocate de Robert Parker, 95/100 pts. da Wine Expectator, 92/100 pts. da Wine Enthusiast, 98/100 de James Suckling e 17.5/20 pts. de Jancis Robinson.
Análise organoléptica: vermelho-rubi intenso, profundo, quase retinto, halo púrpura. Nariz de média intensidade com a fruta saltando na frente secundada por notas balsâmicas, licor de cassis, café, chocolate sobre um fundo de especiarias. Na boca leve adstringência num tinto de boa expressão de fruta cheio de energia e vibração. Álcool generoso vincando sua personalidade, acidez, fruta e madeira integrados. Não tem a profundidade das safras anteriores, mas leva a vantagem de já estar pronto para beber. Nesse sentido, Enrique disse que pode ser decantado no máximo por vinte minutos. Enfim, o Don Melchor 2012 já pode ser desfrutado por conta de seu balanço, frescor e vivacidade. Essa leve mudança ocorreu mais por características da safra do que por opção do enólogo, eis que se trata de um Cabernet Sauvignon de alta gama cuja longa sobrevida está garantida. Curiosamente nesta safra tivemos a mesma proporção de uma das melhores safras do Don Melchor, a de 1999, quando verificamos 93% de Cabernet Sauvignon complementados por 7% de Cabernet Franc. Beber já ou guardar. Avaliação: 93/100 pts.++
A sempre coerente avaliação de Jancis Robinson: “Tasting note: 7% Cabernet Franc. Picked at the beginning of April. Rather hotter and drier than usual. Rather elixir-like. Very rich, sweet nose. Note of tea leaf but mainly very fruity with some still-chewy tannins and just a hint of leafiness. Big and bold. Velvety. (21-Oct-2015)”